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CDS-PP e PEV deixam de ter representação parlamentar quatro décadas depois

Os dois partidos não conseguiram eleger deputados nas eleições realizadas a 30 de janeiro e vão ficar fora da Assembleia da República. O CDS-PP tinha representação parlamentar desde a Assembleia Constituinte. O PEV desde 1983.
  • Manuel de Almeida/Lusa
1 Fevereiro 2022, 18h00

Na próxima legislatura, a Assembleia da República terá menos dois grupos parlamentares, o do Centro Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP) e o do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), que não conseguiram eleger deputados nas eleições legislativas realizadas a 30 de janeiro.

O CDS-PP estava representado na Assembleia da República há 47 anos, desde a Assembleia Constituinte, quando, ainda como só Centro Democrático Social obteve 6,4% dos votos e elegeu 16 deputados, afirmando-se como a quarta força política, num Parlamento que contava com 250 deputados.

Em 2019, nas anteriores legislativas, o CDS, presidido ainda por Assunção Cristas, tinha obtido 4,22% dos votos (221,7 mil votos) e eleito cinco deputados, pelos círculos de Lisboa (dois), Porto, Braga e Aveiro, mas pouco mais de dois anos depois obteve, apenas, 85,6 mil votos, representando 1,66% do total, o que não lhe permitiu conquistar qualquer mandato.

“Este é um mau resultado para o CDS”, afirmou o seu presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, depois de conhecidos os resultados das legislativas. “É um dia triste”, sublinhou. Tirando consequências, demitiu-se da presidência. “Este resultado não deixa margem para dúvidas de que deixei de reunir condições para continuar a liderar o CDS-PP”, afirmou.

O PEV tinha representação parlamentar desde 1983, quando elegeu António Gonzalez deputado, nas listas da Aliança Povo Unido (APU), que juntava o Partido Comunista Português (PCP), o PEV e o Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE). Em 1987, já na Coligação Democrática Unitária (CDU), que junta PCP e PEV, elegeu dois deputados, número que manteve até agora, sempre nas listas da CDU. Nas anteriores legislativas, em 2019, a coligação conquistou 12 mandatos.

Numa declaração em vídeo, José Luís Ferreira, deputado e membro da comissão executiva do PEV, responsabiliza a bipolarização “construída com o propósito muito claro de beneficiar PS e PSD” pelos resultados do partido nas legislativas de 2022. Não atira a toalha ao chão e promete apostar noutras formas de intervenção, “ao nível do poder local, dos Verdes europeus” e com iniciativas próprias. “O compromisso para o futuro é continuar a trabalhar para afirmar os valores em que acreditamos”, disse.

Da Constituinte à saída

O CDS tem representação parlamentar desde que o regime democrático foi instaurado. Depois da Constituinte, presidido por Diogo Freitas do Amaral, em 1976, nas primeiras legislativas, conquista 42 mandatos e passa a ser a terceira força política, a seguir ao Partido Socialista (PS) e ao então Partido Popular Democrático (PPD), que passa a chamar-se Partido Social-Democrata (PSD), a partir do final desse ano.

A representatividade do CDS cresce até ter 46 deputados, em 1980, quando a Aliança Democrática – coligação que integrava o PSD, o CDS e o Partido Popular Monárquico (PPM) – obteve uma maioria absoluta, com 134 deputados, em 250. Foi a maior representação que teve, perdendo-a nas três legislativas seguintes, até aos quatro mandatos conquistados em 1987, já num Parlamento com 130 deputados, no que ficou conhecido como o “partido do táxi”, registando a sua mais baixa representação parlamentar, que não voltou a repetir.

Em 2011, presidido por Paulo Portas, regista um novo pico, com 11,7% dos votos e 24 mandatos conquistados, que permitiram uma maioria absoluta com o PSD de Pedro Passos Coelho. Em 2015, em coligação com o PSD, elege 18 deputados, vence as eleições, mas é derrotado pela maioria de esquerda na Assembleia da República, com o Partido Socialista (PS), com António Costa a secretário-geral, a formar governo, apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda.

Na próxima legislatura, com o fim da representação parlamentar de CDS-PP e PEV, depois de registado o recorde de 10 grupos parlamentares, em consequência das legislativas de 2019, a Assembleia da República ficará mais pobre, menos diversa.

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