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Empresas portuguesas revelam estratégias para enfrentar problema da saúde mental

AON, Teleperformance e Zurich Portugal explicam ao Jornal Económico as suas estratégias de combate à saúde mental. O problema fere de morte a motivação e a produtividade e está a alastrar com a pandemia e o teletrabalho em grande escala.
19 Junho 2021, 13h58

A saúde mental dos trabalhadores portugueses está a deteriorar-se com a pandemia e o contexto de teletrabalho em grande escala. O estudo “Rising Resilient Report”, realizado pela Aon, revela que, apesar das empresas estarem a trabalhar cada vez mais em estratégias de saúde e bem-estar, essenciais para atingir a resiliência, apenas 32% dos colaboradores são, de facto, resilientes. A falta de resiliência reflete-se, sobretudo, em três fatores: sensação de insegurança no trabalho (42%);  falta de sentimento de pertença à organização (55%); e falta de motivação para o trabalhador atingir todo o seu potencial (52%).

A saúde mental impacta diretamente a atividade das empresas ao nível da quebra da produtividade, da motivação da sua força de trabalho e da rotatividade de colaboradores. O Jornal Económico questionou a AON, Teleperformance Portugal e  Zurich Portugal sobre as suas estratégias para combater o problema: Perante a volatilidade que a nossa sociedade atravessa, de que forma a força de trabalho pode ser afetada ao nível da saúde mental? Qual o impacto que a saúde mental pode trazer ao negócio? Eis as respostas.

 

Nuno Oliveira, diretor de Recursos Humanos da Zurich Portugal

A saúde mental é um tema premente na atualidade, seja nas organizações públicas ou privadas, seja no seio das famílias. Como impacta fortemente os recursos que trazem sucesso ao negócio e prosperidade à sociedade, seria um erro as organizações descurarem este tema.

Apesar das contingências pandémicas terem vindo acelerar esta preocupação, a jornada da saúde mental e bem-estar da Zurich começou em 2016, com o lançamento do PAC – Programa de Apoio aos Colaboradores, que permite o acesso a profissionais qualificados que dão suporte às nossas pessoas e às suas famílias nas vertentes pessoal e de desenvolvimento, jurídica e financeira. Desde então, temos vindo a implementar, de dois em dois anos, estudos de avaliação de Riscos Psicossociais que nos dão indicadores fundamentais para traçar as prioridades e desenvolver políticas que nos ajudem a cuidar das nossas pessoas e respetivas famílias.

O plano de ação que desenhámos ao longo destes anos contempla programas que têm como foco a prevenção, o equilíbrio, a saúde e o bem-estar de todos os nossos colaboradores e seus familiares. O #BeHealthy, o #BeBalanced e o #BeConnected – este último implementado em abril de 2020, para fazer face à pandemia – são exemplos de programas que potenciam um conjunto de experiências emocionalmente positivas para os colaboradores, ao mesmo tempo que garantem um melhor equilíbrio entre as exigências profissionais, pessoais e familiares.

Ao desenvolvermos ações vocacionadas para o bem-estar das nossas pessoas, estamos a apoiá-las para assegurarmos o equilíbrio necessário entre a gestão do trabalho, a gestão familiar e os passatempos, promovendo condições para sermos todos mais felizes. Todo o nosso foco no bem-estar dos colaboradores implica também a promoção de uma cultura organizacional que potencie o desenvolvimento contínuo e crie um ambiente de segurança psicológica que estimule as nossas pessoas e as prepare para as atuais circunstâncias e para as necessidades emergentes futuras.

No contexto de mudanças disruptivas que vivemos, temos procurado, mais do que nunca, dar resposta às necessidades cognitivas e emocionais dos colaboradores. O impacto desta vertente no negócio é evidente, uma vez que a capacitação das equipas, e de cada colaborador em particular, permite que, equipas e pessoas, alcancem o seu máximo potencial e possam desfrutar do seu trabalho. Atualmente, a nossa prioridade consiste em tornar os modelos de trabalho mais robustos e consistentes, para que os possamos prolongar para além da pandemia. O nosso compromisso com a sustentabilidade no trabalho e com a saúde mental passa, também, pelo desenvolvimento e requalificação das competências dos colaboradores, com base numa aprendizagem contínua e orientada para a realidade que vivemos e para as competências do futuro. A flexibilidade e adaptabilidade, o trabalho colaborativo, a criatividade e a inovação – competências que têm sido alvo do nosso estímulo e incentivo – permitem aumentar a robustez e resiliência das nossas equipas, tornando-as mais ágeis, próximas, comprometidas e motivadas para continuar a conduzir a Zurich ao sucesso.

A saúde mental tem impacto direto na performance, dedicação, compromisso e perseverança das nossas pessoas, mas uma vez que estas mesmas pessoas nos têm dado inúmeras provas de resiliência e capacidade de adaptação, continuamos a encarar o futuro com muito otimismo e confiança.

