Em plena corrida para reduzir a dependência das importações de energia na Europa, inscrita como um dos objetivos cruciais para a transição climática, o hidrogénio tem sido um protagonista indiscutível numa série de círculos, tanto políticos como empresariais. Mas afinal de contas, será o hidrogénio verde a derradeira resposta a estes problemas?

Por forma a responder a esta questão, torna-se imprescindível analisar diversas variáveis, quer no plano económico e de investimento da União Europeia (UE) quer na capacidade de produção.

A definição da Estratégia Europeia para o hidrogénio, com metas e objetivos comuns, representa um passo firme da aposta europeia pela especialização na produção em bloco deste gás renovável. Através da Aliança para o Hidrogénio Verde, a UE pretende investir até 470 mil milhões de euros na implementação de projetos que visem a produção de hidrogénio verde enquanto veículo de descarbonização até 2050.

Trata-se de um objetivo realista, uma vez que as emissões de gases com efeito de estufa ao longo de todo o ciclo de produção de hidrogénio verde são próximas de zero. De acordo com dados divulgados pela Comissão Europeia em 2021, menos de 0,1% do hidrogénio produzido na Europa é obtido por eletrólise da água. Neste contexto, torna-se necessário afirmar que existe, de facto, uma margem de crescimento exponencial nesta área que, aliado aos instrumentos de apoio financeiro e às medidas regulatórias, compreende uma nova área a explorar por parte das empresas europeias.

Para que o hidrogénio se possa denominar de renovável ou “verde”, a eletricidade necessária para o processo de eletrólise da água, deve ser produzida a partir de fontes renováveis (p. ex. solar ou eólica). Segundo dados publicados pelo Conselho da União Europeia, em 2022 a UE produziu 2 641 TWh (terawatt-hora) de eletricidade, dos quais quase 40% provieram de fontes renováveis.

No mesmo ano, a quota de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis em Portugal representou 63%, sendo que este valor tem crescido progressivamente nos últimos anos. Assim, os valores asseguram a consistência da produção de energia elétrica renovável em Portugal, que apresenta um crescimento robusto, ano após ano. Isto deve-se, em grande medida, à aposta crescente neste tipo de produção, conjugada com as caraterísticas inatas de Portugal (300 dias, em média, de sol anuais).

Desta forma, consegue-se garantir uma produção estável, sendo ainda possível um aumento da capacidade graças à nova estratégia para a produção nacional de hidrogénio verde. Os apoios financeiros nesta área contribuem para novas formas de produção e, também, para novos modelos de negócio, mais eficientes e fundamentados no conceito da economia verde.

No domínio das tecnologias, verificam-se algumas condicionantes, sobretudo no que concerne o elevado custo de fabricação e o escasso número de fabricantes. A Europa detém cerca de 30% de toda a capacidade global de fabricação de eletrolisadores e fornece a grande maioria destes sistemas no mercado europeu.

Neste domínio, encontram-se em curso dois ambiciosos projetos aprovados no âmbito do IPCEI – Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu, num montante total de 10,8 mil milhões de euros em financiamento público. O objetivo é apoiar tanto fabricantes de eletrolisadores como fornecedores de matérias-primas para atingir uma capacidade total de produção de quase 12,4 GW em sete países.

No contexto empresarial, o desenvolvimento de hubs ou regiões de hidrogénio, como sucede nas Astúrias (Espanha), Bourgogne (França), Limburg (Bélgica) ou no Médio Tejo em Portugal, unido à proliferação de ecossistemas e agrupamentos de empresas no território europeu, demonstra-nos que uma postura de cooperação será o único caminho viável para que o hidrogénio possa vingar.

Para além disso, importa ressalvar que a aplicabilidade do hidrogénio verde não se limita à indústria, mas também a outros setores como a mobilidade. A eletrificação de veículos tem contribuído para uma mudança no paradigma da mobilidade, no qual uma visão mais verde e eficiente é possível. Um bom exemplo disso pode vislumbrar-se na iniciativa europeia H2Accelerate Trucks, que visa fomentar o uso de hidrogénio para descarbonizar o transporte de mercadorias de longo curso em toda a Europa.

Em suma, o trajeto a percorrer está definido, pelo que Portugal pode e, diga-se, deve aproveitar os seus recursos para tornar a sua economia mais sustentável, contribuindo, assim, ativamente para a descarbonização gradual da indústria pesada e, inclusive, do setor dos transportes e mobilidade.

Deste modo, ainda que não seja a cura para todos os males, o hidrogénio verde pode mesmo converter-se num novo e importante recurso no setor da energia.