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Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto: “Temos apelado para o reforço dos agrupamentos de produtores”

Esta é a primeira de uma série de entrevistas integrada num trabalhado alargado desenvolvido pelo Jornal Económico sobre a sustentabilidade no sector dos vinhos do Porto e do Douro.
20 Fevereiro 2022, 08h15

Gilberto Igrejas, presidente do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, considera a sustentabilidade uma aposta estratégica para o vale do Douro e para os seus produtores, porque “a Região Demarcada do Douro é um legado do passado que pretendemos deixar intacto para usufruto das gerações vindouras”.

Esta é a primeira de uma série de entrevistas integrada num trabalhado alargado desenvolvido pelo Jornal Económico sobre a sustentabilidade no sector dos vinhos do Porto e do Douro. Ao longo das próximas semanas,  a seguir a esta entrevista em versão integral ao presidente do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Gilberto Igrejas, será possível acompanhar no site do Jornal  Económico outras entrevistas aos responsáveis de alguns dos maiores produtores da região e do País, como a Sogrape, Quinta da Aveleda, Quinta do Crasto, Sogevinus, Quinta da Gaivosa, Quinta do Portal ou The Fladgate Partnership, além de testemunhos sobre o que cerca de outros 20 produtores da região a estão a fazer ou a perspetivar no domínio da sustentabilidade.

Quais os últimos dados de produção de vinho (Douro e Porto) e de exportação do universo de vitivinicultores representados pelo IVDP e como têm evoluído esses indicadores nos últimos anos?
O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP) certifica, controla, defende e promove os vinhos produzidos na Região Demarcada do Douro (RDD), nomeadamente as Denominações de Origem Protegidas (DOP) Porto e Douro (esta inclui o vinho do Douro tranquilo, o espumante Douro e o Moscatel Douro) e a Indicação Geográfica Protegida (IGP) Duriense (inclui o vinho Duriense tranquilo e o espumante Duriense). A produção de vinho na RDD nos últimos três anos registou fortes variações, abrangendo inclusive os anos de menor produção (2018) e de maior produção (2019) da última década (2011 a 2020), na qual a produção média da região foi de cerca de 142 milhões de litros de vinho por ano.

De facto, 2019 foi um ano de inversão de tendência nas exportações de vinho do Porto, uma vez que, depois de oito anos consecutivos de diminuição da quantidade exportada, em 2019 verificou-se um aumento de 1,2 %, enquanto em valor o crescimento foi ainda mais acentuado (+2,8 %). Já em 2020, e apesar do impacto da pandemia, a quantidade exportada de Vinho do Porto diminuiu apenas 1,4 % em comparação com o ano de 2019, e a quantidade exportada de vinho do Douro até aumentou 5,4 % [Já depois de efetuada a entrevista, foram divulgados os dados de vendas do vinho do Porto referentes a 2021: 391 milhões de euros (+15%), dos quais 330 milhões de euros em exportações (+12%) e 61 milhões de euros no mercado nacional (+32%)].

Quais são as perspetivas?
Quanto à colheita (mosto) em 2021, projeta-se um aumento relativamente ao ano passado e prevê-se um ano de qualidade excelente. Para já, as uvas colhidas têm demonstrado ser de muito boa qualidade, originando mostos muito equilibrados. Se em 2020, a RDD evidenciou resiliência nas suas exportações, demonstrou em 2021 e agora, em 2022, capacidade para enfrentar novos desafios.

De que forma é que a atividade destes produtores foi/está a ser afetada pela pandemia?
Como todas as atividades económicas, a comercialização de vinhos do Douro e do Porto foi afetada pela pandemia. No segundo trimestre de 2020, face à entrada em vigor do primeiro estado de emergência, as empresas do sector vitivinícola, para além dos custos da implementação de planos de contingência, tiveram de enfrentar dificuldades de mão-de-obra para os trabalhos agrícolas e a diminuição nas vendas de vinho.

