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Ex-secretário de Estado pediu à TAP para adiar voo onde viajava Marcelo

O pedido do ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Santos Mendes foi alvo de questões na comissão parlamentar de inquérito onde foi hoje ouvida a CEO da companhia aérea. Christine Ourmières-Widener diz que o pedido não partiu da Presidência.
  • Hugo Santos Mendes
5 Abril 2023, 00h59

O ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes terá pedido à CEO demissionária da TAP, Christine Ourmières-Widener, para adiar um voo de Moçambique, que tinha como passageiro o Presidente da República. Ao que parece, Marcelo Rebelo de Sousa precisava de ficar mais dois dias em Maputo.

O caso foi esta terça-feira à noite dissecado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à tutela da gestão política da TAP, onde Ourmières-Widener esteve a ser ouvida durante quase sete horas.

O e-mail, citado pelo deputado liberal Bernardo Blanco, mostra como Hugo Mendes classifica o Presidente da República como “um aliado da TAP”. E não um aliado qualquer, mas o mais importante.

A questão do Grupo Parlamentar da IL era simples: é ou não frequente este tipo de comunicações com membros do Governo com pedidos para beneficiar figuras políticas?

Em resposta, a CEO da TAP, que está de saída da liderança da companhia depois de ter sido exonerada no início de março, explicou que fez questão de confirmar se era de facto um pedido feito pela Presidência. “Não fiquei surpreendida ao perceber que o Presidente da República nunca nos pediria para mudar um voo, algo que teria impacto nos restantes passageiros”, frisou a responsável.

Na troca de mensagens, a CEO da TAP expõe ao ex-governante a preocupação quanto à exposição do pedido. “A minha preocupação é que se isto se torna público, e podemos ter a certeza de que se tornará, não vai ser bom para ninguém, não achas?”, questiona a presidente executiva da companhia aérea.

Em resposta, num tom bastante informal e com direito a smile, Hugo Mendes escreve que a sua “reação expontânea é dizer que sim :)”. Contudo, “seriamente”, diz ainda, “entendo que isto possa ser algo irritante para ti, mas não nos devemos permitir a perder o apoio político do PR [Presidente da República]”.

“Ele tem-nos apoiado quanto à TAP, mas se o seu humor mudar, está tudo perdido”, continua o ex-governante. “Uma frase vinda dele contra a TAP/Governo e vira o país todo contra nós”, salienta.

Hugo Mendes diz ainda que “não está a exagerar”: “Ele é o nosso principal aliado político, mas pode tornar-se o nosso maior pesadelo”.

É desta forma que termina a resposta enviada à gestora da TAP.

A captura de ecrã do e-mail, partilhada nas redes sociais

Os e-mails estão datados a 10 de fevereiro do ano passado e a imagem começou esta noite a circular nas redes sociais, ainda durante a audição a Christine Ourmières-Widener. A resposta da própria veio confirmar a autenticidade das comunicações.

A gestora é a terceira, de uma lista de quase seis dezenas, a ser ouvida pela CPI, formada por iniciativa do Bloco de Esquerda.

Recorde aqui todos os momentos-chave desta audição.

Ao longo de quase sete horas, Christine Ourmières-Widener fez saber que discorda veemente da demissão da qual foi alvo, lançado críticas à atuação da tutela – comandada agora por Fernando Medina e João Galamba e, anteriormente, envolvendo antigos ministros das Finanças e das Infraestruturas, como João Leão ou Pedro Nuno Santos — também eles passarão pela Assembleia da República para prestar esclarecimentos.

A CEO da TAP veio ainda desmentir a versão dos factos ligados à demissão e consequente indemnização paga a Alexandra Reis, apresentada a semana passada pelo CFO da transportadora, Gonçalo Pires. Afinal, diz Widener, o administrador financeiro não só estava ao corrente da negociação de saída como foi dela notificado.

A gestora diz-se “um bode expiatório demitido ilegalemente” e fez saber que recorrerá à justiça para “defender a sua honra”.

A indemnização de 500 mil euros paga à antiga administradora do grupo, e ex-secretária de Estado, Alexandra Reis, gerou mais um epicentro no já sísmico terreno da TAP. Em março, o relatório da Inspeção-Geral de Finanças veio efetivamente responsabilizar a administração executiva da empresa pelo pagamento indevido, decapitando a CEO e o chairman, Manuel Beja. Imune, ficou o administrador financeiro – que na semana passada confirmou a sua relação de amizade com o ministro que tutela a empresa que ajuda a gerir.

A CPI prossegue já esta quarta-feira, dia em que será ouvida Alexandra Reis.

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