Após alguns anos sem mudanças, é frequente que os investidores extrapolem de forma linear, sem final à vista, um determinado regime de mercado, em especial se for positivo. Em épocas de prolongados retornos positivos, baixo risco e taxas de juro perto de zero ou negativas, é normal que a generalidade dos investidores tenha dificuldade em perceber quando e se esse regime vai alguma vez mudar.

Nesse sentido, todos os investidores deveriam ter e seguir um plano para os seus investimentos/poupança, evitando assim serem vítimas dum mercado de capitais implacável. É evidente que esse plano não poderá ser restrito à aquisição sistemática do mesmo ativo, independentemente do que aconteça no mundo.

Será que os perfis mais conservadores, com mais de 90% de obrigações na sua carteira, se mantêm como de baixo risco, em especial quando as taxas de juro na Europa ainda deverão continuar a subir, apenas porque classificamos as obrigações como um ativo de baixo risco há vários anos?

Na conjuntura atual, estamos perante um período de transição no mercado financeiro. A subida da inflação está a “obrigar” os bancos centrais à volta do mundo a incrementar as taxas de juro diretoras.

Além do desafio de financiamento e solvabilidade de algumas entidades, a taxa de juro tem um efeito exponencial na determinação do preço justo dos ativos, especialmente quando os lucros ainda estão longe do horizonte. Assim, a subida de taxas de juro deverá influenciar o preço de todos os ativos, espoletando um reajustamento no posicionamento dos investidores em ativos de risco que, na última fase, deverá levar à capitulação de investimentos alavancados.

Penso que ainda não estamos na fase de capitulação, pois continuamos a ver vários gurus, gestores e investidores a apregoar a mesma receita que lhes serve em todos os regimes de mercado – “está sempre bom para comprar risco” – apesar de aleatoriamente poderem estar mais perto de acertar do que nos últimos 12 meses, ainda assim, este não é mais do que um mantra eternamente repetido.

Neste ambiente altamente volátil, ou qualquer outro aliás, a minha experiência dita um investimento em áreas que o investidor conheça e com as quais se sinta confortável, diversificando o risco e fazendo reforços periódicos no investimento, com foco na evolução da realidade global nos próximos cinco anos.

O mundo está a mudar cada vez mais rapidamente, pelo que continuar a deter ativos em várias geografias e em áreas de negócio distintas é a base elementar da diversificação de risco. Contudo, após mais de uma década como a que vivemos, com o auxílio dos bancos centrais à tomada de risco, tipicamente o mais elementar é esquecido.

O tipo de ativo a escolher também é imensamente relevante. Entre imobiliário, ações, obrigações, matérias-primas, cripto ativos ou outros, o leque de alternativas é bastante alargado.

Para cada investidor, a escolha da receita que permite misturar todos estes ingredientes é única, uma vez que deverá ter em conta os seus objetivos, o prazo de investimento e a tolerância ao risco. Infelizmente, não existe uma receita mágica e caso não tenha tempo para se dedicar recorrentemente à gestão pormenorizada de um portefólio, o mais franco conselho que lhe posso dirigir é que invista tempo em escolher uma equipa profissional, cuja interpretação dos desafios e oportunidades à volta do mundo seja feito com sentido crítico.

Porém, não delegue a escolha do gestor dos seus investimentos noutras pessoas ou entidades, por mais que os conheça desde sempre. Frequentemente, os especialistas em crédito, cartões ou outras soluções do domínio financeiro quando falam sobre investimentos limitam-se a recomendar algo de uma lista cujos critérios de seleção são da responsabilidade de “alguém” – essa entidade mística.