O facto de o Governo ter caído com a não aprovação do Orçamento do Estado para 2022 e do Presidente da República ter marcado eleições para 30 de janeiro, para permitir a recomposição do cenário partidário com eleições diretas no PSD, acabou por deixar o Governo de António Costa à solta, permitindo com isso a aprovação de uma série de medidas que, de outra forma, não iriam avante. Por outro lado, cada vez mais se percebe que os partidos da oposição, da direita à esquerda, esperam as eleições, criticam o PS, mas deixam o Governo sem freio.

1. Em que país é que com uma crise sem precedentes nas forças armadas, na saúde, na educação e na administração interna, os partidos políticos, sobretudo os de centro-direita, não dizem uma palavra:

1) sobre escândalos, como o da corrupção nas Forças Armadas, este com repercussão internacional, ao contrário do que pensa e disse Marcelo Rebelo de Sousa;

2) sobre um SNS completamente destruído por causa do esforço titânico para combater a pandemia de Covid-19, em que temos dezenas de médicos de Norte a Sul do país a demitirem-se semana após semana dos vários hospitais e centros hospitalares, enfermeiros à beira da exaustão, hospitais sem condições mínimas para a enchente que a 5ª vaga da pandemia está a propiciar;

3) sobre a sina dos professores nos últimos anos, com colocações quase criminosas e salários do terceiro mundo, e das péssimas condições de muitas escolas.

4) sobre um ministro da Administração Interna envolvido em vários casos, o pior dos quais o atropelamento pelo seu próprio carro de funções.

Temos ainda muita insegurança que se começa a sentir nas ruas com assassinatos em Lisboa, seja a tiro seja à faca, raptos violentos e assaltos em todo o país, nas cidades e zonas rurais.

Meus senhores, isto acontece num país onde ainda há governo, onde os ministros e secretários de Estado estão em funções mas a oposição parece desconhecer essa evidência.

Rio e Rangel, Chicão, Cotrim e Ventura demitiram-se de fazer uma oposição forte nas últimas semanas. Não podem perder mais tempo ou as consequências de um Portugal com um Governo à solta irão fazer-se sentir nos próximos anos. E não nos esqueçamos do cenário mediático – mas também lúdico – de uma dirigente partidária, mais concretamente do PAN, que criou condições para ser um novo caso Robles. A nossa modesta conclusão é de que os políticos querem, antes de mais, garantir lugares.

2. A perspetiva de uma inflação à volta dos 0,9% e sobre a qual os sindicatos desconfiam, terá dificuldade em manter-se. A subida dos níveis de preços no consumidor está a generalizar-se e nos EUA a inflação já vai nos 6,2%, um máximo de 30 anos.

Claro que os políticos vendem a ideia de que com o crescimento económico a erosão dos preços irá atenuar-se mas, como bem frisa o analista da XTB Henrique Tomé, se a economia der sinais de abrandamento os riscos aumentam e surgem outros riscos, nomeadamente de recessão.

Portugal tem uma inflação inferior à média europeia, mas existe o risco de redução do consumo doméstico e isso significa uma travagem na recuperação económica do país.

O futuro pode ser a estagflação e a redução da procura de bens devido ao aumento dos preços.