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Forte interesse na dívida portuguesa leva investidores a licitarem “às cegas”

Portugal brilhou na primeira ida ao mercado de obrigações este ano, com uma oferta que não chegou para tanta procura. No ‘grey market’, os investidores já oferecem preços mais altos para comprar até à liquidação em secundário.
  • José Manuel Ribeiro/Reuters
11 Janeiro 2018, 07h35

Portugal brilhou na primeira visita ao mercado de dívida deste ano. A forte confiança e interesse dos investidores levou a juros baixos e a uma procura grandemente acima da oferta, numa altura em que a tendência nos países desenvolvidos é de instabilidade. Os traders vêem o resultado da colocação de 4.000 milhões de euros em Obrigações do Tesouro, esta quarta-feira, como positiva para o país.

“O interesse foi tão elevado que no grey market há ofertas de compra a 15 basis points acima e ofertas de venda a 30 basis points a mais”, disseram ao Jornal Económico os traders da sala de mercado de dívida do Banco Carregosa, referindo-se a um mercado que opera entre o preço da emissão e a liquidação no mercado secundário, que acontece na sexta-feira.

“Isto quer dizer que, ‘às cegas’, os investidores já oferecem preços mais altos para comprar ou pedem preço mais alto para vender. Se mais tivesse sido emitido, mais teria sido vendido”, explicam.

Dívida não chega para tanta procura

Portugal conseguiu uma taxa de 2,05%, um valor ligeiramente acima dos 1,939% da última emissão, realizada em novembro, bem como da taxa no mercado secundário para a mesma maturidade (1,85%). No entanto, o destaque esteve na procura.

“Portugal colocou 4 mil milhões de euros, tendo registado uma procura de 17.2 mil milhões com um spread de 114 pontos base vs swap“, afirmou Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “São bons resultados porque, em secundário, o spread mínimo comparável tinha sido em 21 de dezembro nos 108 pontos, na altura mínimo de mais de dois anos e ainda há uma semana o spread em secundário era de 130 pontos”.

“Pela procura muito elevada diria que é provável que os dealers em primário já estivessem a contar com procura em secundário pelo títulos”, disse.

Dia cheio no mercado obrigacionista

Não só Portugal, mas também Itália, Alemanha, os EUA e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira foram esta quarta-feira ao mercado primário de dívida. A Alemanha obteve uma taxa de 0,54% para emitir 4,026 mil milhões de euros em Bunds a 10 anos, enquanto Itália conseguiu 2,95% pela colocação de 9 mil milhões de euros em obrigações a 20 anos.

A altura foi arriscada já que as mudanças na política monetária e inversão das estratégias de compra de dívida estão a ameaçar a paz no mercado obrigacionista dos países desenvolvidos, que dura há três décadas. As perspetivas sobre as reduções dos estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão (BoJ), bem como um novo relatório das autoridades chinesas, que indica que a China está a ponderar diminuir a compra de obrigações dos EUA estão a pesar no mercado de dívida.

Nos EUA, as yields das Treasuries a 10 anos tocaram máximos de 10 meses, próximo de 2,6%, enquanto na Alemanha, as Bunds a 10 anos avançaram para 0,53%. Assim, o prémio de risco da dívida nacional diminuiu para cerca de 130 pontos base, o valor mais baixo desde março de 2015.

Apesar do desempenho no mercado secundário, o balanço no primário é positivo. “Foi um dia cheio em termos de ofertas em primário, mas que teve muito boa adesão do mercado, e foi o retorno de Portugal às emissões sindicadas e com um pricing muito mais favorável”, acrescentou o economista e presidente da IMF.

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