 

 

Vera Oliveira, Employee Suport Manager na Teleperformance Portugal

1 É cada vez mais reconhecido que a saúde mental dos colaboradores é uma parte crucial na saúde geral, e que uma saúde mental deficiente, aliada aos fatores stressantes no local de trabalho, será decisiva para o aparecimento de inúmeras doenças físicas. Além disso, problemas de saúde mental também podem levar ao esgotamento dos colaboradores, afetando a sua capacidade de contribuir significativamente nas suas vidas pessoais e profissionais.

Na Teleperformance Portugal, consideramos cada vez mais importante falar sobre temas relacionados com a saúde mental dos colaboradores, e simultaneamente, apoiar e organizar iniciativas que visam melhorar a saúde global das nossas pessoas. Temos um quadro de iniciativas com o objetivo de melhorar a saúde mental e o bem-estar dos nossos colegas, dos quais podemos destacar a oferta (comparticipada a 100% pela empresa) de alimentos saudáveis (fruta do dia, sopa de legumes, salada e pão do dia) nas nossas cantinas, atividades sociais e desportivas ao ar livre (como surf e soft trekking) e apoio psicológico aos colaboradores, com cerca de 1500 consultas psicológicas e aproximadamente 4300 consultas de saúde ocupacional (números de 2020).

E por falar em 2020… que ano atípico foi! Vivenciando uma nova realidade, sentimos a necessidade de reforçar os nossos pilares de bem-estar, dando aos colaboradores a oportunidade de participarem em ações de saúde ao longo de 2021, com especial foco na saúde mental. Entre outras iniciativas (algumas delas adaptadas do modelo face-to-face), faremos webinars mensais sobre tópicos como depressão, mindfulness (com alguns workshops de exercícios anexados), gestão de ansiedade e culinária saudável.

2 Os problemas de saúde mental têm impacto negativo direto na vida pessoal e profissional dos colaboradores e consequentemente nas empresas onde os mesmos colaboram, seja através do aumento do absentismo (faltas por doença), ou através do decréscimo na produtividade derivado do erro humano, de efeitos psicológicos como a ansiedade, depressão e perda de concentração. Como tal, a existência de um plano dedicado à saúde mental, que contemple medidas de prevenção, de monitorização dos primeiros sintomas e de acompanhamento dos problemas diagnosticados, será crucial para o sucesso de qualquer empresa.

 

Joana Brito, HR Solutions Senior Associate da AON Portugal

O conceito de saúde mental está intimamente ligado à resiliência de uma força de trabalho, que é nada mais nada menos do que a capacidade que cada colaborador tem de se adaptar a situações adversas, de gerir o stress e de manter-se motivado. Com a escalada da pandemia de Covid-19 há um ano, foi possível verificar que a maioria das organizações não estava ainda preparada para responder e se adaptar ao cenário imposto pelo risco pandémico, fator que colocou em causa a resiliência dos colaboradores e, por sua vez, despoletou um conjunto de riscos que não só impactaram o seu bem-estar emocional, como outros quatro pilares essenciais para a construção da resiliência – físico, social, profissional e financeiro.

Ao nível da saúde mental, os efeitos da pandemia estão ainda a sentir-se, nomeadamente pela pressão que o modelo de trabalho remoto está a exercer em cada colaborador, quer pelas medidas que restringem o contacto social – tão importante no trabalho em equipa e, mais do que isso, para a manutenção do nosso bem-estar emocional – quer pela dificuldade em “desligar” completamente do trabalho após o horário de trabalho, ou até mesmo pela dificuldade de gerir esse mesmo trabalho num contexto em que, para muitos, é ainda preciso tomar conta dos filhos em telescola. A tudo isto junta-se ainda a insegurança sentida pelos colaboradores, com os inquiridos do relatório Rising Resilient da Aon a apontar para o ambiente económico (42%) e os fatores controlados pelo empregador (50%) como os principais motivos de insegurança no trabalho.

No seu conjunto, estes fatores estão a desencadear não só uma quebra na segurança, motivação e sentido de propósito de cada colaborador, como também estão a levar a um crescente número de casos reportados com problemas de saúde associados ao trabalho, tais como ansiedade, depressão e até mesmo burnout. Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualquer ambiente de trabalho negativo poderá conduzir a um baixo nível de bem-estar emocional e, consequentemente a problemas de saúde física e mental, estimando-se que cerca de 13% dos dias de ausência de cada colaborador devido a situações de doença esteja relacionado com condições ligadas à sua saúde mental.

Não menos importante, todo este cenário, juntamente a um claro desinvestimento na promoção da resiliência da força de trabalho, traz igualmente consequência de elevado impacto para as organizações, nomeadamente baixos níveis de produtividade, menor qualidade do trabalho desempenhado, dificuldades na captação e retenção de talento, e também incapacidade para gerir a motivação dos colaboradores, que poderá gerar um aumento das taxas de turnover, absentismo e presentismo.

No total, a OMS estima que um nível de saúde emocional deficitário possa custar globalmente perto de 1 trilião de dólares a cada ano em perdas de produtividade, o que demonstra a real necessidade de as empresas investirem em estratégias holísticas de promoção da resiliência da sua força de trabalho, não fosse este um dos seus ativos mais importantes (se não o mais importante).

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