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Incerteza económica faz com que quase 80% dos portugueses pesquisem mais antes de comprar

“O que os inquiridos nos dizem é: 47% já começa a reduzir os gastos supérfluos e 34% estão cautelosos – ou seja, conscientes do aumento dos preços, mas ainda só estão mais atentos aos gastos sem alterações significativas aos hábitos de compra”, diz ao JE a ‘senior industry manager’ da Google Portugal.
26 Setembro 2023, 12h00

Aproxima-se a principal época de compras do ano, que começa com o Dia de Compras na Net, a 20 de outubro, e se prolonga até os saldos a seguir ao Natal, a chamada “Peak Season” que apanha dias como a Black Friday ou o Prime Day. Atenção, marcas portuguesas: nos próximos três meses, é de se esperar um consumidor mais sensível aos preços, compras mais ponderadas e demoradas e maior concorrência estrangeira.

A conclusão é de um estudo da Google Portugal. Segundo o Google Consumer Survey Portugal, referente a junho de 2023, quase metade dos portugueses (49%) está aberta a experimentar produtos de novas empresas de forma a achar marcas mais baratas (54%).

“O que os inquiridos nos dizem é o seguinte: 47% já começa a reduzir os gastos supérfluos, 34% estão cautelosos (ou seja, conscientes do aumento dos preços, mas ainda só estão mais atentos aos gastos sem alterações significativas aos hábitos de compra) e 19% diz que está com dificuldades em pagar as contas no fim do mês e ansioso em relação ao futuro”, avança Joana Bastos dos Santos, senior industry manager da Google Portugal, ao Jornal Económico (JE).

Mais: “Em momentos em que o processo de decisão de compras está mais complexo ou o consumidor mais ponderado, são feitas mais pesquisas até decidir e efetivar a compra online. É um insight que nós nunca tínhamos tido em anos anteriores: um consumidor mais preocupado e um processo de decisão de compra mais demorado”.

Que atire a primeira pedra quem não vai Googlar aquele presente que algum familiar ou amigo(a) anda a namorar há meses ou mesmo “ideias de presentes” se sentir que deu tudo a alguém de longa data. É mesmo verdade que estamos a pesquisar mais antes de fazer compras nas retalhistas. “Tivemos 77% das pessoas a dizerem que demoram mais tempo a pesquisar produtos, a comparar preços e a avaliar o value for money, revela a representante da Google Portugal.

“As pesquisas que são feitas têm mais inspiração e omnicanalidade. Quando alguém pesquisa um produto tem o que chamamos de modifiers (procurar só por “ideia para presente” ou “lojas de secadores perto de mim”, por exemplo), o que é um indicador de uma intenção. Há muitas pesquisas de inspiração pelos portugueses. Hoje as pesquisas das pessoas estão mais complexas e indicam estes diferentes estágios do processo de decisão de compra”, afirma.

De facto, quatro em cada dez (40%) entrevistados pelo Google Consumer Survey de junho vão comprar tanto em lojas online quanto físicas, o que demonstra um comportamento mais omnicanal.

Vendas no comércio a retalho sobem 3,6% em julho

Em relação ao comércio eletrónico, Joana Bastos dos Santos explica que Portugal tem cerca de 52% de penetração de e-commerce e está “muito atrás” de outros países. “Se pensarmos na percentagem de vendas de retalho em Portugal que acontece no e-commerce, é cerca de 9%, enquanto no Reino Unido estão perto dos 30%. É uma grande diferença, que mostra que ainda há um caminho muito grande para fazermos”, diz ao JE.

Questionada sobre o que motiva esse atraso, esclarece que o país tem estado “relativamente protegidos” da entrada de players estrangeiros, grandes operadoras de e-commerce em Portugal, até à pandemia. “Era um mercado que não era muito apetecido, está aqui no canto da Europa, fala uma língua «que mais ninguém fala». Temos também uma caraterística, que não acontece em muitos outros países da Europa, que é ter o retalho físico aberto até tarde e durante o fim de semana”, argumenta.

No entanto, Joana Bastos dos Santos lembra que o panorama se alterou com a Covid-19, que criou “um grande sentido de urgência” nas marcas, tornou o consumidor mais digital e começaram a chegar grandes marcas, como Amazon e Shein.

Ainda assim, os portugueses estão com a carteira mais aberta do que noutros Estados-membros. “Temos um contexto muito particular nos últimos três anos com a guerra, a subida da inflação e o consequente aumento significativo do custo de vida. Em Portugal, as vendas a retalho continuam a crescer, embora com crescimentos muito tímidos, mas não se vê isso na Europa, onde estão a cair em relação ao ano anterior. Embora aqui também sintamos uma grande desaceleração, temos estado mais ou menos protegidos nesse sentido”, refere Joana Bastos dos Santos.

Isso significa que os portugueses estão menos conscientes do que os outros europeus? Não necessariamente. “As vendas de produtos básicos, como comida, também tem um impacto grande e nós sabemos que as pessoas não estão ainda a cortar tanto nessa área. Ou seja, se calhar preferem cortar em restaurantes e não tanto em supermercados”, justifica a gestora sénior de indústria na Google Portugal.

“Este último trimestre do ano é crítico para o retalho em termos de volume de venda, porque existem vários momentos promocionais. As marcas dependem muito desta altura do ano para fazer cumprir os seus objetivos”, destaca Joana Bastos dos Santos.

“O que aqui lhes trazemos é uma visão daquilo que está a acontecer na perspetiva do consumidor: como é que o consumidor está a pesquisar? Com estas alterações e tendências no seu processo de decisão de compra as marcas e anunciantes ficam informados para terem uma melhor ideia sobre como chegar a estas pessoas, como comunicarem melhor nesta altura do ano”, conclui a porta-voz da Google Portugal.

Entre as fontes de informação para este estudo estão quatro inquéritos próprios da Google, os dados das vendas a retalho do INE e informação da Euromonitor.

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