A pandemia afetou as vendas de vinhos da RDD, essencialmente na medida em que teve um forte impacto negativo no canal HORECA [Hotelaria, Restauração, Cafetaria] e no turismo, provocando a quebra sobretudo da comercialização de vinhos em Portugal, com maiores consequências para os vinhos mais dependentes do mercado nacional, como o Moscatel e o Duriense.

Também ao nível da certificação, após dois meses (abril e maio de 2020) em que se registou uma diminuição no número de pedidos de certificação, a partir do final no primeiro semestre desse ano, assistiu-se a uma reação por parte do sector, até números muito satisfatórios em 2021.

A reação positiva das vendas on-line, e o acréscimo do consumo de vinho em casa durante o primeiro estado de emergência em Portugal, não compensaram a quebra das vendas de vinho no mercado nacional, resultante do encerramento do canal HORECA nesse período e da ausência praticamente total de turismo (esta com maior impacto negativo na comercialização de vinho do Porto).

Durante o verão registou-se uma melhoria a esse nível, mas a evolução da pandemia no último trimestre do ano, implicando novas restrições para o canal HORECA, e com uma natural quebra no turismo, não permitiram uma recuperação mais acentuada para as vendas de vinhos da Região Demarcada do Douro (RDD) em Portugal.

Assim, no terceiro trimestre, face à quebra nas vendas e ao aproximar da vindima com custos acrescidos, foi essencial tomar medidas que permitissem aos diversos agentes económicos deste sector planear a vindima e gerir adequadamente os seus stocks, criando condições para não haver lugar a uma quebra significativa do preço das uvas. Daí o Governo Português ter implementado medidas excecionais de apoio ao sector dos vinhos, tendentes a minimizar quebras e assegurar o rendimento dos viticultores, designadamente: apoio à destilação de vinhos com Denominação de Origem ou Indicação Geográfica, apoio ao armazenamento de vinho, dotação para a criação da Reserva Qualitativa do Vinho do Porto (específica para a RDD) e reforço do Regime de Apoio à Reestruturação e Reconversão da Vinha (VITIS).

Qual a relevância da adoção de medidas de sustentabilidade ambiental na região vitivinícola do Douro?
A RDD é um legado do passado que pretendemos deixar intacto para usufruto das gerações vindouras. Daí estarmos atentos e sermos intervenientes na adoção de medidas de sustentabilidade, em consonância com a missão de certificação das denominações de Origem Porto e Douro.

No passado mês de julho, houve lugar à assinatura da Declaração pela Sustentabilidade da Região Demarcada do Douro, um compromisso político que constitui um marco indelével na história desta região vitivinícola secular. Num texto comum, revelador da importância de que se reveste a sustentabilidade no progresso social, económico e ambiental desta região, os signatários acordam estar empenhados, no âmbito das suas diferentes esferas de atuação, em empreender uma abordagem estratégica e a desenvolver políticas que criem condições para uma implementação efetiva da sustentabilidade social e económica na RDD, no Entreposto de Vila Nova de Gaia e, genericamente, em todo o vale do rio Douro, onde os vinhos nascem, circulam e criam valor, revitalizando o território, gerando empregos e melhorando as condições gerais de vida em cada município, muito em especial, valorizando as áreas dedicadas à produção de vinho.

O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. tem ainda inscritas no seu plano de atividades várias ações que consubstanciam esta aspiração. Está em curso o projeto IVDP+ em que o cerne é a implementação dos princípios da sustentabilidade na RDD. Igualmente, organizámos a Hackathom Douro & Porto 2021, justamente centrada na sustentabilidade, no âmbito da qual se fez a recolha de insights para identificação de linhas de trabalho mais relevantes na RDD, dentro do contexto da hackathon e sob o domínio da temática da sustentabilidade, a partir dos quais serão selecionados desafios a serem tratados por um grupo de investigadores ligados a centros de investigação, do qual resultará uma mostra pública e um relatório que sintetizará as atividades, insights, e resultados gerados, assim como uma conferência de apresentação dos desafios do hackathon aos stakeholders, o que evidencia o interesse do IVDP em que estas iniciativas sejam transversais a toda a região e permitam que todos os seus agentes estejam alinhados num mesmo objetivo.

