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Governo adotou medidas para aumentar rendimentos, mas fica “aquém” perante ameaça de recessão, diz António Mendonça

O bastonário da Ordem dos Economistas defende que é preciso “ajustar” a ideia de que a subida de salários põe em causa a competitividade das empresas e que há margem neste sentido na proposta de Orçamento do Estado para 2022.
  • Cristina Bernardo
4 Maio 2022, 09h57

O Governo adotou várias medidas na proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2022 para que haja um alívio da carga fiscal e, consequentemente, um aumento dos rendimentos, diz António Mendonça. Mas o bastonário da Ordem dos Economistas considera que o Executivo ficou “aquém” naquele que diz ser um orçamento “tímido” perante a ameaça de recessão que paira na Europa.

“As economias vivem da interação entre a oferta e a procura e nenhuma oferta se realiza se não houver procura”, afirmou António Mendonça, bastonário da Ordem dos Economistas, esta quarta-feira, numa conferência sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2022 promovida pelo Jornal Económico e pela EY.

Nesse sentido, disse, os “governos têm de se preocupar com o lado da oferta e dos apoios às empresas, mas não podem descurar o lado da procura”. O bastonário referiu que o Governo liderado por António Costa adotou o desdobramento dos escalões do IRS ou medidas de apoio aos casais com filhos, que “vão no sentido de aliviar a carga fiscal e favorecer o aumento dos rendimentos”.

“Mas temo que fiquem aquém do que seria necessário para fazer face à ameaça de recessão”, referiu António Mendonça, defendendo que é preciso recuperar o peso da classe média na economia. “Todos se preocupam com os mais pobres, mas é importante olhar de uma forma integrada para o que se está a passar”, com a “perda de dinamismo da classe média”.

“A ideia de que a subida de salários põe em causa a competitividade das empresas tem de ser ajustada”, salientou.

Estes passos têm de ser dados naquele que é um cenário de grande incerteza em torno da evolução da pandemia e da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. “Não sabemos como a situação vai evoluir e quais serão os efeitos diretos e indiretos que a guerra vai gerar”, disse, salientando que os dados económicos mais recentes “ainda não são claros se estamos a caminho de uma nova recessão”.

Esta questão coloca-se numa altura em que há também um forte pressão inflacionista, que já se registava antes da guerra na Ucrânia, mas que o conflito veio agravar. “O dilema entre a inflação e a recessão” volta a estar em cima da mesa, refletindo-se no “comportamento dos responsáveis políticos com reflexo no orçamento”, referiu António Mendonça, notando que estas pressões são diferentes das que se sentiram nos anos 70 e 80.

Neste cenário de incerteza e de subida dos preços, o bastonário considera que o Governo quis “guardar margem de manobra para os ajustamentos que vierem a ser necessários” se a situação económica se deteriorar, defendendo que a “zona euro necessita de ter uma política macro económica integrada”, sobretudo perante o contexto de mudança geopolítica.

Na proposta de OE para 2022 “há uma abordagem tímida e precavida”, referiu. “Houve uma evolução [face à proposta que foi chumbada], sem dúvida”, com as “verbas do PRR a permitirem uma abordagem mais expansionista”, mas também uma “timidez que apenas se poderá justificar por precaução”, rematou.

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