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Google em Cuba: gigante tecnológica pode embaraçar Trump

A Google já tem operações em Cuba, mas devido às estreitas relações cubanas com a Venezuela, China e Rússia, o progresso deste acordo entre com a Etecsa, uma telecom estatal cubana, poderá ser alvo de pressões da Casa Branca.
29 Março 2019, 14h50

A norte-americana Google acordou uma parceria com a cubana Etecsa, uma telecom estatal, para fornecer serviços de Internet mais rápidos em Cuba. Trata-se de um acordo de “peering” que permitirá o acesso e uso de conteúdos da Google com alta velocidade, como vídeo do Youtube, que poderá criar celeuma com Donald Trump, presidente dos Estados, cuja administração tem procurado isolar o país, hoje liderado por Miguel Díaz-Canel.

O acordo entre as empresas norte-americana e cubana tem muita relevância para Cuba, uma vez que vai abrir caminho à instalação de um cabo submarino que poderá ligar Havana à cidade norte-americana de Miami. A ligação permitiria uma Internet com maior velocidade em Cuba, em qualquer tipo de conteúdo, e um maior fluxo de informação. Históricamente, e tendo em conta a relação difícil com os EUA, esse fluxo de informação é “rigidamente controlado”, de acordo com o “Financial Times“.

Este acordo de “peering” significa que a Google a Etecsa poderão recorrer ao tráfego de Internet nas redes de ambas sem ter de pagar a uma outra empresa por infraestruturas “para transportar” esse tráfego. O objetivo de um acordo “peering” é o de reduzir custos.

Do lado cubano haverá todo o interesse neste acordo, uma vez que uma infraestrutura de comunicações com o apoio da Google traria seria uma inovação tecnológica de relevante dimensão, dando garantias de melhores serviços de telecomunicações e, de um ponto de vista político, um passo geopolítico importante para o governo de Díaz-Canel. Do lado da Google, poderá haver interesse em explorar um setor num país tradicionalmente vedado às empresas norte-americanas.

A operação poderia estar concretizada “em menos de um ano”, segundo uma fonte citada pelo “Financial Times” – para já a Google e a Etecsa formaram um grupo de trabalho conjunto para estudar o potencial da parceria. Contudo, o que poderá ser uma vantagem geopolítico para Cuba poderá representar um incómodo nas pretensões da Casa Branca em conseguir isolar Cuba, sobretudo pelo apoio que o Estado comunista dá ao presindete da Venezuela, Nicolás Maduro.

Trump já apelidou publicamente Maduro de um “fantoche cubano” e o seu conselheiro para a Segurança Nacional John Bolton já acusou Cuba de pertencer a uma “troika da tirania” da América do Sul.

Acresce a essas acusações o facto de além de Cuba, a China, com quem os EUA negoceiam um acordo que ponha fim à denominada guerra comercial, apoiar também Maduro e ao mesmo tempo ter relações comericiais e diplomáticas com Cuba. E há ainda o reforço de um acordo entre Cuba e a Rússia, primeiramente assinado em 2013, para o fornecimento de serviços de Internet a Havana. Esse reforço ocorreu esta semana, abrangendo os sensíveis e estratégicos temas das telecomunicações em Cuba e a cibersegurança.

Em telecomunicações e cibersegurança, refira-se, os EUA têm-se empenhado em bloquear que outros países recorram à tecnologia chinesa, sobretudo à Huawei. A nível político, a administração Trump está envolvida na suspeita de estar susceptível a interferências da Rússia – nesta matéria, esta semana a investigação do procurador-especial Robert Mueller chegou ao fim, concluindo que não há provas de conluio de Trump com a Rússia, embora a maioria dos norte-americanos desconfie de Donald Trump.

A Google já tem operações em Cuba, mas devido às estreitas relações cubanas com a Venezuela, China e Rússia, o progresso deste acordo entre com a Etecsa poderá ser alvo de pressões da Casa Branca.

O anterior presidente Barack Obama, tentou abrir caminho para uma nova diplomacia entre Havana e Washington, mas a atual administração na Casa Branca já demonstrou preferir uma abordagem mais rígida. Exemplo dessa abordagem de Washington é o recente encerramento da atividade consular norte-americana em Havana.

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