Na componente ambiental da sustentabilidade, a implementação de medidas na RDD, permitirá a preservação da fauna e da flora autóctone, incluindo a grande diversidade de castas de vinho. Adicionalmente, considerando que as práticas vitícolas, enológicas e afins são mais amigas do ambiente, contribuirão para um ‘mundo mais verde’. Finalmente, graças a esta atitude que paulatinamente se irá disseminando, a imagem da região e dos seus vinhos ficará valorizada a nível internacional.

De que forma é que essas medidas têm contribuído para a sustentabilidade económica das empresas da região?
A RDD, em especial o Alto Douro Vinhateiro – desde 2001 Património Mundial da Humanidade da UNESCO – uma obra do esforço combinado do Homem e da natureza, uma das paisagens antrópicas mais emblemáticas do mundo vitivinícola, constitui um património socioeconómico, agroecológico e cultural de inegável valor. Temos apelado, por conseguinte, para o reforço do papel dos agrupamentos de produtores e a incontornável necessidade de promoção e proteção daqueles instrumentos de concorrência num mercado global (em que o local se tornou global) que são as denominações de origem e as indicações geográficas enquanto direitos de propriedade intelectual. As empresas, muitas delas desenvolvendo os seus próprios projetos de sustentabilidade, estão de certa forma unidas num projeto comum de sustentabilidade global da região e na preservação dos seus recursos, cientes que apenas neste encalço poderão singrar no futuro.

No referente à paisagem, que é um dos vetores em que exprime a sustentabilidade, importará recordar o que está lavrado na Convenção do Património Mundial da UNESCO (WHC), onde, nas diretrizes operacionais para sua implementação, é considerada a paisagem como o “resultado de uma ação conjunta entre a natureza e o Homem, testemunha da evolução das sociedades e dos assentamentos humanos sob a influência das oportunidades e limites impostos pelo ambiente natural, bem como as forças sociais, económicas e culturais”. As empresas, ao terem a sua operação neste território único, estão perfeitamente conscientes da importância de ser assegurada a sustentabilidade em todos os capítulos da sua atividade.

Ainda é prematuro fazermos um balanço que nos permita quantificar, de uma forma global, todo o empenho que os stakeholders têm empreendido até este momento, mas estamos certos de que o somatório de iniciativas resultará num resultado deveras positivo também pela valorização da sua imagem e consequente valorização dos seus vinhos.

Neste aspeto, como compara a região do Douro com outras regiões vitivinícolas nacionais e internacionais?
Todas as regiões vitivinícolas estão comprometidas com a sustentabilidade, de forma mais ou menos visível. As denominações de origem e as indicações geográficas cumprem uma função essencial na garantia da sustentabilidade das regiões, nas suas diversas dimensões sociais, económicas e ambientais, evitando a desertificação ao contribuir para a manutenção da população rural, promovendo o desenvolvimento económico das regiões com um significativo acréscimo de valor para os produtos aí produzidos e que não podem ser ‘desterritorializados’, robustecendo o respeito pelo conhecimento tradicional e pela herança cultural transgeracional. Desta forma, as regiões vitivinícolas têm projetos mais ou menos adiantados no âmbito da sustentabilidade, pois trata-se de uma necessidade vital. Sendo a Região Demarcada do Douro uma das grandes regiões a nível mundial, também se verifica a existência de empresas com uma grande preocupação na sustentabilidade ambiental. O IVDP tem reconhecido esse esforço com a atribuição anual de distinções na área da sustentabilidade.

