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FMI admite que programa da troika em Portugal falhou parte dos seus objectivos

“Efeitos da austeridade foram subestimados”, a “composição de alguns compromissos não era a ideal” e “não reestruturar a dívida soberana aumentou o seu peso em relação ao início do programa”.
  • Bogdan Cristel/Reuters
22 Setembro 2016, 15h01

O FMI volta a admitir que o programa de ajustamento não cumpriu todas as metas em Portugal. E justifica com uma série de razões, entre as quais o facto de terem sido “subestimados os efeitos da austeridade” e “o real ajustamento orçamental ter ficado abaixo do previsto no programa”.

Num relatório com mais de 70 páginas, a entidade reconhece que várias medidas de ajustamento orçamental foram alteradas, “em parte para apoiar a atividade económica”, mas também porque “algumas medidas foram temporária ou mais tarde revertidas” e ainda porque “a composição de alguns dos compromissos não era a ideal”. Além disso, “a opção por não reestruturar a dívida soberana fortaleceu a credibilidade de Portugal e facilitou o regresso aos mercados de modo mais rápido, mas aumentou o peso da dívida face ao que fora o começo do programa”.

Referindo-se à desvalorização interna como “um processo longo e difícil”, o documento aponta “a rigidez no mercado laboral” e a “fraqueza das contas no setor privado” como contrapesos que contribuem para que “o regresso à competitividade possa demorar mais do que os três anos de um programa de ajustamento”.

Além disso, “o controlo político do programa sofreu forte erosão, em parte devido ao cansaço causado pelo tipo de novas medidas necessárias para compensar derrapagens ou a reversões; em parte porque os incentivos orçamentais para completar o ajustamento enfraqueceram com o regresso de Portugal aos mercados e a expetativa de um ambiente de financiamento mais favorável  no contexto do programa de quantitative easing do BCE”.

Outras das razões apontadas pelo FMI é “a necessidade de desalavancagem de múltiplos setores da economia em simultâneo”. E acrescenta-se: “Os constrangimentos ao aumento do crédito para começar a reduzir tão elevada alavancagem não foram bem entendidos. Mas, ainda que tivessem sido, não é claro que um processo de reestruturação mais agressivo no setor bancário e no empresarial fosse possível (dada a falta de instrumentos eficazes) ou desejável (dado que o desajuste em relação ao crescimento teria sido mais abrupto e uma vez que a capacidade de lutar contra a crise numa outra frente não podia ser assegurada).”

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