[weglot_switcher]

Espanha: Alberto Núñes Feijóo lança em 2 de abril a campanha para as legislativas 2023

A guerra depois da pandemia e a sempre incómoda coabitação com o Unidas Podemos, a que se junta o Saara Ocidental, colocam o chefe do governo numa posição fragilizada, que o novo presidente dos populares quer aproveitar. O problema é que o bipartidarismo está de regresso e isso pode baralhar tudo.
23 Março 2022, 18h15

Doutorado Honoris Causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (em 2017), Alberto Núñez Feijóo passará a ser formalmente o líder do Partido Popular a partir de 2 de abril próximo – ultimo dia do congresso partidário que se realizará em Sevilha – e tem tudo para ser um poderoso concorrente ao atual chefe do governo, o socialista Pedro Sánchez. É que não só se transformou no mais hegemónico presidente do PP (mais de 99% do partido nele votou nas primárias), como ‘apanha’ Sánchez num momento particularmente delicado.

De facto, o chefe do governo espanhol está a passar por um período particularmente conflituoso, com diversos sectores da sociedade a esgrimirem reivindicações que têm a ver, quase todas, com as dificuldades colocadas à economia (como em toda a Europa) pela crise motivada pela invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Mas se o conflito com as empresas transportadoras é ‘normal’ face às circunstâncias – como sucede também em Portugal – Sánchez tem a acrescentar à crise uma particularidade (de que António Costa se livrou): é que a forma como encara a invasão da Ucrânia não está alinhada com o seu parceiro de coligação, o Unidas Podemos.

Mas, se em relação à Ucrânia, essas diferenças não foram capazes de envolver o executivo numa crise política, já o que se passou durante a visita do chefe do governo a Marrocos pode ser pior. O facto de o socialista ter aceitado que o Saara Ocidental faz parte integrante do reino de Marrocos e, como tal, está sob a sua soberania, deixou o Unidas Podemos em estado de sítio. E não só: o antigo primeiro-ministro socialista José Luís Zapatero afirmou que essa aceitação não é nada a não ser ‘real politik’. Sendo a coabitação entre o PSOE e o Unidas Podemos um caso sério de desentendimentos sucessivos que só é mantida para não voltar a lançar o país em novas eleições antecipadas, qualquer fricção toma dimensões desproporcionadas.

É neste quadro que o novo presidente do PP pretende atuar. Desde que venceu as primárias, e apesar de ser reconhecidamente um fazedor de consensos, passou a tratar o chefe do governo como seu verdadeiro opositor, já lhe tendo chamado autista e déspota. Ou seja, Feijóo pretende tomar o lugar de líder da oposição sem quaisquer conceções aos socialistas – ou, dito de outra forma forma, quer acabar com os anos dos socialistas à frente do executivo o mais tardar em 2023 (nas legislativas desse ano), se não puder ser antes.

É disso, dizem os analistas, que os populares estão à espera, sendo certo que o galego tem uma invejável posição no PP: a oposição interna – que a madrilena Isabel Díaz Ayuso podia encabeçar – está rendida (não se sabe até quando) a Feijóo e deixá-lo-á livre de preocupações internas para se concentrar na liderança da oposição.

 

E contudo…

E contudo Alberto Núñez Feijóo enfrenta um novo fator na vida política espanhola – que tem um lado positivo e outro negativo – e que até há um par de anos parecia arredado de Espanha: o bipartidarismo está a regressar em força, como está claro nas eleições regionais que sucederam há poucas semanas.

Para o novo presidente do PP, esta evidência tem o problema de o obrigar a ser o mais claro possível em relação à extrema-direita do Vox. É claro para todos que parte dos que alimentam as excelentes votações do partido derivam diretamente do PP. E se Feijóo os quiser fazer regressar ao PP enquanto acena aos que entretanto vão deixando de acreditar no Cidadãos (que parece estar a caminho da insolvência) para que integrem as hostes populares, tem que estabelecer uma barreira em relação aos extremistas. Para já, Feijóo tem-se defendido mantendo um silêncio prudente sobre a matéria.

Mas, se este lado do regresso do bipartidarismo pode ser um fator positivo para o novo presidente dos populares, o lado mau é que esse mesmo regresso funciona também para o PSOE.

De facto, segundo um estudo recente do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), o PSOE está a ser reforçado (em termos de intenções de voto) na inversa proporcionalidade do cada vez mais rejeitado Unidas Podemos. Segundo o estudo, há cada vez menos espanhóis que hesitam entre o PSOE e o Unidas Podemos: os socialistas estão claramente em vantagem e isso, em 2023, pode ser fundamental para os socialistas não só terem uma boa votação, como para se livrarem do incómodo aliado dos últimos executivos.

E o PSOE não tem, ao contrário do PP, qualquer movimentação à esquerda que lhe ofusque o horizonte. Pelo menos para já: o Mas Pais (surgido em setembro de 2019) tem sido o alfobre de muitos desalinhados com o Unidas Podemos, mas aparentemente (segundo o CIS) uma maioria significativa dos ‘iludidos’ com a chamada nova esquerda prefere regressar ao seio dos socialistas ao invés de embarcar numa segunda aventura radical depois de se desiludir com a primeira.

Seja como for, as próximas legislativas em Espanha – que de alguma forma estão lançadas a partir de 2 de abril – serão, para já, uma grande incógnita.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.