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KPMG sugere reformas no futebol para evitar novas tentativas de Superligas

O FC Porto de 2004 é mencionado como um exemplo da falta de competitividade das ligas periféricas, tendo sido o único clube fora dos ‘Big 5’ a vencer a competição nos últimos 20 anos. Para melhorar esta situação, a consultora sugere reformas ao nível do fair-play financeiro, da calendarização e do modelo de governança do futebol europeu.
23 Abril 2021, 18h20

No rescaldo da tentativa de 12 clubes europeus de criarem a sua Superliga privada, a KPMG sugere reformas no futebol do Velho Continente que permitam atacar os problemas que levaram a este projeto, nomeadamente ao nível da calendarização, governança e do sistema de fair-play financeiro (FFP).

O departamento da consultora dedicado ao sector futebolístico antecipa que sem as alterações necessárias ao atual modelo, as conversações paralelas entre os clubes com maior poderio financeiro manter-se-ão, pelo que urge abordar as questões desequilibram a modalidade na Europa.

O relatório começa por referir a transição dos clubes de instituições desportivas para empresas, o que levou a que as equipas com maior sucesso se tenham transformado em verdadeiras marcas globais. Assim, e tomando partido de um novo paradigma de comunicação no qual a presença nas redes sociais e plataformas de streaming é extremamente importante, os próprios adeptos alteraram o seu consumo da modalidade, especialmente junto das camadas mais jovens.

Como na maioria das empresas, os clubes de futebol apresentam necessidades de estabilizar cash-flows que, ainda antes da pandemia, não se coadunavam com o modelo de pagamentos da UEFA, onde o risco desportivo afeta fortemente o financeiro. Juntando a isso os efeitos da pandemia e um desejo de maior controlo sobre as decisões sobre os regulamentos das competições, estas equipas viram uma boa oportunidade de tirar maiores lucros de um modelo competitivo diferente.

A KPMG destaca, a título de exemplo da dimensão mediática dos 12 fundadores da Superliga, os 1,336 mil milhões de seguidores que as suas contas de redes sociais juntam, que comparam com os 998 milhões das restantes 86 equipas dos cinco maiores campeonatos europeus. Este segundo número inclui, por exemplo, o Bayern de Munique, atual campeão europeu e a caminho da nona Bundesliga seguida.

Para fazer face a este fosso do ponto de vista financeiro, a consultora defende uma alteração no modelo de FFP que se foque menos no break-even a nível de transferências e considere outros mecanismos de controlo de custos que considerem a operação toda dos clubes. Uma sugestão, embora complicada devido às leis da concorrência da UE, seriam tetos salariais por equipa.

Adicionalmente, são sugeridas reformas na calendarização dos jogos que permitam mais encontros internacionais de alto nível, algo que seria facilitado pela passagem de algumas ligas de 20 para 18 equipas.

Recorde-se que em Portugal foi recentemente apresentada uma proposta desta natureza, em que o campeonato passaria de 18 para 16 clubes.

Finalmente, a consultora reconhece que as preocupações destes 12 clubes têm racionalidade económica, na medida em que são eles que geram mais receitas e investimento na indústria, mas as suas preocupações relativamente a reformas não são proporcionais. O relatório destaca a acusação de que o atual modelo da Liga dos Campeões não maximiza os lucros do evento, mas pede igualmente medidas que melhorem a sustentabilidade da pirâmide do sector.

O relatório fecha com uma menção ao FC Porto, a única equipa nos últimos 20 anos a vencer a competição fora dos cinco principais campeonatos europeus e uma das únicas três a atingirem as meias-finais, um sinal claro da falta de competitividade dos mercados menos desenvolvidos contra as chamadas ‘Big 5’.

Assim, é feita a sugestão de novas ligas regionais, em que vários países disputam uma só competição, de forma a melhorar a qualidade dos clubes envolvidos. O exemplo mencionado, uma liga conjunta entre Bélgica e Países Baixos, teria potencial para se afirmar como a sexta maior da Europa.

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