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EUA já tiveram 198 tiroteios sangrentos só em 2022

Este tipo de fenómeno é recorrente nos EUA, mas parece ter piorado com a pandemia. Houve uma subida de tiroteios em massa de quase 155% em sete anos, e os afrodescendentes são quem mais sofre de crimes de ódio, mas também já houve, por exemplo, ataques contra asiáticos (Atlanta, 2021) e latinos (El Paso, 2019).
17 Maio 2022, 06h50

Já são 198 os tiroteios em massa este ano nos Estados Unidos da América, uma média de 10 por semana.

O último fim de semana foi especialmente sangrento, ficando para a história pelas piores razões depois de morrerem 13 pessoas em dois tiroteios distintos.

No dia 14, um jovem supremacista branco, de 18 anos, conduziu mais de 320 quilómetros para levar a cabo um tiroteio numa mercearia de um bairro predominantemente negro. Foi o ataque mais mortal de 2022, com 10 pessoas mortas e mais três feridas — ao todo, onze das pessoas baleadas eram afrodescendentes. No dia seguinte, domingo, um homem asiático, 60, teve como alvo uma Igreja Presbiteriana durante um almoço de uma congregação de Taiwan, provocando um morto e cinco feridos, quatro deles com gravidade.

Joe Biden vai visitar Buffalo esta terça-feira na sequência de um “crime de ódio com motivações racistas” que aconteceu no sábado.

O Gun Violence Archive define um tiroteio em massa como um incidente em que quatro ou mais pessoas são baleadas ou mortas, sem contar com o atirador. Este tipo de fenómeno é recorrente nos EUA, mas parece ter piorado com a pandemia. No primeiro ano de registo da organização independente, 2014, houve 272 tiroteios em massa, número que subiu para 417 em 2019. Contudo, em 2020, primeiro ano de convivência com a Covid-19, foram 611 e, em 2021, 693. É uma subida de 154,8% casos em sete anos.

“O público em geral vê os atiradores em massa como pessoas totalmente loucas”, mas isso não é  verdade, adianta à “National Public Radio” Mark Follman, que investiga  tiroteios em massa desde 2012. Há “um processo de pensamento muito racional” que envolve o planeamento e a execução destas ações e, em cada caso, “há sempre um rasto de sinais de alerta comportamentais”.

Payton Gendron, suspeito do ataque de Buffalo vestiu uma armadura, transmitiu o ataque em tempo real e deixou para trás um documento de ataque 180 páginas, supostamente escrito pelo próprio, faz até referência a outros tiroteios racistas, para além de descrever uma ideologia enraizada na crença de que os EUA deveriam pertencer apenas aos brancos. Todos os outros, diz, são “substitutos” que deveriam ser eliminados pela força ou pelo terror. O ataque pretendia intimidar todas as pessoas não brancas e não cristãs e levá-las a deixar o país, cita a “Associated Press”.

“Um crime de ódio racialmente motivado é abominável para o próprio tecido desta nação. Qualquer ato de terrorismo doméstico, incluindo um ato perpetrado em nome de uma repugnante ideologia nacionalista branca, é contrário a tudo o que defendemos na América. O ódio não deve ter porto seguro”, declara a Casa Branca em comunicado.

Cornell Williams Brooks, professor da Harvard Kennedy School, disse à “AP” que está cansado das promessas dos líderes políticos de fazer mais sobre as ameaças da supremacia branca e a violência armada porque não se traduzem em compromissos e leis para combater o fanatismo subjacente a estes fenómenos. “Nós precisamos mesmo [que os políticos] apareçam nos nossos locais de culto para ajudar a enterrar o nosso povo e não fazer nada para impedir a carnificina?”, questiona.

Este tipo de crimes continuam a ser principalmente direcionados à comunidade afrodescendente, mas outros grupos sofrem destes ataques que têm por base a cor da sua pele e cultura: em 2021, num spa em Atlanta, Geórgia, foi alvo a comunidade asiática, com oito óbitos (seis deles asiáticos); e em 2019, num Walmart em El Paso, Texas, foram atacados latinos, tendo morrido 22 pessoas (a maioria com nomes latinos e oito nacionais do México), revela a “AP” e a “NPR”. Mas também há discriminação, e violência direcionada, com base na religião e orientação sexual, de que são exemplos os tiroteios numa sinagoga em San Diego, em 2019, e num bar LGBTQ+ em Orlando, Flórida, em 2016.

Experienciar qualquer tipo de violência pode ser traumático, mas o impacto de uma violência direcionada como esta tem repercussões mais amplas. “Ser alvo destas coisas que não se pode controlar, não é apenas extremamente doloroso emocionalmente, mas também afeta a maneira como se perceciona o mundo daí para frente”, disse o porta-voz do Southern Poverty Law Center, organização de direitos civis, Michael Edison Hayden.

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