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Investigadores do Porto envolvidos em projeto europeu para prevenir obesidade infantil

“Se a atual onda de obesidade infantil não for interrompida, até 2025 mais de um em cada três adultos será obeso em alguns países europeus”, alertam investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
2 Junho 2018, 09h33

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) estão a participar num estudo europeu, financiado em dez milhões de euros, para identificar a obesidade infantil na Europa e testar as melhores abordagens para a sua prevenção.

“Se a atual onda de obesidade infantil não for interrompida, até 2025 mais de um em cada três adultos será obeso em alguns países europeus”, indicou o ISPUP, em comunicado.

Esta previsão resulta de dados obtidos nas últimas décadas, sendo importante “modificar essa tendência, que pode levar a uma situação paradoxal: pela primeira vez, praticamente ao fim de um século, a esperança de vida da geração dos filhos pode ser inferior à dos pais”, disse à agência Lusa o investigador do ISPUP Henrique Barros.

Através do projeto STOP (Science and Technology in childhood Obesity Policy), iniciado na sexta-feira, os investigadores vão procurar avaliar a obesidade em várias idades da vida, em cerca de 40 mil indivíduos, com atenção particular a crianças até aos 12 anos, adiantou.

“Isso inclui melhorar a compreensão de como o ambiente em que se vive molda o comportamento das crianças e as escolhas dos pais, desde antes do nascimento”, de forma a verificar “os primeiros sinais de mudanças biológicas que podem levar à obesidade”, segundo a nota do ISPUP.

Este estudo “tem uma importante contribuição das coortes [grupo de pessoas que possuem características em comum] do Porto – Geração 21 e Epiteen – nas quais seguimos crianças e adolescentes desde há cerca de 15 anos. No entanto, projetam-se dados para além dessas idades, com o contributo de amostras obtidas em mais seis países europeus”, indicou Henrique Barros.

O projeto, que tem a duração de quatro anos e é coordenado pelo Imperial College Business School, de Londres (Reino Unido), visa também tornar “a indústria de alimentos e outros atores comerciais responsáveis pelo que as crianças consomem”, estimulando-os “a produzir soluções inovadoras para tornar o consumo infantil mais saudável”, avançou o ISPUP.

Entre outras políticas, avaliará a possibilidade de os governos europeus usarem alavancas – como impostos, rótulos nutricionais e restrições de comercialização de alimentos e bebidas – para combater a obesidade infantil.

De acordo com o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016), promovido pela Universidade do Porto, em indivíduos entre os 3 meses e os 84 anos, a prevalência nacional de pré-obesidade é de 34,8% e de obesidade de 22,3%.

“Isso significa que seis em cada dez portugueses (60% da população) são pré-obesos ou obesos”, havendo um “aumento gradual da obesidade ao longo da idade”, notou Henrique Barros.

Segundo o responsável, “a realidade é já alarmante na população infantil”, estimando-se que 25% das crianças com menos de 10 anos e 32,3% dos adolescentes (entre os 10 e os 17 anos) possuam critérios de obesidade ou pré-obesidade, “o que reforça a necessidade de estratégias de prevenção primária de obesidade, em fases precoces da vida”.

Em 2016, acrescentou, “a obesidade posicionava-se como o 6.º fator de risco para mortalidade total e o 4º fator responsável por mais anos totais de vida saudável perdidos (11,5%) em Portugal, precedido apenas pelos hábitos alimentares inadequados (15,8%), a hipertensão arterial (13%) e o tabagismo (12,2%)”.

Para o investigador, a elevada prevalência de obesidade e pré-obesidade em Portugal, o aumento do número de novos casos, bem como a sua elevada ocorrência, desde idades muito precoces, “colocam a obesidade como um dos principais problemas de saúde pública” do país.

Iniciado na sexta-feira e contando com a participação de 31 organizações de pesquisa e governamentais de 16 países europeus, este é “o maior projeto de pesquisa na Europa para combater a obesidade infantil”, sendo a segunda “grande iniciativa financiada pela União Europeia lançada este ano”, no âmbito do programa Horizonte 2020, acrescenta a nota informativa.

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