Nas economias desenvolvidas da OCDE os preços aumentaram 3,8% em maio, o ritmo mais forte desde 2008. Aqueceu o debate sobre os riscos da inflação e deu azo a uma discussão pública no Reino Unido, onde os preços nos serviços sobem à taxa mais alta dos últimos 25 anos e o IPC atingirá 4% em dezembro, entre Andrew Bailey, o Governador do Banco de Inglaterra (BoE), e Andy Haldane, chief economist.

Haldane, que deixa o BoE em setembro, avisou os colegas dos bancos centrais para não subestimarem os perigos da inflação, ao que Bailey respondeu no dia seguinte que “é importante não sobre reagir”, perfilhando a tese que a subida dos preços é temporária.

Esta tese é também defendida por Powell, Presidente da Reserva Federal (Fed) dos EUA, mas a que se opõe Bullard, presidente da Fed de St. Louis, que a considera demasiado otimista.

O mais recente número da inflação para os EUA (5,4% em termos anuais, em junho; 0,9% no mês, contra uma expectativa “consensualizada” de 0,5%) põe em causa a visão panglossiana e dá força à necessidade de um aperto na política monetária já em 2022. Veremos o que vão dizer BCE e BoE.

Pelo seu lado, no primeiro semestre o stock market mundial está com a segunda melhor performance em mais de 20 anos: o MSCI ACWI regista 11% de aumento este ano, ultrapassado apenas pelos primeiros seis meses de 2019, quando atingiu 15%. Não deixa de ser algo inesperado; normalmente a subida da inflação deveria ter associada a descida das cotações, mas a evidência empírica mostra que o sinal da relação depende da capacidade de hedging e da política monetária. Quanto à última, estamos na época extraordinária do whatever it takes.

Nunca os bancos centrais fizeram tanto para sustentar a economia, e as taxas de juro permanecem próximas de zero, se não são negativas. Portanto, a previsibilidade é limitada, o que quer dizer incerteza e volatilidade, a potencial marca deste semestre. Acresce que se criaram maus hábitos. Com o dinheiro barato e os apoios ao relançamento económico, reduz-se a aversão ao risco.

Entre os rendimentos miseráveis da poupança nas aplicações tradicionais e um mercado de capitais que bate recordes todos os dias, a escolha é óbvia, para mais quando os bancos centrais e as medidas de apoio garantem que tudo se passará no melhor dos mundos. Isto enquanto financeiras americanas criam produtos para os adolescentes jogarem na bolsa, a playstation do momento.

Em 1996, numa intervenção que passou na TV, Greenspan perguntava “how do we know when irrational exuberance has unduly escalated asset values?”; depois, estoirou a bolha dot-com. O dia 19 de maio das criptomoedas pode ter sido outro sinal desta “exuberância irracional”.

Uma coisa é certa: os bancos centrais estão a acumular ativos a uma taxa que não é suportável a prazo, sob pena da política monetária passar a ter só um sentido, como a política fiscal. Temos que ultrapassar a crise antes desse dia.