A estagnação da Alemanha, que hoje ameaça o crescimento da União Europeia (UE), é indissociável do impacto que o conflito Rússia-Ucrânia teve sobre o preço e o fornecimento de energia.

O problema de base é, no entanto, a incapacidade alemã de produzir energia renovável – a principal fonte da eletricidade produzida no país é o carvão (34%), seguido da energia eólica (25%), – o que a leva a ser ultrapassada por parceiros como a França e sua aposta no nuclear, ou os países escandinavos, sustentados em energia hidráulica.

Perante a dificuldade alemã em gerar energias verdes, os especialistas defendem aquilo que até agora seria impensável – a deslocalização da sua produção industrial para países com uma vantagem comparativa nesta matéria, como a Noruega e a Suécia.

Estaremos a assistir à emergência de um novo paradigma de localização industrial e da atividade económica assente na transição para formas verdes e locais de produzir energia?

Neste pressuposto, a Blue Banana – a região dourada de prosperidade europeia, que vai do Noroeste de Londres até Milão, atravessando a Alemanha – que já teve no Brexit um primeiro embate, poderá eclipsar-se. A nova geometria da concentração da riqueza europeia terá uma base verde e a organização do espaço modificar-se-á de acordo com as condições físicas do território, leia-se geologias mais predispostas à produção de energias renováveis.

Isto não poderá acontecer sem que a tecnologia desempenhe o seu papel, aperfeiçoando a geração destas energias e diminuindo progressivamente os seus custos. Atualmente, na UE, onde cerca de 40% da eletricidade é produzida por energias renováveis, a energia eólica representa, segundo a Agência Internacional de Energia, a tecnologia mais eficiente. São certamente boas notícias para países ventosos, como Portugal

Sendo ainda prematuro antecipar o impacto que este estado de coisas irá ter sobre a organização do poder ou se outras potências poderão vir a assumir o papel de locomotiva europeia, é importante que cada economia avalie desde já como se pode posicionar neste novo jogo.

Para a economia portuguesa põem-se duas grandes questões. Primeiro, num cenário em que os países escandinavos surgem como solução, repensar a visão tradicional de que a competitividade portuguesa deve assentar no custo da mão de obra. Segundo, avaliar a capacidade nacional de produzir energias renováveis a baixo custo por forma a atrair indústria alemã ou outra. Em suma, fazer parte da nova Green Banana europeia.