Transformar a ciência em negócio é em primeiro lugar uma questão de reconhecer oportunidades e, em segundo lugar, de conseguir concretizá-las.

Este processo é difícil e moroso e requer uma infraestrutura de apoio multidimensional em várias vertentes, um verdadeiro ecossistema de inovação que assegure a identificação das oportunidades, permita o desenvolvimento do negócio e o seu financiamento, que no fundo acompanhe o investigador desde o laboratório até ao mercado, abrangendo todo o ciclo de vida de um produto, desde a ideia inicial até ao marketing e comercialização do mesmo.

Neste percurso existem muitas barreiras que é necessário ultrapassar. Destaco algumas:

– As diferenças culturais entre os meios académico e empresarial: na maioria das vezes trata-se de comunicar, compreender, respeitar e interagir com pessoas de outros domínios e isso requer empenho e esforço de ambas as partes. Os cientistas, empresários e financiadores precisam de trabalhar mais estreitamente em conjunto.

– A interiorização do risco: reconhecer que o risco faz parte do “jogo” e reconhecer a diferença entre um risco elevado e um risco desnecessário. Este posicionamento face ao risco é uma diferença significativa entre a Europa e os EUA, sendo que na cultura norte-americana existe uma maior apetência para o risco, e se considera natural e desejável falhar no percurso da aprendizagem.

– Compreender quem é o cliente e o que ele pode querer: para um cientista que foi formado e treinado para fazer investigação fundamental este é talvez um dos maiores desafios. Uma coisa é uma grande inovação científica ou técnica. Outra coisa é saber como essa tecnologia pode ser utilizada, compreender o mercado e como se vai financiar o negócio.

Para ultrapassar estas dificuldades, cada vez mais se reconhece que os vários stakeholders necessários à concretização e desenvolvimento deste processo da transferência de conhecimento e tecnologia deverão trabalhar em conjunto e, desejavelmente, na vizinhança geográfica uns dos outros.

A inovação para funcionar tem de ter todos os ingredientes em conjunto: pessoas, instituições de ensino superior, institutos/centros de investigação, empresas, e financiamento. Este tem sido o problema da Europa, pois o ecossistema nunca estava completo, faltavam sempre peças no puzzle.

Nos últimos anos, a Europa, e Portugal em particular, têm colocado um grande esforço vertido, quer em mecanismos de financiamento, quer em produção de políticas para ultrapassar esta situação.

Tem-se assistido a um grande desenvolvimento de parques científicos e tecnológicos, em que na mesma área geográfica se juntam instituições de ensino superior, instituições de investigação, empresas, incubadoras e aceleradoras de negócios, ou seja, onde se encontram todos os stakeholders do ecossistema de inovação. No caso português, a implementação e desenvolvimento de laboratórios colaborativos permite adicionar mais uma dimensão a este ecossistema.

A transferência de tecnologia e de conhecimento apresenta-se assim como uma estratégia de crescimento fundamental para a inovação e para o incremento sustentável do tecido económico.

Portugal tem todas as condições para ser, efetivamente, uma economia do conhecimento e não podemos deixar de referir, tendo em conta a atual situação no Leste europeu, o potencial contributo das pessoas que estão agora a chegar ao nosso país: muitas mulheres, altamente qualificadas, que deverão ser acolhidas e inseridas no ecossistema de inovação, contribuindo desta forma para o crescimento económico sustentável do nosso país.