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Grupo Barraqueiro queixa-se de quebra de 90% nos passageiros em março e abril

Luís Cabaço Martins, administrador do grupo, prevê, que se a pandemia for perdendo força e o comportamento das pessoas se mantiver aceitável , “talvez lá para outubro/novembro se possa considerar o regresso à normalidade”.
  • Lisboat
14 Maio 2020, 07h35

A propósito das novas regras para os passageiros de transportes públicos, que entraram em vigor a 3 de maio passado, o Jornal Económico foi ouvir os responsáveis das empresas mais representativas do setor para tentar perceber como estão a implementar essas medidas, quais as alterações que vão introduzir nos seus serviços e quais os impactos que esta nova realidade terá na estrutura de custos da empresa.

Conheça as respostas a estas questões dadas nesta fase de desconfinamento por Luís Cabaço Martins, administrador do Grupo Barraqueiro, acionista maioritário da Rodoviária de Lisboa e da Fertagus, duas participadas de referência de um dos maiores grupos privados de transporte de passageiros em Portugal.

 

De que forma é que a empresa vai implementar as novas orientações impostas pelo Governo durante o Estado de Calamidade, atualmente em vigor?
Desde a primeira hora que o Grupo Barraqueiro adotou as medidas extraordinárias decretadas pelo Governo e pela Direção Geral da Saúde, no âmbito do estado de emergência. A segurança dos seus clientes e dos nossos colaboradores são e sempre foram uma prioridade para o grupo. Agora, com o gradual regresso à normalidade, desta feita sob o estatuto de Estado de Calamidade, todas as empresas do grupo, sejam rodoviárias sejam ferroviárias, estão a adotar as novas medidas impostas pelo Governo para o setor dos transportes, designadamente ao nível da segurança e da saúde pública.

Face à imposição de disponibilizar apenas dois terços dos lugares para passageiros no atual Estado de Calamidade em vigor, está a empresa a ponderar reforçar a frequência de circulação dos respetivos meios de transportes?
A principal medida tomada tem a ver com a reposição gradual dos horários, especialmente nas horas de ponta. Aliás, a Fertagus retomou as frequências e os horários que tinha antes de se iniciar este estado pandémico da Covid-19. A questão dos dois terços de lotação é importante, mas temos que ter presente que o regresso à normalidade está a ser gradual, como se viu na passada segunda-feira [dia 4 de maio]. O Governo continua a aconselhar a manutenção do teletrabalho sempre que possível e isso vai acontecer, pelo menos até 31 de maio.

Há muito comércio que ainda não abriu, como a restauração e as grandes superfícies e os estudantes, que são um segmento importante de utilizadores do transporte público, também não voltarão mais neste ano letivo, com exceção dos alunos do 11º e do 12º anos. Contudo, o Grupo Barraqueiro está disponível para ajustar a sua oferta à procura e se for preciso colocar mais autocarros ao serviço para que a regra dos dois terços de lotação possa ser cumprida. Mas, atenção, mais autocarros implicam mais motoristas, mais manutenção, mais combustível e o Governo tem que ser sensível a esta alteração das regras. Aliás, temos sentido uma grande disponibilidade das autoridades de transporte e do Governo para dar atenção a estes problemas.

A empresa está a ponderar a distribuição de máscaras aos passageiros?
As pessoas sabem que não podem utilizar os transportes públicos sem a utilização de máscara. Não faz sentido o operador de autocarro e dos comboios estar a disponibilizá-las. Nota-se um grande civismo por parte dos utentes e é esta sensibilização de um utilizador de transporte público que vai prevalecendo daqui para o futuro.

De que forma é que será assegurada a fiscalização as orientações?
Não vivemos num Estado repressivo mas sim num momento de grande civismo. Aliás, viu-se na passada segunda-feira que os passageiros de uma forma voluntária acataram as regras impostas pelo Governo. Claro, que num autocarro, se alguém tentar entrar sem máscara, caberá ao motorista impedi-lo de entrar. Pensamos também que o facto de todos os outros passageiros usarem máscara funcionará como inibidor de comportamentos anti-sociais.

De que forma é que as medidas em vigor vão sobrecarregar os custos das empresas?
Afetam e muito. Desde logo, porque foram quase dois meses de serviço completamente distinto da normalidade, com menos passageiros – caíram quase 90% – e, consequentemente, menos oferta de transporte embora com a maioria dos custos a manter-se.

A tendência, agora, é para a normalização mas que será feita de uma forma gradual ao longo dos próximos meses, tanto ao nível laboral mas também estudantil e social, ou seja das pessoas que utilizam os transportes públicos para as suas deslocações. Pensamos que, se tudo correr bem e a pandemia for perdendo força –e aí o comportamento das pessoas é muito importante–, talvez lá para outubro/novembro se possa considerar o regresso à normalidade.

São muitos meses de atividade anormal e é esta situação que nos preocupa e que coloca muitas empresas do setor em situação financeira grave. Nestes últimos dois meses, o setor teve quebras de proveitos de 60 milhões de euros por mês, sendo que as empresas globalmente estão a ter prejuízos de 20 milhões de euros por mês. Não nos podem ser exigidos mais esforços. Por isso, as conversas com o Governo no sentido de apoiar financeiramente as empresas rodoviárias perante o reforço de oferta que vão ter que fazer.

 

 

 

 

 

 

 

José Barata

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