O tema “burnout” tem-se tornado cada vez mais prevalente ao nível da literatura específica da área da saúde, mas especialmente no que se refere ao ambiente organizacional e de negócios.

Segundo dados recolhidos pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, estima-se a perda de cerca de 99 milhões de euros por ano devido a absentismo acima dos 50% associado a stresse laboral. Perante números alarmantes que têm vindo a ser crescentes, ao ponto de aproximadamente um terço da população portuguesa estar em risco de burnout, algo necessita urgentemente de mudar.

Estamos a falar de uma síndroma que representa um esgotamento ao nível físico e psicológico, incapacitando a pessoa de desempenhar de forma equilibrada a sua profissão e de gerir a sua vida pessoal. Apesar de, erradamente, na sociedade de hoje ainda se estigmatizarem estes casos, na realidade, em nada são sinal de fraqueza mas sim sinal de que a pessoa foi forte demasiado tempo.

Este estado envolve uma perceção de que aquilo que temos de fazer é imensamente superior às nossas capacidades, envolvendo um sentimento de frustração difícil de mensurar. Instala-se a sensação de que não se é capaz de dar resposta ao que nos é solicitado, dando o entusiasmo e a dedicação espaço ao ressentimento e críticas constantes que se refletem igualmente fora do trabalho.

Por afetar atualmente profissões de diversas áreas, nomeadamente cargos de top management, as organizações começam a refletir sobre que medidas implementar para inverter o processo.

Sabemos que a pressão pelos objetivos, resultados positivos e rentabilidade não vão desaparecer da nossa sociedade, sendo que, mais do que mudar o ambiente externo, é fulcral auxiliar o ser humano a reencontrar equilíbrio e recursos internos para lidar com esta realidade.

Nesse sentido, o desenvolvimento e reforço de competências de regulação emocional, de resistência à frustração (resiliência), têm-se revelado essenciais para suprimir e prevenir o acréscimo de casos de burnout.

Muitas são as medidas possíveis de serem implementadas, e organizações como a Google e a Apple, entre diversas outras grandes instituições reconhecidas como as melhores empresas para trabalhar, têm disponibilizado iniciativas e programas de mindfulness.

Representa uma prática que envolve um conjunto de exercícios e treino com foco no presente, sem julgamento, aceitando e aprendendo com o passado e preparando ativamente o futuro. Uma forma de atenção plena que implica que vivenciemos o momento sem sermos absorvidos por ele e desliguemos o piloto automático.

Atualmente, são inúmeros os grandes empresários de renome que praticam e têm revelado os resultados de sucesso da sua prática ao nível pessoal e especialmente da empresa. Benefícios que vão desde alterações cerebrais diretamente relacionadas com a empatia, a estados emocioais e capacidade de decisão, passando pela criatividade e inovação.

A redução do nível de stresse, o aumento da resistência à frustração e a melhoria dos padrões de sono e sensação de vitalidade são também consequências reveladas por quem pratica, confirmadas pela neurociência.

Ao nível dos KPI organizacionais, a redução do absentismo, a melhoria do papel de líder, o aumento dos níveis de engagement e, por consequência, de produtividade são dados inegáveis para as empresas que começaram a investir neste programa que veio para ficar nesta era em que quanto mais digitais formos, mais humanizado terá de ser o contexto laboral.