A combinação de vários acontecimentos aponta nesse sentido: o Secretário de Estado Mike Pompeo multiplicou-se em visitas pelo mundo fora; os EUA deslocaram equipamento bélico de monta para o Médio Oriente para fazer face a ameaças iranianas não especificadas, retiraram pessoal não-essencial da sua embaixada no Iraque e aconselharam a aviação comercial a não sobrevoar o Golfo Pérsico; o Bahrein apelou aos seus cidadãos no Irão e no Iraque para abandonarem imediatamente o país; a ExxonMobil terá evacuado todos os seus funcionários estrangeiros do campo de petróleo de West Qurna, no Iraque; ao que se acrescenta o agravamento das sanções de modo a reduzir a zero a exportação iraniana de petróleo. Mas nem sempre o que parece é.

Embora de uma forma não tão sofisticada, já vimos uma manobra semelhante com a Coreia do Norte. Uma confrontação militar com o Irão choca com o que tem sido o comportamento estratégico de Trump. Ao contrário de outros membros da sua Administração, tem aversão a intervenções militares. As suas declarações públicas têm sido sempre no sentido de se encontrar uma solução política para o problema do armamento nuclear iraniano.

O movimento de forças norte-americanas para o Golfo Pérsico visa acima de tudo enviar uma mensagem. Trump aposta na ameaça do uso da força para fazer capitular o Irão, pondo em prática aquilo que se designa por “coercive inducement” ou “coercive diplomacy”. Veremos se essa demonstração de força produzirá efeitos e, ao contrário das sanções, vergará o Irão.

Se este método não produzir efeito, poderão então prevalecer os argumentos da corrente belicista, e nesse caso não será de excluir uma operação militar. Embora não se vá repetir o Iraque, não é de pôr de parte o bombardeamento aéreo das instalações nucleares iranianas, complementado por ataques a infraestruturas críticas e edifícios governamentais, seguidos de retaliações iranianas com consequências dramáticas para a economia mundial.

Para que essa operação aconteça terá de se encontrar um pretexto. O alegado ataque a quatro petroleiros ao largo dos EAU, no dia 12 de maio, que se iriam abastecer de petróleo saudita destinado aos EUA; e o ataque perpetrado dois dias depois por drones a duas estações de bombagem de um oleoduto saudita, entre Riade e a cidade de Yanbu, poderão ter servido aquele propósito. Desconhecemos a existência de uma ligação entre os dois acontecimentos assim como o potencial envolvimento do Irão nos mesmos. Contudo, assumem agora um significado muito especial.

A estes acontecimentos junta-se a acusação norte-americana (não fundamentada) de que o Irão tem incentivado proxies regionais a atacarem interesses norte-americanos na região, nomeadamente no Iraque, o que levou o Conselho de Segurança Nacional do Iraque a pressionar as milícias pró-iranianas a não responderem a provocações.

A procura de um pretexto para se iniciar uma guerra traz-nos à memória o ataque norte-vietnamita a um navio americano na baía de Tonquim (1964), que nunca existiu, utilizado pelo então presidente norte-americano Lyndon Johnson para justificar a escalada dos bombardeamentos e a guerra; ou, em 2003, o recurso às armas de destruição massiva para justificar a invasão do Iraque. Poderemos vir a ser novamente confrontados com uma situação semelhante.