[weglot_switcher]

Efacec. Governo conduziu bem o processo de nacionalização e privatização?

Cerca de três anos depois da nacionalização, e 250 milhões gastos com a empresa, Efacec ainda aguarda decisão sobre reprivatização. O Governo está a conduzir bem este processo? Conheça dois pontos de vista sobre este tema.
4 Junho 2023, 10h00

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 27 de maio, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Armindo Monteiro, presidente da CIP
O Estado já tinha uma exposição de 165 milhões de euros à Efacec, dos quais 115 milhões em garantias a financiamentos bancários e 50 milhões injeções de capital. Este ano acrescentou mais 40 milhões a esta conta aberta. E então? E então é o habitual: o voluntarismo dos políticos transforma-se rapidamente em pesadelo e numa conta que não pára de aumentar. Já vimos está história outras vezes. A TAP é o caso mais emblemático, tendo já levado mais de três mil milhões de apoios públicos. É nobre salvar empregos, não tenho dúvida nenhuma disso. Mais ainda em empresas com uma relevante história e muito conhecimento acumulado em áreas de grande importância atual e futura. Dito isto, o Estado somos nós: atirar dinheiro dos contribuintes para os problemas não resolve nada. Adia os problemas e, no fim, custa sempre muitos milhões a todos nós. O mercado tem de ser regulado e fiscalizado — mas intervir no mercado desta forma passando de observador/regulador a ator não faz qualquer sentido. O mesmo dinheiro poderia ser usado para políticas públicas que realmente façam a diferença; ou então poderia servir para criar a almofada necessária para a urgente redução dos impostos sobre o trabalho. A Efacec teve, em 2022, um prejuízo operacional superior a 105 milhões de euros. Neste cenário, a venda não se afigura nada fácil. A entrada do Estado no capital de uma empresa — porque o o dinheiro não é grátis — deve sempre ser feita com parcimónia económica, planeamento muito concreto da saída e definição clara do valor limite que pretende perder.

Sérgio Sales, dirigente do Site-Norte e da Fiequimetal/CGTP-IN
O Grupo Efacec foi colocado nos últimos anos debaixo de fogo, que o envolveu, num processo de desmantelamento que enfraquece a sua posição enquanto empresa de valor acrescentado no plano industrial. Face ao afundamento em dívidas por opções de diversas administrações,
que puseram em causa a própria, uma parte do tecido económico regional e até nacional, assim como cerca de dois milhares de postos de trabalho, acorre a “ajuda” do Estado, sendo este mais um exemplo, em que o Estado injeta dinheiros públicos numa empresa, para depois entregar ao privado. As opções dos sucessivos governos demonstram, por um lado, a natureza de classe nas suas opções e por outro, a opaca forma como têm conduzido o processo. Sobre os números, sobre os critérios, sobre a visão para o futuro desta empresa, muito pouco ou nada se sabe. Por diversas vezes estiveram os trabalhadores à porta da empresa em protesto, em greve, exigindo essencialmente três pontos; a compra de matérias-primas para responder à carteira de clientes; medidas políticas para uma posição preponderante do Estado que a enquadre no sector empresarial do Estado, solução que, face às desconfianças fundadas sobre a gestão privada que ali os levou, será a mais estável para a defesa dos postos de trabalho e a manutenção das áreas de negócio e no potencial existente; a demissão da administração que transitou, pela desconfiança que os trabalhadores têm sobre ela. Dois governos, dois ministros e até hoje, nem uma palavra estes trabalhadores receberam. A grande urgência que se coloca, é desde já, coragem política para travar o processo de sabotagem de uma empresa insubstituível no sector em que opera.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.