Nos últimos anos, tem havido uma grande consciencialização por parte das empresas em implementar medidas de sustentabilidade, a todos os níveis, sendo certo que o nível mais mediático tem sido o ambiental. Esta dinâmica tem sido mais evidente nas ditas grandes regiões e nos países do novo mundo, nomeadamente Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, contudo, será injusto, referir-se que se circunscreve a estas regiões e países.

A presença continuada que temos mantido na Organização Internacional da Vinha e do Vinho robustece o alinhamento que pretendemos ter na cena internacional e tomamos como basilares os documentos aprovados, as Resoluções OIV, sobre a matéria.

Qual o investimento já efetuado e em curso para a adoção de medidas de sustentabilidade ambiental?Como mencionado na resposta anterior, várias empresas e associações já começaram a desenvolver e a adotar medidas de sustentabilidade ambiental. Por parte do IVDP, está a ser desenvolvido um plano de sustentabilidade para a Região Demarcada do Douro cujo custo é de cerca de 100 mil euros. Este plano de sustentabilidade para a região, permitirá numa primeira fase ficar a conhecer melhor o ‘estado da arte’ na região, assim como aos agentes económicos aderentes conseguirem enquadrarem-se relativamente às suas práticas de sustentabilidade e, mais tarde, conseguirem ter uma validação por parte do IVDP dessas práticas. Adicionalmente, estamos a desenvolver um trabalho no âmbito da European Federation of Origin Wines (EFOW), associação de que o IVDP é vice-presidente, conjuntamente com a Espanha, França e Itália, pretendendo obter uma visão holística desta matéria e transversal aos países mencionados. A adoção de medidas de sustentabilidade ambiental, depende também da política de investimento das empresas, sendo que a avaliação dos investimentos das empresas na adoção das medidas de sustentabilidade só será conseguida após a entrada em vigor dos planos sustentáveis criados por este projeto.

De que forma é que esses investimentos têm sido financiados? Qual tem sido a percentagem destes fundos financiada por fundos comunitários?
De forma muito direta e objetiva podemos referir que o projeto do IVDP+ é financiado pelo Fundo Social Europeu (85%).

No PRR, existe espaço para financiar projetos de sustentabilidade e vitivinícola na região do Douro?
Apesar de não existir uma rubrica especialmente dedicada a esse tema, o PRR dota a agenda de investigação e inovação para a sustentabilidade da agricultura com 93 milhões de euros, sendo especificamente referido no PRR na alínea iv) sobre este tema, que tem como um objetivo apoiar a investigação e inovação que leve a uma agricultura mais resiliente, que proteja o ambiente, assegure a sustentabilidade dos recursos água, solo e biodiversidade e contribua para a transição climática. Está por isso aberta a via para poder haver um financiamento para a sustentabilidade vitivinícola na Região Demarcada do Douro, apoiada na inovação e na investigação. Estamos atualmente a avaliar em que medida o IVDP poderá desenvolver uma atividade fundada tendo em vista o reforço nos programas de sustentabilidade e de modernização dos serviços.

De que forma é que os vinhos Douro e do Porto – produzidos segundo práticas de sustentabilidade se diferenciam perante os restantes existentes no mercado quando chegam ao consumidor final em termos de perceção e de preço?
Havendo produtores de vinho do Douro e do Porto biológicos, não existe ainda uma possibilidade de se fazer uma avaliação sobre o impacto deste tipo de vinhos no mercado. No futuro, poderá ser possível fazer uma avaliação da relação entre o preço e as práticas de sustentabilidade, isto é, não podemos validar nesta altura a sua diferenciação no mercado.

