O MP às vezes parece ter uma parceria em curso com o “Correio da Manhã” (CM). É por aí que nos chegam, quase sempre, as informações que deveriam estar em segredo de justiça e se propagam as fugas processuais que interessam à acusação.
Nenhum cidadão atento e inteligente, independentemente do juízo que faça sobre os factos normalmente divulgados, terá outra leitura do que tem sido a prática normal nos processos que envolvem alguns ‘notáveis’, pouco ou nada notáveis, da sociedade portuguesa.
Ainda assim, o CM é mais ou menos linear. No papel, televisão ou respetivas plataformas digitais, passa interrogatórios. Transcreve escutas. Divulga informações.
E o racional invocado para este procedimento é sempre o mesmo: o interesse público.
Repare-se que procuro não fazer juízos de valor, num ou noutro sentido. Estou, apenas, a tentar ser substantivo.
Desta vez, porém, foi a defesa que respondeu na mesma moeda.
É absolutamente inegável que a chamada “Grande Reportagem” da SIC só pode interessar à estratégia de José Sócrates, o homem que se indigna.
Noto isso e mais uma vez procuro não fazer juízos de valor.
Independentemente daquilo que hoje penso do cidadão, entendo que Sócrates tem todo o direito de usar as mesmas armas e de se tentar defender na esfera pública, enquanto aguarda pelo julgamento dos tribunais.
Resta o que acho em absoluto merecedor de crítica, neste caso, e da parte da SIC: apresentar ‘aquilo’ como uma “Grande Reportagem”. E ‘aquilo’ é o “best of” de estimáveis reações de indignação do ex-primeiro-ministro, selecionadas de um CD do processo.
Todos os episódios, cortados e colados, buscam o mesmo: apenas assinalar quanto Sócrates se acha perseguido e vítima de injustiça pelas perguntas dos investigadores.
Estamos perante um bom trabalho, quiçá planeado, dos advogados e um mau momento do jornalismo.
Eu diria que os últimos trabalhos de investigação da TVI, e até da RTP, não justificam esta ‘Grande Reportagem”. Mas isso já seria opinião.