A Europa tem vivido em paz. O mundo não tem vivido em paz.

Desta vez a guerra e a paz, a vida e a morte, o desenvolvimento e a destruição, a tranquilidade das nossas casas e o drama dos refugiados, bateram-nos à porta.

Tudo se passa na Europa branca, cristã, infraestruturada e educada.

Os velhos que fogem poderiam ser os nossos pais, as crianças bombardeadas podiam ser os nossos filhos, ou os nossos netos, os mobilizados poderíamos ser nós.

E tudo se passa na imprensa mundial, nas nossas televisões e nas nossas redes sociais. Em nossa casa!

E também se passa na nossa carteira, no nosso nível de conforto.

E, verdadeiramente, ninguém parece ter uma resposta.

Vivemos muitas décadas num mundo facilmente explicável. Tudo o que é a preto e branco é assim.

Vivemos algumas décadas de luminosa policromia em que tudo pareceu possível. Os paladinos das ditaduras excederam-se em democracia, as desigualdades mantiveram-se, mas as liberdades individuais e o diálogo entre os povos pareciam progredir.

As redes de fast food espalhavam-se pelo mundo, as fontes energéticas e as cadeias alimentares pareciam apátridas, o mundo ia negando a natureza humana e as eternas relações de poder que a caracterizam.

Do mesmo passo o estudo da geografia, da história e da organização política era banido, por desnecessário.

O “novo homem soviético” não terá sido alcançado, mas o mundo parecia acreditar num homem moderno, sem história, sem mácula, dominado e dominador da ciência e da técnica.

Um certo “Homo Technicus” …

A realidade está, infelizmente, a demonstrar que assim não é.

O mundo, mais uma vez, procura um novo equilíbrio e, mais uma vez, esse equilíbrio será construído na sequência de uma guerra que, deseja-se, termine rapidamente.

Os mais velhos viveram a optar entre hambúrgueres e matrioskas, o mundo que agora se inicia vai ter que equilibrar Hambúrgueres, Matrioskas e Dragões.

Os homens de boa vontade vão continuar os combates de sempre pela cidadania. Entre a luz e as trevas, entre a liberdade e a opressão, entre a fraternidade e submissão, entre a dignidade da pessoa humana e a capitulação dos direitos humanos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.