Ficou para a história como o maior industrial português de todos os tempos. “Não nasci financeiro, nasci industrial, desde tenra idade que dei provas disso”, afirmou um dia. Cem anos após o nascimento de António Champalimaud, data assinalada no passado dia 19, a história irá recordá-lo também como um dos últimos grandes banqueiros do nosso país, ao lado de outros como António Cupertino de Miranda ou José Manuel de Mello.

Em 1975, os trabalhadores reclamavam continuamente a nacionalização de sectores estratégicos da economia portuguesa como a Banca e os Seguros, o que veio a acontecer. Mas com as privatizações, na década de 80 e 90, regressaram os banqueiros e empresários de outrora. Espírito Santo, José Manuel de Mello e Champalimaud voltaram à banca, investiram em participações noutros sectores, reconstruíram o seu património. Foram criados de raiz o BPI com Artur Santos Silva, e o BCP com Américo Amorim e Jardim Gonçalves, entre outros, e o sector bancário recuperou a sua robustez.

Passados 30 anos das Privatizações, a banca continua a ser um sector chave para a economia nacional, mas os Mellos, os Champalimauds, os Amorins, os Roques, os Espíritos Santos já não são os donos dos bancos, que continuam a existir, e não surgiram outros Empreendedores Financeiros, e estes estão incorporados em centros de decisão externa. Temos apenas um banco do Estado (a Caixa Geral de Depósitos), um banco cooperativo (Caixa Agrícola), um banco associativo (Montepio Geral) e a iniciativa privada portuguesa desapareceu, restando a estrangeira.

A verdade é que a liberalização da banca resultou no desaparecimento de muitas marcas e na concentração do negócio em poucos bancos. A questão é que não tinha de resultar necessariamente em 100% de exposição externa! A banca privada estrangeira, atenta, aproveitou, mas nos seus países de origem os estados protegeram e não o permitiram. Portugal também o devia fazer, até por uma questão de soberania e independência nacional.

Não quero com isto defender que a banca estrangeira não deve operar em Portugal, pelo contrário, é diversificada, estruturada, universal e concorrencial. O que gostaria era que atingíssemos um saudável equilíbrio entre o capital privado português (e consequentes centros de decisão) e o capital privado estrangeiro. O apoio financeiro às empresas portuguesas não pode estar totalmente dependente de interesses empresariais internacionais. Para bem da nossa economia, para bem de todos nós.