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Influência russa na Europa II: as eleições na Bósnia-Herzegovina

Com a República Srpska a tentar minar a federação – e a pressão da Rússia, da Hungria, da Croácia e da Sérvia para que isso aconteça – as eleições deste domingo dificilmente conseguirão ajudar a que haja alguma paz política. Quanto à paz militar, ninguém sabe até quando será mantida.
30 Setembro 2022, 17h09

As nonas eleições gerais na Bósnia-Herzegovina terão lugar em 2 de outubro, domingo, para a eleição dos membros da Presidência, do Parlamento e do poder regional da federação, mas ainda da presidência da República Srpska, e do seu Parlamento.

As eleições – onde poderão votar mais de 3,3 milhões de eleitores – decorrem num período especialmente sensível: os representante da República Srpska (liderados por Mirolad Dodik), têm feito os maiores esforços para colocarem um termo à federação da Bósnia-Herzegovina, para seguirem um caminho independente – ou eventualmente pedirem a anexação à Sérvia, de onde saíram há poucas décadas.

A circunstância de a Sérvia se ter aproximado da Rússia não vai deixar de ser um dado importante nas eleições da federação, dado que Mirolad Dodik é um dos políticos dos Balcãs mais dedicados ao Kremlin e a Vladimir Putin. Aliás, Putin tem sido, juntamente com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, um dos mais destacados defensores do fim da federação. Uma das razões por que Putin quer o fim da federação é que a Bósnia-Herzegovina já deu nota de que pretende pedir a adesão à NATO. Evidentemente, a Sérvia não tem nenhum motivo para apoiar a continuação da federação.

A comunidade internacional – nomeadamente a União Europeia, a ONU e os Estados Unidos – tem feito tudo para ‘segurar’ a federação. Os Estados Unidos disponibilizaram 2,2 milhões de dólares em investimentos de longo prazo para reforçar a segurança de países próximos da Ucrânia, e a Bósnia-Herzegovina foi um dos contemplados.

Mas não é só na República Srpska que a influência russa é evidente. O partido União Democrática Croata da Bósnia-Herzegovina (liderado por Dragan Covic) assume-se também como defensor dos interesses russos na região

O último relatório do Alto Representante externos para a federação, Christian Schmidt, ao Conselho de Segurança da ONU ilustra a complexidade das relações na Bósnia-Herzegovina e em particular a possível eclosão de conflitos armados. A invasão da Ucrânia n~~ao veio ajudar em nada.

Alguns analistas consideram mesmo que existe um risco real de a Rússia tentar compensar o fracasso na Ucrânia com a exportação do conflito para os Balcãs Ocidentais. Um primeiro passo nesse sentido pode ser a contestação dos resultados de domingo e da sua legitimidade.

Para além da Hungria, a Croácia é igualmente apontada como um país desestabilizador da Bósnia-Herzegovina. Altos representantes da Croácia interferem abertamente nos assuntos políticos internos da Bósnia-Herzegovina. Os analistas dizem que o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic e o presidente, Zoran Milanovic, estão a interferir no processo de adoção de mudanças constitucionais e da lei eleitoral na federação – exigida por Bruxelas para a adesão – enquanto espalham a convicção de que a entrada dos bósnios (que são maioritariamente muçulmanos) é uma ameaça para a própria União Europeia.

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