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EUA continuam em linha para ‘aterragem suave’, projeta Miguel Faria e Castro

O economista sénior da Fed de St. Louis concorda com a decisão de manter as taxas inalteradas, em junho, para avaliar os efeitos da política monetária, mantendo em aberto a possibilidade de uma ‘aterragem suave’ face aos indicadores fortes que têm saído da maior economia do mundo.
13 Julho 2023, 07h30

A inflação nos EUA continua a baixar, dando algum alívio aos responsáveis da Reserva Federal depois de terem deixado inalteradas as taxas de juro de referência na reunião de junho. Miguel Faria e Castro, economista sénior da Fed de St. Louis, está confiante na força e vitalidade da maior economia do mundo, concordando com a decisão da última reunião de política monetária e deixando a porta aberta à aterragem suave almejada por Jerome Powell.

Em entrevista ao JE, o economista admite que “faz sentido” a decisão de manter inalterados os juros de referência em junho, dada a trajetória recente da inflação. O indicador de preços “está a menos de metade do pico” de 9,0%, ao recuar para 3,0% em julho, “e a tendência parece ser de decréscimo”.

“Há algumas preocupações com o facto de termos assistido a um declínio muito acentuado de preços em termos de bens, mas não dos serviços, onde a inflação é mais persistente”, reconhece, admitindo que a pressão por essa via se mantenha.

Ainda assim, “a economia americana tem mostrado bastante resiliência, determinados componentes têm desacelerado, o que é normal porque estamos numa fase de retração orçamental depois dos estímulos da pandemia de 2021, o que terá um efeito negativo na procura agregada”.

“Chegamos a um nível com a taxas de juro mais elevadas dos últimos 15 anos, por isso faz algum sentido que se tente perceber e medir os efeitos plenos da postura de política monetária, porque sabemos que estes se fazem sentir com atrasos longos e variáveis. Acho que faz sentido reagrupar as tropas e ver os efeitos que se vão sentir na economia norte-americana”, resume.

Jerome Powell, presidente da Fed, sublinhou precisamente a força da maior economia do mundo, destacando sobretudo a performance do lado laboral. No entanto, esta rigidez dá também mais margem de manobra para continuar a subir taxas, sobretudo se a dinâmica salarial for demasiado forte.

Por enquanto, os sinais de espirais inflação-salários não se verificam, afirma Miguel Faria e Castro. Na realidade, “os salários reais agora parecem estar em queda, o que quer dizer que os preços estão a aumentar mais rápido”, um cenário inconsistente com efeitos de segunda ordem. Mesmo assim, importa diferenciar entre os vários sectores.

“É verdade que determinados sectores estão com um mercado laboral muito quente, nos serviços de hotelaria, restauração, os que mais sofreram na Covid, que recuperaram ‘com uma vingança’. Os salários aqui estão a aumentar bastante e isso pressiona os custos. Os serviços têm sido a componente mais persistente da inflação, portanto ter um arrefecimento nesses sectores até pode ser uma boa notícia.”

Assim, a possibilidade de uma ‘aterragem suave’, como tem descrito Powell, permanece bem viva para o economista português. A “inflação continua a cair, a economia parece ter um nível de indicadores reais estável, em pleno emprego, apesar da desaceleração”, o que são indicadores positivos.

“As pessoas valorizam muito esta desaceleração, mas estamos simplesmente a passar de um nível de atividade muito elevada para outro mais normal. Isso é a essência da soft landing, conseguirmos baixar a inflação mantendo a economia em pleno emprego. Para já, tudo indica que estamos ‘on track’”, remata.

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