A tendência deste ano de comercializar vinhos Douro e do Porto em latas é positiva, tem pernas para andar, é um nicho de mercado para explorar ou não passa de uma moda passageira?
De uma forma muito objetiva: não há comercialização de vinho do Porto, nem do Douro em latas. Este ano, existiu a possibilidade, com o devido controlo do IVDP, da junção de água tónica a vinho do Porto certificado para produzir PORTONIC, que é uma marca registada pelo IVDP, e que assim define as regras para a sua utilização no mercado. Não devemos confundir comercialização de PORTONIC, que tem como base vinho do Porto. Consideramos como positiva esta inovação, aprovada em Conselho Interprofissional do IVDP, que permitirá chegar a novos consumidores e momentos de consumo. Cremos que é um projeto interessante, caso contrário, não teria sido autorizado, tão pouco teria havido a adesão, que se verificou, por parte das empresas.

Quais são as principais dificuldades com que a região se debate neste momento, e o que é que está a ser feito para as contornar?
Para além das que elencaram e que abaixo se desenvolvem, há a ter em conta a escassez de mão-de-obra aliada à dificuldade de mecanização da maioria das práticas vitivinícolas na Região Demarcada do Douro; as alterações climáticas e a interioridade que muito penaliza o desenvolvimento desta área. Trata-se de uma resposta conjunta que é dada em cada uma das duas alíneas seguintes. O envelhecimento da população, baixa instrução, aldeias desertificadas e os baixos salários e deficientes condições de habitabilidade na agricultura são questões sociais, que têm vindo a ser respondidas em conjunto com os municípios, associações e estabelecimentos de ensino superior e centros de investigação. Grande parte do problema, deve-se à falta de empregos atrativos na região. Com a abertura de novas redes viárias nas últimas décadas, com a melhoria das vias de comunicação digital (embora ainda deficientes em algumas partes da região) que permite combater a distância, aliadas à procura por parte dos turistas de locais ecológicos e com pouca população, associada ainda à abertura de cursos qualificados para as necessidades da região, tanto na UTAD [Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro] como em escolas de turismo, prevê-se que, pelo menos, o êxodo que se tem verificado para o litoral, seja amainado ou mesmo neutralizado. Não é também despiciente um estilo de vida que cada vez mais jovens têm adotado, de procura de um maior contacto com a natureza, optando pelo campo em detrimento das grandes cidades. Conclui-se por isso, que se deve olhar com otimismo para uma diminuição dos problemas sociais que têm assolado a região.

Quanto aos problemas relacionados com a agricultura, que devido às alterações climáticas tem sofrido com ondas de calor, queda de granizo, ou geadas tardias é preciso notar que um dos problemas que assola a humanidade de uma forma geral é sem dúvida a questão das alterações climáticas e em particular o aquecimento global. A Região Demarcada do Douro também tem sido afetada, prevendo-se, que de futuro esta fustigação continue sendo por isso, uma preocupação para o IVDP. Contudo, dadas as características da RDD, existe alguma capacidade para as combater, ou quando não seja possível, pelo menos de as prevenir. Optar-se por zonas mais altas, viradas a norte ou por castas que demonstrem uma maior resiliência às alterações climáticas, está entre as possibilidades de solução para combater este problema.

Relativamente às quedas de granizo ou geadas tardias, poderão vir a ser utilizadas práticas habituais noutras regiões do mundo, como redes para o granizo ou ventiladores e aquecedores para as geadas tardias. Um desenho inteligente da vinha, poderá também ajudar a atenuar este último problema, assim como menorizar danos em potenciais enxurradas.

A evolução que ocorreu nos últimos anos na previsão meteorológica, assim como a facilidade de acesso aos dados produzidos, são também ferramentas importantes para que o agricultor se possa precaver da melhor forma contra as intempéries.

