O ano de 2022 começa com fortes preocupações para a generalidade dos portugueses.

1. Vamos votar porque foi chumbado o Orçamento do Estado para 2022 e o país vive de duodécimos e temos os fundos europeus para gerir mas, para a generalidade dos portugueses que têm como distração o “Big Brother Famosos” e os filmes da Netflix, o grande problema, sublinho, será a eventual subida das taxas de juro como consequência de uma inflação imparável.

Na média europeia fala-se em 5%, enquanto o INE fechou 2021 com 1,3%, um nível baixo que só é possível de entender pela metodologia para a obtenção do valor, já que o cidadão comum percebe que aquilo que lhe pesa no bolso, como os combustíveis, a energia, a alimentação básica, os materiais para a escola dos filhos e tudo o que é necessário para suportar uma habitação subiu muito para além de 1,3%. O que ainda não subiu foi as rendas de casa antigas porque aí o impacto social recai sobre os senhorios, mas a generalidade dos bens tem registado subidas agressivas.

Dizem os economistas que, mesmo com subidas de preços, o consumidor continua a consumir e, por isso, o ano vai correr bem para as empresas.

Duvidamos que esta tendência de consumismo continue a partir do momento em que os juros do crédito hipotecário e do crédito ao consumo venham efetivamente a subir e a penalizar as famílias. Nessa altura – que pode ser no final deste ano ou no início do próximo, de acordo com especialistas mais entendidos na matéria – teremos uma hecatombe, para a qual não dispomos de recursos que possam ajudar famílias e empresas.

A queda será maior do que as aflições provocadas pela pandemia.

Mais uma vez, este tipo de temas não impactou nas discussões políticas e, se efetivamente precisamos de reformas no médio e longo prazo, isso significa que teremos problemas não as desenhando e executando. Pior é, no entanto, o facto de precisarmos de reformas no curtíssimo prazo. A literacia financeira das famílias é crítica como disciplina obrigatória na escola e na relação social, tanto mais que a população está a envelhecer e não tem poupanças para a vida pós-ativa.

As entidades públicas, caso da segurança social e organismos como a OCDE, estão a sinalizar que o corte nos rendimentos na reforma será brutal. Situação agravada pelo facto de boa parte da despesa das famílias, como a compra de casa, continuar para além do período de trabalho ativo e de descontos, o que significa que seremos pobres no momento da vida em que precisaremos de mais suporte.

Urge levantar o moral da população e ensinar o que se deve fazer desde jovem. E para quem não aproveitou a juventude, é preciso dar-lhes soluções. Poupança, valorização profissional, fertilidade, demografia e apoios sociais são os grandes temas sobre os quais os políticos e a sociedade civil terão de ter respostas.

2. O Banco de Portugal, pela palavra de Mário Centeno, já avisou que a economia do país apresenta tantos riscos e vulnerabilidades que o banco central poderá ter de tomar “medidas macroprudenciais dirigidas à mitigação da potencial acumulação de riscos sistémicos em alguns setores”.

Os grandes dramas estão identificados e são os prémios de risco em resultado do futuro da inflação e respostas do BCE; o outro risco está no crescimento do crédito à habitação. No futuro haverá maturidades mais curtas para os financiamentos.