Foi o verão quente nas urgências obstétricas do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Falta de médicos, fecho de urgências e, tragicamente, vários casos que afetaram vidas humanas.
A ministra da Saúde demitiu-se do cargo invocando que “deixou de ter condições para se manter no cargo”. A saída já foi aceite pelo primeiro-ministro que disse que o Governo vai prosseguir as “reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses”.
O caso mais recente foi o da grávida que morreu durante uma transferência entre os hospitais Santa Maria e São Francisco Xavier, por o primeiro não ter vagas no serviço de Neonatologia (ver infra).
9 de junho – Caldas da Rainha
Uma grávida deslocou-se já perto de gravidez ao hospital das Caldas da Rainha pelos próprios meios, mas as urgências de ginecologia/obstetrícia estavam fechadas. Feita uma cesariana de emergência, o bebé acabou por morrer.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) concluiu a sua investigação dois meses depois e instaurou um processo disciplinar a uma funcionária do hospital, por ter recusado atender a grávida num primeiro momento. A IGAS também recomendou a abertura de outro processo disciplinar à médica obstetra que atendeu a grávida por considerarem que a sua atuação é “suscetível de ter violado os seus deveres funcionais”.
No inquérito, o IGAS concluiu que há “insuficiência de médicos para completar a escala” e destacou que houve falhas de comunicação.
22 de agosto – Seixal – Santarém – Caldas da Rainha (140 quilómetros)
Uma grávida, 26 anos, residente na Amora (concelho do Seixal, distrito de Setúbal) chama o INEM por estar com fortes dores abdominais durante a madrugada.
O socorro foi rápido, mas todos os hospitais dos distritos de Setúbal e Lisboa rejeitaram receber a mulher devido à falta de médicos.
Primeiro, foi enviada para o hospital de Santarém, mas como a unidade iria deixar de ter anestesista a partir das 08h00, a mulher foi transferida para o hospital das Caldas da Rainha (Leiria). A criança acabou por nascer e está bem de saúde.
A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) abriu um processo de inquérito para apurar as circunstâncias que obrigaram a grávida a andar mais de 140 quilómetros para conseguir ter o seu filho.
27 de agosto – Hospital de Santa Maria, Lisboa
Uma mulher, 34 anos e grávida de 31 semanas, dá entrada no hospital Santa Maria com pré-eclampsia grave e restrições do crescimento uterino no dia 22 de agosto, revelou a “CNN Portugal” na segunda-feira que teve acesso ao relatório clínico.
Apesar de ser urgente provocar o parto, não havia vaga no serviço de Neonatologia do hospital e foi decidido transferir a grávida para o São Francisco Xavier, também em Lisboa.
A caminho do outro hospital, a grávida sofrena ambulância uma paragem cardiorrespiratória em ritmo de assistolia que durou 17 minutos.
À chegada ao São Francisco Xavier a vítima entrou em coma profundo e permaneceu assim até dia 27 de agosto, dia em que foi detetada a morte cerebral. A grávida tinha nacionalidade indiana, residia na Índia e tinha chegado recentemente a Portugal.
O bebé nasceu com 772 gramas e foi encaminhado para a “unidade de cuidados intensivos neonatais por prematuridade”, segundo o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).
“Após normalização das tensões arteriais e franca melhoria respiratória, foi transferida cerca das 13h00 do mesmo dia para o Hospital São Francisco Xavier, por ausência circunstancial de vagas de Neonatologia no CHULN, acompanhada por um médico e enfermeiros”, segundo o CHULN.
O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) convocou uma conferência de imprensa que se realiza esta terça-feira, pelas 09h30, e que contará com a presença dos diretores dos serviços de Obstetrícia e de Neonatologia.