Resumindo, o que é que está a ser feito para tornar o Douro numa região mais sustentável? O que é que terá de ser feito a curto e a longo prazo?
A aplicação de políticas de sustentabilidade num território tão vasto e multifacetado como é a Região Demarcada do Douro implica uma estreita conjugação de esforços e uma coincidência de perspetivas. Na concretização deste esforço, tomámos a iniciativa de propor a todos os decisores políticos com ação direta ou indireta na RDD, a Declaração pela Sustentabilidade da Região Demarcada do Douro, a qual foi subscrita em julho passado. Trata-se de um documento aberto aos mais diversos contributos, através de revisões periódicas, de modo que se torne um referencial dinâmico, reflita permanentemente as aspirações do tecido produtivo, a evolução perdurável do território e o respeito pelas aspirações das suas gentes, servindo de orientação, sempre alicerçada na sustentabilidade, ao empreendedorismo que se pretende estimular, em prol do progresso económico. Este desafio, que se pretende integrador e vasto no seu alcance, foi lançado a todos os municípios que integram a Região Demarcada do Douro, assim como o Município de Vila Nova de Gaia e o Município do Porto, ambos intimamente ligados ao Douro, territórios indissociáveis do ciclo produtivo e comercial do Vinho do Porto.

Estão assim comprometidos neste objetivo político e que visa um desenvolvimento integrado e sustentável, todos os decisores municipais e regionais, as universidades e os institutos politécnicos com expressão na região. Por parte do IVDP, para além de ter sido o mentor da Declaração pela Sustentabilidade da Região Demarcada do Douro, que foi assinada por 33 instituições, prepara-se para lançar um plano de sustentabilidade para validação das práticas sustentáveis realizadas pelos agentes económicos. Com estas duas medidas, uma mais política/institucional e outra mais dedicada ao sector, mostra bem a sua preocupação transversal para que o Douro se torne uma região cada vez mais sustentável. Deste modo, a sua iniciativa abarca as três dimensões do desenvolvimento sustentável, nomeadamente o social, o económico e o ambiental, mas não esquecendo também a vertente cultural que é transversal a todas as dimensões mencionadas e que o Douro está profundamente impregnado; não fosse a região demarcada e regulamentada mais antiga do mundo, mas também com uma forte componente cultural religiosa, profana, arquitetónica, entre outras. A título de exemplo, mencionam-se, os marcos pombalinos, os barcos rabelos, as gravuras rupestres de Vila Nova de Foz Côa ou os santuários e tantos outros exemplos.

Todas estas componentes, devem ser trabalhadas para a sua manutenção, promovendo a atratividade para um turismo de qualidade que tem como base o enoturismo.

Relativamente às questões ligadas à sustentabilidade social e ambiental, com impacto na sustentabilidade económica, as respostas encontram-se acima quando foram abordadas as preocupações relacionadas à sustentabilidade da região.

O IVDP tem também internamente desenvolvido ações e medidas relativamente à sustentabilidade, como as que constam do QUAR 2021 relativamente a esse objetivo estratégico. Por outro lado, o IVDP no projeto VINCI, e no caso do modelo pólen, como outras organizações e muitas das empresas do setor vitivinícola da RDD têm desenvolvido e participado em projetos que contribuem para a sustentabilidade da região nas vertentes ambiental, económica e social, inovando e apostando. Em métodos de produção mais eficazes e mais eficientes (nomeadamente em termos energéticos e de gestão dos recursos hídricos); na agricultura de precisão, visando combater as alterações climáticas e a escassez de mão de obra; em modelos de previsão da produção para apoio à tomada de decisão das empresas do sector; na preservação da biodiversidade da região e da diversidade genética da videira, até porque a salvaguarda do património vitivinícola da região é essencial para a necessária adaptação às alterações climáticas; em estudos para conhecer melhor os consumidores/mercados visando potenciar o reconhecimento e a valorização dos vinhos da região.

Em relação aos preços do vinho do Douro e do Porto nos diversos mercados, o que é que pode ser feito para tornar mais rentável a marca Douro?
Atendendo à orografia na Região Demarcada do Douro que obriga a que muitas das práticas vitícolas sejam feitas utilizando mão-de-obra, só é possível rendibilizar a marca Douro e a marca Porto aumentando o preço dos vinhos comercializados, com repercussão em toda a cadeia desde a vinha até ao copo. Para isso ocorrer, os vinhos destas denominações de origem deverão ter a sua qualidade reconhecida de um modo mais notório a nível internacional. Para atingir este objetivo, o IVDP tem efetuado várias ações de promoção visando mercados tradicionais e abrindo portas para novos mercados, consumidores e momentos de consumo.

