No Dia Internacional da Mulher faz ainda mais sentido recomendar uma exposição que merece ser vista sem qualquer outro pretexto que não seja o talento das mulheres fotógrafas que a integram.
De câmara fotográfica em punho, desbravaram o seu caminho, vergando preconceitos e trazendo o olhar da mulher para o universo da fotografia. Nesta mostra, reúnem-se 27 olhares de 27 mulheres fotógrafas, de diferentes origens, representadas na Coleção Nacional de Fotografia. Mulheres “cujas práticas individuais contribuíram para a excelência da narrativa fotográfica” e que tiveram a coragem de se afirmar numa profissão “dominada pelos homens”, como realça o Centro Português de Fotografia (CPF).
O objetivo desta mostra coletiva sobre “o papel das mulheres que, durante séculos, se circunscreveu ao lar ou à reclusão monástica”, é colocar em evidência o seu “novo protagonismo no final do século XIX e início do século XX, quando muitos paradigmas foram postos em causa, designadamente a emancipação das mulheres e o seu desenvolvimento em diversas áreas e atividades da vida social”, como se pode ler na sinopse da exposição.
Por todas estas razões, Margaret Bourke-White não poderia estar ausente desta mostra. Aquela que é reconhecida como a primeira fotógrafa de guerra dos EUA, é autora de fotografias marcantes em momentos históricos do século XX, como o Holocausto e a Grande Depressão. Ainda do outro lado do Atlântico, as ruas de Nova Iorque e as mudanças desta grande cidade durante as duas Grandes Guerras foram registadas por Berenice Abbott.
Do mundo anglo-saxónico, destaque ainda para a britânica Julia Margaret Cameron, uma das fotógrafas mais inovadoras do século XIX, com os seus retratos oníricos e pouco convencionais, que cruzavam temas místicos e literários. Para a austríaca-britânica Edith Tudor Hart, discípula da Bauhaus, e para a americana Doris Ulmann, que retratou os trabalhadores afro-americanos nas plantações do sul dos EUA.
A portuguesa Helena Almeida, que se afirmou como uma das artistas plásticas mais proeminentes da segunda metade do século XX, foi construindo uma obra que reflete intensamente sobre a autorrepresentação e que extravasa fronteiras disciplinares. Ao passo que a franco-suíça Sabine Weiss Weber foi descrita, por altura da sua morte, em 2021, como “a última fotógrafa humanista”. A mostra inclui, ainda, a portuguesa Vieira da Silva, aqui retratada pela russa Ida Kar, que “nunca conseguiu integrar-se no ambiente fotográfico, cada vez mais comercial na década de 60”.
“Lente Feminina”, ou 27 fotógrafas a olhar o mundo que as rodeava, enquanto procuravam romper com os espartilhos de que eram alvo. Para ver no Centro Português de Fotografia, no Porto, até dia 22 de maio.
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