As respostas a esta pergunta têm sido insuficientes. Alguns argumentam com o abandono norte-americano da defesa europeia, outros com a assertividade russa.

Nenhum dos argumentos é plausível. Nem os norte-americanos abdicaram de defender a Europa, apesar das tiradas do Presidente Trump, nem a Rússia está disposta a envolver-se num conflito militar com a OTAN. Nunca no pós Guerra Fria, os EUA estiveram tão presentes na Europa como agora, nunca se fizeram tantos exercícios militares, não só no Mar Báltico como no Mar Negro.

Não foi por acaso que o Senado norte-americano enviou dois senadores (um Democrata e outro Republicano) a um evento paralelo à última Cimeira da NATO em Bruxelas, para sossegar os europeus de que não vão ser abandonados pelos EUA. Sobre esta matéria, os OCS podiam ter lido a Declaração da Cimeira (79 parágrafos) com mais atenção em vez de consumirem tempo com as diatribes de Trump.

Por outro lado, os dirigentes russos não têm na sua agenda política invadir qualquer país da OTAN. São atores racionais e sabem o que é o Artigo 5.º. Estão cientes da diferença de recursos existente entre a Rússia e a OTAN. A aventura iria custar-lhes cara. A sua principal preocupação prende-se com a entrada de caçadores furtivos no seu “quintal securitário”, que querem evitar a todo o custo. Portanto, estes argumentos não colhem.

Então se estes dois argumentos não são razoáveis, para quê insistir num Exército europeu? Apenas para fazer operações de paz na periferia da União Europeia, em linha com uma política externa precária, e dar respostas a crises civis e militares que ocorram fora do espaço europeu, mas sempre na condição da OTAN não se envolver nessas mesmas crises, e sem a responsabilidade de defender a Europa, uma vez que esta compete à OTAN?

Faria sentido falar em Exército europeu se a União Europeia pretendesse ser um pares inter pares dos restantes atores maiores da cena internacional, com um projeto geoestratégico global, em vez de desempenhar um papel secundário, em que funciona como apêndice de um outro projeto hegemónico.

Assim sendo, para além de capacidade para se defender e/ou deter agressões militares, a União teria de ter recursos para impor as suas escolhas políticas pelo uso da força militar, de modo a transpor para a cena política internacional um poder que correspondesse ao seu poder económico e à sua dimensão humana e tecnológica.

A defesa teria de ser considerada uma missão essencial e inalienável da ordem política vigente, com forças armadas prontas a intervir em defesa de interesses comuns. A inibição de exercer a função essencial de defender o seu território contra um agressor, coloca a União numa situação de menoridade, uma vez que essa missão core do conceito de defesa está atribuída à OTAN.

O Exército europeu significaria uma parceria transatlântica entre iguais. Mas perante a ausência de uma vontade coletiva para mudar o statu quo será melhor deixar tudo como está, e deixar a defesa da Europa entregue à OTAN. Os líderes europeus podem ficar descansados, nem os norte-americanos se vão embora nem os russos vão atacar a Europa. Sugiro, pois, que se dediquem a assuntos mais prementes e importantes para o nosso futuro coletivo.