Quando se fala em crescimento económico, Portugal encontra-se frequentemente no fundo da lista quando comparado com os seus peers europeus. Desde o início do século que o país se encontra estagnado e os índices de convergência demonstram a dificuldade em acompanhar o crescimento da UE, estando o PIB per capita 26% abaixo da média europeia.

Podemos atribuir parte da culpa à fraca produtividade do trabalho. Segundo dados da PORDATA, Portugal é o quinto pior país da União Europeia (UE) neste aspeto, tendo sido ultrapassado por países como a Hungria e Roménia.

Resolver a baixa produtividade crónica é deveras importante, especialmente num país envelhecido que dependerá, nas próximas décadas, de uma população ativa reduzida. É necessário conseguirmos produzir mais, recorrendo a menos, e a solução poderá passar pelo recurso a tecnologias de Inteligência Artificial (IA), empregando-as na raiz da solução: a educação. De acordo com a UNESCO, cada dólar investido na educação pode gerar um retorno de até 14 dólares para a economia.

Dados do Eurostat indicam que quase 30% das grandes empresas na UE utilizam IA, e a implementação na educação poderá ser feita de forma similar: assim como são utilizados algoritmos para monitorizar as preferências dos consumidores, a IA pode igualmente ser utilizada para um ensino mais personalizado, adaptado à vocação de cada indivíduo, e ajudar a identificar aqueles com maiores dificuldades.

Um sistema adaptado às necessidades de cada um não só cativa e incentiva a busca do conhecimento, como também cria as condições necessárias para formar especialistas que realmente gostam do que fazem – o que não acontece quando se impõe escolaridade obrigatória.

Adicionalmente, tal como processos estão a ser substituídos no local de trabalho, tarefas mais demoradas como a avaliação de provas podem ser feitas com IA, facilitando assim uma transmissão de feedback mais pessoal e rápida aos alunos. Chat bots, utilizados no apoio ao cliente, podem tornar-se professores virtuais, capazes de tirar dúvidas 24 horas por dia.

Países como a China já estão a por isto em prática, com resultados promissores, e segundo um estudo da Oxford Insights, Portugal encontra-se relativamente bem posicionado no que toca à capacidade para a adoção de IA. Além disso, com a entrada em vigor do AI Act da UE, haverá maior credibilidade e incentivos para a proliferação destas tecnologias.

Existem, no entanto, alguns obstáculos à adoção da IA: a desconfiança, exacerbada pela desinformação; a resistência à mudança, dado o envelhecimento da população; o medo de virmos a ser substituídos; e o risco de nos tornarmos demasiado dependentes destas ferramentas.

Perante estes desafios, é necessária uma transição cuidada e informada. Isto envolve a mudança de paradigma no ensino, passando de métodos arcaicos e teóricos ao domínio de skills realmente úteis no mercado, nunca descurando do incentivo ao pensamento crítico e criatividade, competências inimitáveis do ser humano.

Chegámos a um ponto sem retorno. A IA veio para ficar, e o que resta a Portugal é abraçar esta oportunidade e investir nesta nova realidade.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.