Sou dos que acham que os jovens de hoje obtêm, no sistema de ensino, competências, saberes e experiências que lhes dão ferramentas e vantagens que as gerações anteriores não possuíam.

De tanto se ver repetida a ideia “no meu tempo é que era bom”, perdeu-se completamente a racionalidade da análise e, consequentemente, a capacidade de propositura.

Ora, a situação actual do mundo vem chamar-nos a atenção para as desvantagens da parcialidade do ensino e para a necessidade de deixar de tudo sacrificar no sacrossanto altar das chamadas ciências exactas.

Aqueles que fizeram a sua formação nos anos sessenta e setenta do século passado e que tinham nos seus curricula a aprendizagem da geografia e da história percebem, ao ver as actuais imagens da guerra, como apenas lhes deram a conhecer uma parte do mundo e uma parte da humanidade.

Se a cortina de ferro foi para o Leste o terror da ditadura, para nós, foi um limite despropositado ao conhecimento. Somos uma geração de europeus que só conheceu “meia Europa”.

Parece-me, do que vou sabendo, que os curricula de hoje, por razões seguramente diferentes, não darão aos jovens o imprescindível conhecimento do mundo, da humanidade, nas suas diversas localizações e posições relativas, nem, tão-pouco, os diversos percursos que a humanidade, na sua milenar diversidade, foi percorrendo.

E assim se vai criando um Homem que terá cada mais dificuldade em compreender a humanidade, as suas dinâmicas, as suas tensões, os seus ódios, os seus amores.

Como em muitas outras circunstâncias, François Mitterrand tinha razão quando disse a frase que tomámos para título desta crónica. Mas, importa dizê-lo, no mundo global em que temos vivido, e certamente quereremos continuar a viver, a frase inscrita no Templo de Delfos e vulgarizada na sua tradução latina Nosce te ipsum, ganha uma nova e mais responsabilizadora dimensão humana.

Quando as armas se calarem há um combate que se mantém, o do conhecimento. Só este pode fazer sair vitoriosa a tolerância e a dignidade da pessoa humana.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

* “A história passa pelos mesmos caminhos que a geografia”, François Mitterrand