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Homenagem a um apaixonado por rock ‘n roll que sempre negou ser artista

A Galeria Filomena Soares, em Lisboa, recorda o génio de Dan Graham, expondo o último “Pavilhão” por si criado. De 9 a 18 de março, deixe-se desassossegar pelas múltiplas perspetivas possíveis que esta obra propõe.
  • © Dan Graham, Intwolife
8 Março 2023, 18h00

Dan Graham imaginava-se a ser escritor. Eventualmente jornalista. Ou melhor, crítico de música. Como referiu em 2011 à “Artnews”, quando esta lhe dedicou um artigo de fundo, a sua “paixão nunca foi a arte. Foi sempre a arquitetura, o turismo, o rock ‘n roll, e escrever sobre rock ‘n rol”.

Aquele que se tornou num dos maiores críticos de arte e nome maior da arte contemporânea morreu faz sensivelmente um ano, e a Galeria Filomena Soares, em Lisboa, dedica-lhe uma exposição intitulada “Homage”. Uma homenagem que vai ocupar este espaço expositivo de 9 a 18 de março, recordando um artista que criou obras muito diversas, algumas das quais inclassificáveis, nomeadamente esculturas em vidro monumentais, e pequenas peças com textos.

Mas não só. A sua paixão pelo rock and roll levou-o a criar diversos vídeos sobre este género musical. Mas tudo começou pela série de fotografia “Homes for America” (1966–67), que o colocou no mapa da arte contemporânea. A par do texto “Detumescence” (1966), sobre o que acontece ao pénis de um homem quando atinge o clímax, ou ainda “Schema” (1966), que detalhava os seus elementos tipográficos. Momento marcante na sua carreira, estas intervenções não só geraram polémica como também foram vistas como uma rutura face à transmissão de informação de via única dos media.

Dan Graham nasceu em março de 1942 no estado de Illinois, EUA, e cresceu em Winfield, Nova Jérsia. Não estudou formalmente além do liceu, mas absorveu as teorias de intelectuais como Claude Lévi-Strauss, Margaret Mead, Jean-Paul Sartre e Walter Benjamin, entre outros. Em 1964, fundou a Galeria John Daniels, em Nova Iorque, que viria a ser palco de exposições dedicadas a artistas minimalistas.

Nos últimos 50 anos, a prática de Graham abarcou a escrita, fotografia, performance, arquitetura, instalação, vídeo e curadoria. O seu trabalho analisa as funções sociais da cultura contemporânea e os seus sistemas, desde a música rock (a tal grande paixão) até à televisão e artes visuais, passando ainda pela arquitetura. Eclético nas influências, tanto vai beber ao Minimalismo, à Arquitetura Modernista, ao paisagismo e mapas das cidades, como à cultura skateboarding.

A exposição a inaugurar dia 9 de março na Galeria Filomena Soares apresenta o seu último Pavilhão, uma estrutura elíptica composta por vidros espelhados de dupla-face com um acesso ao interior da obra pela sua abertura. Através do vidro espelhado, o visitante é confrontado pela sua própria imagem e pela imagem dos outros visitantes, abrindo assim a possibilidade de criar múltiplas perspetivas.

Dan Graham faleceu no sábado 19 de fevereiro de 2022, aos 79 anos de idade, em Nova Iorque. E apesar de sempre ter negado o seu estatuto de artista – a sua primeira retrospetiva nos EUA teve lugar em 2009, no Museu Whitney (N.Y.) –, é considerado por diversas gerações de artistas como fonte de inspiração e importante referência no seu percurso.

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