O Inquérito ao Trabalho Voluntário foi realizado a primeira vez pelo INE em 2012. Nessa altura reportou que 1 milhão e 40 residentes em Portugal, com 15 anos ou mais, participou em pelo menos uma atividade formal e/ou informal de trabalho voluntário. 11,5% da população. Novos dados seriam divulgados seis anos depois: 695 mil pessoas – 7,8% da população residente – fizeram voluntariado em 2018.

Mas – alerta o INE – entre os dois inquéritos houve uma alteração na metodologia internacional de referência: passaram a excluir-se as atividades de voluntariado junto de pessoas com uma relação familiar. Portanto, não podemos tirar quaisquer conclusões sobre a evolução do voluntariado em Portugal entre esses anos.

Contudo, podemos analisar a posição de Portugal face a outros países, apesar das comparações internacionais não serem fáceis.  É o próprio INE a avançar em 2018 que Portugal está distante da média europeia, que se situa nos 19,3%. A este número podemos agarrar-nos. Entre os 7,8% nacionais e os 19,3% europeus é grande a margem para a progressão. O que podemos fazer?

O que podem as organizações privadas sem fins lucrativos – sociais, culturais, ambientais, defensoras de causas, etc. – fazer, para atrair mais voluntários, de diferentes faixas etárias, fazendo uso da sua disponibilidade, ao mesmo tempo que contribuem para o seu desenvolvimento e realização enquanto pessoas? O que podem as escolas e universidades fazer para contribuírem para a profissionalização das organizações que recebem voluntários, bem como sensibilizar responsabilizando os futuros voluntários – jovens e menos jovens?

O que podem as fundações fazer, enquanto entidades da filantropia, na promoção deste bem maior que é colocar-nos ao serviço dos outros, de forma gratuita? Poderão apoiar, incentivar, as organizações? O que podem as estruturas federativas – CNIS, UDIPSS, UMP, etc. – fazer?

O que pode cada um de nós fazer?

É certo que ao retirar da equação o voluntariado junto de pessoas que são da nossa família, muito do voluntariado que se faz fica por contar. São os avós que apoiam os netos, os filhos que tomam conta dos pais ou outros familiares. Tudo isso está fora dos números do INE, por força de um referencial internacional que o INE segue, e que nos permite alguma comparabilidade internacional que é relevante.

Passemos aos números da CAF. Anualmente, a CAF coloca a uma amostra da população de cada país coberto, três questões: No último mês (1) ajudou um estranho ou alguém que não conhece e necessitasse de ajuda?, (2) doou dinheiro a uma organização de caridade?, (3) voluntariou o seu tempo numa organização? As respostas permitem a construção de um índice, que se pretende meça a generosidade dos países.

O World Giving Index é um índice publicado há 10 anos pela CAF, reputada organização internacional. Na sua edição de 2021 reconhece que os dados refletem um enviesamento provocado pela pandemia. Lockdowns, receios, doença, que em muito poderão ter influenciado a atividade de voluntariado. Mesmo assim. Mesmo assim, em 114 países, Portugal ficou em penúltimo no conjunto das respostas às perguntas. É verdade que, de entre os países com pontuações mais baixas também se encontram nesta edição a França, a Bélgica, a Itália e o Japão. E é verdade que em 2018 Portugal ocupou a 83ª posição.

Na pergunta sobre voluntariado, Portugal ficou na posição 102ª, com apenas 10% dos respondentes a dizerem que sim, que tinham doado tempo a uma organização. Em 2018 a posição tinha sido 94ª. Por isso a questão impõe-se, não as desculpas: O que poderá cada um de nós fazer para que todos sejamos mais generosos?