A estratégia que enquadra essas ações de promoção tem como objetivo contribuir para a afirmação internacional e para a adição de valor aos vinhos com Denominação de Origem Protegida (DOP) produzidos na Região Demarcada do Douro, assente na promoção dos seus produtos premium (categorias especiais e designações complementares) e apoiando a internacionalização dos agentes económicos do sector, numa lógica de valorização transversal e com manifesta preocupação pela sustentabilidade económica, social, cultural e ambiental do território duriense, património Mundial da Humanidade.

Em 2021, tirando partido do apoio à promoção de vinhos nos mercados de países terceiros, estivemos presentes nos EUA, no Canadá, no Brasil e na Suíça, Reino Unido e Rússia, totalizando um investimento superior a 500 mil euros.

Na Europa, destacamos Portugal e França com um investimento de mais de um milhão de euros, estando também abrangidos os mercados da Bélgica, Holanda, Dinamarca e Alemanha.

O orçamento da promoção totaliza um valor de cerca de 2,21 milhões de  euros, significando um crescimento de 6% face ao ano anterior.

Além disso, o IVDP apresentou projetos no âmbito dos Apoios à Promoção em Países Terceiros para o ano 2020 e 2021. O primeiro teve um montante aprovado num valor total de 511 mil euros, para os mercados do Brasil, EUA, Canadá e Suíça. O segundo projeto, com uma candidatura apresentada de quase 600 mil euros, está em análise.

Há qualquer outra questão que considere relevante?
Gostava de fazer um comentário à frase “o turismo é a forma mais fácil de fazer circular dinheiro entre ricos e pobres”, uma vez que o turismo no Douro tem vindo a crescer, e na região a agricultura continua a oferecer baixos salários e os trabalhadores vivem muitas vezes em casas com poucas condições de habitabilidade. São várias as iniciativas destinadas a alargar a oferta cultural e de animação turística na região, atraindo turistas ao Douro Vinhateiro. Desta forma, cria-se dinâmica empresarial, cria-se emprego, faz-se circular dinheiro. Com o incremento que se verifica no Douro quanto à oferta turística, muitas são as atividades que concorrem para os circuitos económicos que se estabelecem progressivamente e que tiram partido desse crescimento. Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de escolas de hotelaria e de turismo que irão permitir a formação de pessoal qualificado, podendo desta forma valorizar os postos de trabalho.

Ao se unir a música à paisagem para promover o território, ao se promover a gastronomia regional associada aos vinhos, ao se mostrar nos museus do Douro Vinhateiro as memórias das gentes, numa perspetiva viva e dinâmica, ao se associarem as históricas abadias, ao se estabelecerem rotas vitivinícolas ou trilhos pedestres temáticos, estamos a construir uma oferta cultural diversificada e eclética e a fortalecer a economia regional sustentada no turismo.

O IVDP não tem na sua missão poder intervir nos salários nem nas condições de habitabilidade das pessoas. Mas ao mobilizar todos os municípios da Região Demarcada do Douro em torno de uma Declaração pela Sustentabilidade da RDD, está a comprometer todos os decisores políticos locais e regionais, nesse esforço conjunto. Mais concretamente, no âmbito da sua missão, o IVDP orgulha-se de ser um parceiro cultural interveniente nas iniciativas de desenvolvimento da oferta cultural do Douro Vinhateiro, investindo em todas as ações ao seu alcance que possam tornar o Douro um forte destino cultural, para além da atração que decorre de ser uma das mais belas, porventura a mais bela, paisagem vitivinícola de montanha.

 

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