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Gouveia e Melo vence Globo de Ouro. As frases mais marcantes do vice-almirante no processo de vacinação

O início do processo de vacinação dos menores de 18 anos coincidiu com o verão e o vice-almirante explicou a importância de “não dar férias ao vírus”, apelando à vacinação das faixas etárias mais reduzidas. “O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos”, declarou ainda.
  • MÁRIO CRUZ/LUSA
4 Outubro 2021, 18h53

Era um militar praticamente desconhecido do público português, como muitos o são, mas saltou para a ribalta quando foi convidado para liderar a equipa de resposta à vacinação contra o vírus que parou o mundo. Henrique Gouveia e Melo, vice-almirante ou coordenador da task force, foi libertado das suas funções, após ter correspondido às expectativas do Governo ao chamar mais de 80% da população nacional a vacinar-se.

Apesar de ser um homem de poucas palavras, Gouveia e Melo surpreendeu os portugueses por ser uma pessoa que vai direta ao assunto, sem rodeios, mostrando confiança nas suas declarações. E este domingo venceu o Prémio de Mérito e Excelência do XXV Globos de Ouro, que entregou ao Ministério da Saúde.

O vice-almirante sempre foi discreto na guerra ao vírus, ou não escolhesse a farda camuflada para as visitas aos centros de vacinação espalhados pelo país e para assistir às reuniões do Infarmed.

“Eu, que sou um submarinista e que não gosto de andar à superfície – gosto de andar debaixo de água escondido -, agora, infelizmente para mim, tenho de estar permanentemente na televisão a explicar coisas e a comunicar”.

A declaração foi proferida por Gouveia e Melo no âmbito dos problemas iniciais das vacinas, nomeadamente a AstraZeneca, que retiraram alguma “confiança da população no processo de vacinação”. No entanto, o vice-almirante notou que a task force desenvolvia o trabalho de “comunicar, planear e organizar o processo” da vacinação de todos os portugueses.

“O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. Morreram mais de 18 mil pessoas em resultado desta pandemia. A pandemia é que é a verdadeira assassina e eu estou aqui para contribuir, pelo contrário, para esclarecer as pessoas”

No mês de agosto, um grupo de negacionistas do processo de vacinação protestavam no centro de vacinação de Odivelas, no âmbito da visita do vice-almirante para acompanhar a vacinação de jovens de 16 e 17 anos. Henrique Gouveia e Melo foi apelidado de “assassino” pelo grupo de manifestante, e respondeu aos negacionistas que a pandemia é a verdadeira assassina por ter ceifado 18 mil mortes à data.

“[Nos exercícios da NATO] Sou o mais sanguinário possível. Se entra um inglês no exercício, é o primeiro que ataco porque lhes quero tirar o snobismo. Não gosto de snobes. Aos franceses também não perdoo, porque são chauvinistas, e os alemães também não deixo escapar porque tenho família judaica (risos)”.

Em entrevista ao “Nascer do Sol”, o vice-almirante mostrou o seu lado mais competitivo, onde admitiu não gostar de perder, nem sequer num exercício. Além do “snobismo”, Henrique Gouveia e Melo disse mais tarde ao “Expresso” que atacaria o inglês primeiro por estes serem mais “difíceis” e terem “os melhores submarinos”.

“Faço o que tiver de fazer e sou impiedoso com os malandros. Sou super piedoso para as pessoas que fazem bem, erram, mas deram tudo”.

Ainda em entrevista ao “Nascer do Sol”, admitiu que a liderança militar no processo de vacinação fez sentido por estes terem um ritmo próprio para resolver problemas complexos e encontrar soluções rápidas, dado todo o processo ter acontecido a um ritmo lento até à chegada do vice-almirante. Se tivesse sido Gouveia e Melo a definir o plano teria usado uma “liderança fora do sistema e uma liderança com suporte militar”, dado que a última tem uma “liberdade de ação” que as pessoas respeitam.

“Sou alto, visto uniforme, tenho voz de comando e sou assertivo. Só essas quatro coisas ajudam logo o processo. Depois, tenho ideias, desenvolvo-as e sou obsessivo. Faço o que tiver de fazer e sou impiedoso com os malandros. Sou super piedoso para as pessoas que fazem bem, erram, mas deram tudo”, disse o coordenador da equipa de vacinação na mesma entrevista.

“Uso camuflado porque para mim isto é uma guerra”

Várias vezes falou da guerra ao vírus, nunca dando a batalha como ganha, mesmo quando desceu do posto que ocupou por vários meses. À “TVI”, o vice-almirante assumiu que estava numa função crítica da batalha contra a Covid-19 e que nenhum outro conflito prejudicou tanto a economia portuguesa como o vírus, nem outro conflito matou tanto como a infeção pelo vírus.

A farda camuflada é comum aos três ramos das Forças Armadas e foi a estratégia de Gouveia e Melo para honrar as vertentes da autoridade que se juntaram para este combate, que dura há 18 meses. “[O uniforme] quer dizer que não estou sozinho e sou ajudado pelos três ramos das Forças Armadas, tenho pessoas a trabalhar comigo da Marinha, do Exército e da Força Aérea. É muito importante passar a mensagem que não é uma única pessoa, mas que são as Forças Armadas que estão a ajudar ao processo. Eu sou, digamos, a ‘ponta do iceberg’”, disse.

