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Governo de Cabo Verde define quatro sectores como prioritários

Turismo, economia azul, economia digital e energia são sectores prioritários para a captação de investimento estrangeiro. A estes, junta-se a aposta decisiva na educação e formação, para a aquisição de comopetências para a economia do futuro.
19 Março 2022, 13h00

O Governo de Cabo verde definiu quatro sectores prioritários para o desenvolvimento do país e para os quais quer atrair investimento estrangeiro: o turismo, aquele que tem maior peso na economia cabo-verdiana; a economia azul, beneficiando da posição do arquipélago; a economia digital, potenciando o papel de ligação que o país tem entre diferentes continentes; e o da energia, em que a aposta é nas renováveis.

Para os investidores internacionais, as oportunidades no turismo estão nos projetos que reforcem a qualidade da oferta existente e que permitam que o sector se desenvolva em todas as ilhas e não só no Sal ou na Boa Vista. “Queremos um turismo que aumente a qualidade e abrangência, de modo a chegar a todas as ilhas”, afirma ao Jornal Económico (JE) o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.

Na economia azul, o arquipélago tem já uma zona económica especial marítima, criada em São Vicente, que o Governo pretende impulsionar. Quer, também, captar investimento para a atividade portuária, a reparação naval e, também, a pesca industrial.

O sector da energia está, também, identificado como uma das prioridades para atração de investimento estrangeiro, com o objetivo de desenvolvimento das energias renováveis, aproveitando os recursos naturais do arquipélago, que é totalmente dependente do exterior.

O Governo pretende que o investimento neste sector seja feito por privados, que entram no mercado através dos concursos de produção de energia que estão a ser lançados, considerando o executivo que o quadro regulatório para a atividade é atrativo. A produção caberá aos privados, enquanto o Estado gere a rede de transporte e distribuição. Algumas estão já a concurso e outras em preparação, mas a margem para desenvolvimento é grande, com as 10 ilhas a ambicionarem chegar a 2030 com mais de 50% de energia renovável, isto numa altura em que a transição energética é cada vez mais uma prioridade para os estados.

Para captar investimento estrangeiro, Cabo Verde vai realizar, na próxima semana, de 24 a 26 de março, nas instalações da Feira Internacional de Cabo Verde, na cidade da Praia, uma Feira Internacional de Energias Renováveis e Eficiência Energética, fazendo desta uma “boa oportunidade” para o Governo promover o programa de transição energética e comunicar com todos os intervenientes do sector.

Economia digital como prioridades
Uma outra prioridade, com impacto transversal a todos os sectores, é o investimento na economia digital, não só através de um melhor aproveitamento da posição geográfica e das ligações de cabos submarinos que amarram no arquipélago, mas também na atração de investidores e nómadas digitais para o desenvolvimento de projetos e, ainda, na aquisição de competências pela população, que serão determinantes na melhoria dos serviços.

Para o Governo de Ulisses Correia e Silva, já não existem margens para dúvidas: a digitalização é o caminho a seguir e a aposta abre portas para a atração de investimento estrangeiro.

Os nómadas digitais estão a ganhar alguma relevância em Cabo Verde e o Governo preparou, mesmo, um conjunto de pacotes específicos para a atração deste tipo de profissionais, no sentido de também impulsionar o turismo. “Falamos de pessoas que pretendam ter um tempo de estadia longo e que gastam mais do que um turista normal”, refere fonte governamental ao JE. E se os nómadas digitais podem impulsionar o turismo, também podem potenciar a aposta na digitalização.

Recuperação dos transportes
Os transportes são também importantes e transversais a todos os sectores.

Para concretizar grande parte dos objetivos a que o Governo se propõe, é necessário consolidar o papel da Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), que viu agora a posição do Estado a ser reforçada e olha para a Angola como chave para impulsionar a operação a que voltou a “dar asas” em dezembro passado.

A companhia aérea de bandeira de Cabo Verde foi privatizada em 2019, com a venda de 51% do capital social a investidores islandeses, tendo passado a chamar-se Cabo Verde Airlines. Em 2021, o Governo cabo-verdiano renacionalizou a companhia, depois de os acionistas privados não conseguirem garantir as operações, devido ao impacto da pandemia. A transportadora escolheu a rota Praia-Lisboa para marcar o regresso, uma ligação que pretende concretizar pelo menos duas vezes por semana, daqui em diante.

De acordo com os dados da Agência de Aviação Civil (AAC), que regula o sector em Cabo Verde, o movimento total de passageiros nos aeroportos de Cabo Verde aumentou quatro vezes em janeiro deste ano, face ao mesmo mês de 2021, para quase 149 mil. Já os aeroportos e aeródromos do arquipélago registaram em janeiro deste ano um movimento de 1.897 aeronaves em embarques e desembarques (aumento de 128,3% face ao mesmo mês de 2021), em voos internacionais e domésticos.

Quanto a ligações domésticas, a TACV anunciou que os voos semanais a partir de Mindelo e a ilha do Sal serão introduzidos ainda no decorrer do primeiro trimestre de 2022 e será ainda implementado um regime low cost de forma a adensar a procura.

Quanto à ‘joint-venture’ entre a TAAG – Linhas Aéreas de Angola e a TACV, algo já defendido entre os dois homólogos desde 2018, a possibilidade continua em cima da mesa, com o presidente angolano, João Lourenço, a argumentar ser necessário “aproveitar as capacidades de cada país”.

“Pensamos ir mais longe, constituir uma ‘joint-venture’ entre a TAAG e a TACV para, com aeronaves da TAAG, e tendo como base a cidade da Praia ou a cidade do Sal. A partir daqui, operarmos para várias capitais da região da África ocidental, conhecida como CEDEAO, e também dar continuidade não só para a Europa, como para os Estados Unidos da América”, afirmou João Lourenço durante uma visita de Estado, na semana passada, um otimismo partilhado pelo homólogo cabo-verdiano.

“Iniciámos esse processo de conversações e esperamos que possamos encontrar as melhores soluções”, afirmou o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.

Instabilidade coma guerra
No entanto, a incerteza que se sentiu com a pandemia da Covid-19 poderá voltar a sentir-se por causa do agravamento do conflito armado na Ucrânia e afetar os planos do Governo, mesmo que o primeiro-ministro assegure que o principal efeito será a aceleração dos projetos já pensados (ver entrevista neste Especial).

O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, não afasta um cenário de um Orçamento Retificativo em 2022, devido aos impactos na escalada internacional dos preços resultante da ofensiva militar russa na Ucrânia, mas admite que ainda é cedo para uma decisão. “O quadro é incerto, o quadro é volátil, o quadro é imprevisível”, afirmou o governante, em declarações Lusa, à margem da conferência “Serviços Financeiros Digitais Justos e Seguros”.

“Temos de continuar a avaliar os impactos sobre a economia, sobre os cidadãos, o impacto sobre a evolução na dinâmica de crescimento da economia internacional e só em função dessa avaliação, um pouco mais à frente, é que nós podemos tomar uma decisão”, acrescentou.

A mesma preocupação foi espelhada pelo governador do Banco de Cabo Verde, que recordou que a economia nacional “vinha evoluindo favoravelmente no quarto trimestre de 2021”, com as “economias dos principais parceiros a prosseguirem com a sua trajetória de recuperarão”, além de uma “contínua recuperação da atividade económica” no mesmo período, “ainda que mais modesta face ao terceiro trimestre” do ano.

“Devemos, também, no contexto atual, fatorizar o risco das tensões geopolíticas, nomeadamente a guerra na Ucrânia e suas consequências”, alertou.

 

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