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Governo britânico acusado de mentir a propósito do Ruanda

Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os refugiados, diz que a ministra britânica dos Negócios Estrangeiros está errado ao afirmar que não há alternativas ao regresso dos refugiados para o Ruanda. O arcebispo Cantuária considera a política do governo uma indignidade.
14 Junho 2022, 16h30

Liz Truss foi acusada pelo alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi, de fazer declarações “inverídicas” – o que segundo qualquer dicionário diz ser sinónimo de ‘mentirosas’ – ao alegar que os críticos da política de regresso dos refugiados ruandeses para o país de origem, que o Reino Unido adotou recentemente, não tem alternativas.

Em declarações ao jornal “”The Guardian”, Filippo Grandi disse que Truss está errado porque a ONU deu “muitas, muitas sugestões” alternativas ao envio de refugiados para o Estado da África Oriental. As declarações surgem numa altura em que o governo britânico se prepara para enviar o primeiro voo – a que os seus detratores chamam “carregamento” – de requerentes de asilo para o Ruanda esta terça-feira. O voo ou já terá ocorrido ou estará prestes a partir, se tudo correr como o previsto.

A decisão do governo, que Lis Truss diz resultar de “uma política totalmente legal e completamente moral”, tem sofrido forte contestação e é possível que o voo tenha apenas não mais de meia dúzia de passageiros. O governo diz que, mesmo que seja apenas um passageiro, o voo far-se-á.

Desde a semana passada, o número de refugiados que deveriam estar no voo caiu de 130 para sete na manhã de terça-feira, depois de uma série de organizações terem colocado em andamento formas legais de impedir o regresso dos refugiados ao Ruanda.

Grandi esclareceu que a ONU aconselhou o Reino Unido a manter acordos com os países de trânsito usados pelos refugiados e com a União Europeia para a partilha de encargos. “A cooperação é possível sem recorrer a este tipo de solução como a do Ruanda que – e não vou repetir, mas dissemo-lo muitas vezes – viola os princípios fundamentais dos refugiados”.

Entretanto, têm ocorrido várias manifestações junto do Real Tribunal de Justiça, em Londres, que pretendem protestar contra o plano do governo. Downing Street divulgou uma declaração de Boris Johnson argumentando que os críticos da política do seu executivo estão a ajudar gangues criminosas que prosperam operando pequenos barcos através do Canal da Mancha.

Numa uma carta enviada ao “The Times”, os arcebispos de Canterbury (ou Cantuária, chefe da igreja anglicana logo a seguir a Isabel II) e de York, e outros 24 bispos, disseram que a política do governo britânico “deveria envergonhar-nos enquanto nação”.

 

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