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Infarmed recebe décima sessão com Covid-19 a dar sinais de estar para durar

Principais responsáveis políticos voltam a reunir-se com epidemiologistas para apurar evolução da pandemia em Portugal. Situação na Área Metropolitana de Lisboa deve continuar a concentrar atenções.
  • Ferro Rodrigues, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa no Infarmed
    Presidência da República
8 Julho 2020, 08h10

A décima sessão de apresentação da situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, que vai realizar-se na manhã desta quarta-feira no auditório do Infarmed, juntando especialistas e os principais responsáveis políticos nacionais, ocorre numa altura em que o número de casos ativos continua a aumentar, com grande incidência na Área Metropolitana de Lisboa, em que o “milagre português” se esfumou aos olhos do mundo, com consequências gravosas para o turismo, e em que começa a ouvir-se que o modelo dessas reuniões se esgotou.

Depois de serem divulgados relatos de que a última sessão no auditório do Infarmed, realizada há duas semanas, terminou de forma abrupta após o primeiro-ministro António Costa interromper a ministra da Saúde, Marta Temido, quando esta fez uma alusão ao confinamento – dias depois, a responsável da pasta disse numa conferência de imprensa da Direção-Geral de Saúde que “se o primeiro-ministro puxou as orelhas à ministra teria certamente razão” -, Rui Rio sentenciou que as mais recentes apresentações da situação epidemiológica “começam a ter pouca utilidade”.

Numa entrevista ao Porto Canal, transmitida no sábado, o líder social-democrata comparou as primeiras sessões, “extraordinariamente úteis para quem assistiu” às explicações dos especialistas sobre a pandemia, com as últimas, nas quais “há gráficos atrás dos outros, a uma velocidade que as pessoas que estão a assistir não têm sequer tempo para absorver aquilo que o gráfico está a mostrar”. E acrescentou que a segunda parte da sessão, quando os participantes fazem perguntas, “ainda é menos útil”.

Além de Rio, que tem participado por videoconferência – tal como outros conselheiros de Estado -, vários responsáveis políticos têm sublinhado que os epidemiologistas não conseguem apontar motivos para o aumento da prevalência da pandemia em Lisboa e Vale do Tejo, que ao longo das últimas semanas se tornou a região do país com maior número de infetados com Covid-19, tendo no relatório de situação de terça-feira 20.929 casos (e 513 mortos), ultrapassando o Norte, que começou por ser a “porta de entrada” da pandemia em Portugal e tem agora 17.823 casos e 821 mortes.

A situação na Área Metropolitana de Lisboa provocou conflitos no seio do PS, com o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, a afirmar na TVI que “com maus chefes e pouco exército não é possível ganhar esta guerra”, referindo-se à Administração Regional de Saúde de Lisboa, o que foi interpretado como um ataque à ala esquerda do partido. Mais precisamente Marta Temido e o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, que ficou com a responsabilidade de coordenar a resposta do Governo à Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, pois segundo o edil lisboeta “ou há capacidade de conter a pandemia rápido ou têm de ser colocadas as pessoas certas nos lugares certos”.

Na ressaca da decisão tomada pelo Reino Unido de excluir Portugal da lista de países incluídos no “corredor aéreo” de dispensa de quarentena no regresso dos viajantes, o que dificultará ainda mais a retoma do setor turístico, o deputado social-democrata Ricardo Baptista Leite tem juntado as suas críticas às do Executivo de António Costa, classificando a decisão tomada pelo governo de Boris Johnson de “ridícula” e “não baseada em dados científicos”, na medida em que beneficiou países com piores resultados e menos testagem. Mas Baptista Leite também recomendou a Marta Temido a necessidade de identificar todos os infetados e casos suspeitos em 24 horas, promovendo o isolamento imediato de uns e de outros pelo prazo de 14 dias, além de insistir no reforço do controlo de entradas em Portugal, argumentando que “a economia não pode voltar a fechar e para isso é preciso fazer mais do que está a ser feito”.

Também em debate na sessão do Infarmed estará a aplicação para telemóveis destinada a rastrear contactos de pessoas infectadas com Covid-19. Em causa têm estado entraves da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), das operadoras e da Apple e Google, pelo que o INESC-TEC, uma das entidades responsáveis pelo seu desenvolvimento, admitiu que a app só deveria estar disponível em meados deste mês de julho.

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