“Enquanto militar, tinha acesso à vacina e recusei esse acesso”

Gouveia e Melo admitiu que só foi vacinada quando a sua faixa etária abriu, recusando tomar a vacina antes de milhares de portugueses. O vice-almirante apontou que poderia ter sido vacinado no início da campanha por ser militar, mas que devido à escassez de vacinas que se fazia sentir no início da operação decidiu esperar e dar a vez aos prioritários.

“Fui vacinado depois de passar a minha idade. Enquanto militar tinha acesso à vacina e recusei esse acesso. Depois, já tinham entrado duas faixas abaixo da minha idade e disseram-me que era melhor vacinar-me porque ainda acabava por dar o exemplo negativo. Fui vacinado quando a faixa dos 60 anos estava praticamente fechada”, disse na altura.

O coordenador adiantou ainda que na segunda dose não chegou a sentar-se na cadeira porque “estava a tratar de outros assuntos”.

“Colinho dá a mãe em casa. Isto é um centro de vacinação, não de psicoterapia”

Esta foi, possivelmente, uma das frases mais polémicas do vice-almirante. Ao perceber as filas iniciais nos centros de vacinação, em que muitos utentes aproveitavam para tirar dúvidas antes de serem inoculadas pela ansiedade do novo vírus, o coordenador retorquiu com uma frase militar: “colinho dá a mãe em casa”.

Sustentando que as dúvidas têm de ser esclarecidas antes da deslocação ao centro de vacinação, o vice-almirante disse “se ainda assim estiverem a tremer, é dizer-lhes o que se diz aos militares: colinho dá a mãe em casa. Isto é um centro de vacinação, não de psicoterapia”.

“As férias são importantes, mas mais importante é não dar férias ao vírus”

O início do processo de vacinação dos menores de 18 anos coincidiu com o verão, e o vice-almirante explicou a importância de “não dar férias ao vírus”, apelando à vacinação das faixas etárias mais reduzidas.

“Temos de por o vírus ao sol, temos de lhe tirar água. Não pode ter poças por onde progredir, e isso é um combate de todos nós”, disse o coordenador, apelando também aos pais que vacinem os filhos durante o período de férias.

“Não podemos deixar pessoas que vivem em território nacional sem vacinação. Não podemos ser egoístas”

O coordenador da task force defendeu a necessidade de vacinar todos os residentes em Portugal, grupo em que se inserem os imigrantes não legalizados, pedindo aos portugueses para não serem “egoístas”.

“Não podemos deixar pessoas que vivem em território nacional sem vacinação. Não podemos ser egoístas”. “Essas pessoas sem vacinação vão atacar a própria comunidade porque são propagadoras de vírus”, disse Gouveia e Melo.

“A democracia salva-se em conjunto. Não é uma personagem que salva a democracia”

Questionado sobre a possibilidade de despir a farda e juntar-se à luta num cargo político, o vice-almirante admitiu que “qualquer ser que apareça como salvador da Pátria é mau para a democracia. A democracia salva-se em conjunto, não é uma personagem que salva a democracia. Isso cheira a outra coisa. Eu não quero ser essa pessoa”, disse aos jornalistas.

Por diversas vezes ao longo de todo o processo, Henrique Gouveia e Melo assegurou vestir a sua farda de militar até ao fim da carreira, não ambicionando um cargo político.

“Gostamos de pessoas transparente e que cumprem regras, qualquer alteração às prioridades era grave e irritava-me”

Esta frase proferida pelo vice-almirante remete ao início da sua missão, quando assumiu a pasta da vacinação dos cidadãos portugueses em fevereiro de 2021. Na altura fala-se do desvio de vacinas e da vacinação a pessoas indevidas, tendo o coordenador prometido eliminar estes acontecimentos ao apertar as regras. “Vamos apertar mais as regras, o aperto das regras é uma coisa importante, e o aperto do controlo também é importante, e também a consciencialização das pessoas que estão no processo”.

“Eu não sou nenhum Deus, não sou nenhum Super-Homem. Sou só um homem que cumpriu a sua missão”

Com mais de 80% da população vacinadas com uma dose e de 84% com as duas doses, o vice-almirante abandonou o cargo com o processo bem encaminhado, tendo agradecido à comunidade portuguesa por responder tão bem ao chamamento para a vacinação. “Sem a comunidade não tínhamos chegado a este nível de vacinação. Eu não sou nenhum Deus, não sou nenhum Super-Homem. Sou só um homem que cumpriu a sua missão”.

“A guerra não terminou mas, pelo menos, a primeira batalha está ganha”

Foi na última reunião do Infarmed que Henrique Gouveia e Melo disse esta frase, aquando da antecipação das recomendações para o “Dia da Libertação” dos portugueses e da economia, em que os especialistas defendiam modelos de como o Governo deveria proceder. Neste mesmo dia, o coordenador admitia a vacinação de 86% de primeiras doses e de 81,5% de vacinação completa.

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