Os CEO das empresas portuguesas cotadas em bolsa recebem, em média, 32 vezes mais do que os seus trabalhadores, de acordo com um relatório da DECO Proteste que teve por base a análise da diferença entre as remunerações anuais dos CEO e dos seus trabalhadores nas principais empresas portuguesas.
A Jerónimo Martins tem a maior disparidade salarial da lista de empresas analisadas, seguida da Sonae e da Mota-Engil.
Em 2021, o Presidente da Comissão Executiva da Jerónimo Martins recebeu 3 075 milhões de euros, um aumento de 19,3% em relação ao ano anterior. Segundo a DECO Proteste, em causa está um valor 262,6 vezes superior à média dos salários dos restantes funcionários do grupo.
Estes dados “ajudam a perceber as grandes diferenças em matérias de remuneração dos CEO em Portugal. Em teoria, a política de remunerações necessita do voto vinculativo dos acionistas. No entanto, a declaração sobre a política de remunerações é, na prática e na maioria dos casos, muito vaga e não permite que seja votada, de forma individualizada, a remuneração dos membros do conselho de administração, ao contrário do que defendemos”, comentou João Sousa, Coordenador da Proteste Investe.
De acordo com João Sousa, “é desejável que a remuneração de cada administrador seja objeto de votação anual em assembleia geral de acionistas. Outro aspeto importante é fixar um máximo para o rácio entre a remuneração do presidente da comissão executiva e a média dos restantes trabalhadores. Ainda que possa variar em função do setor de atividade, é necessário haver limites”.
A CEO da Sonae garante uma remuneração 77,4 vezes superior à dos trabalhadores da empresa e o CEO da Mota-Engil aufere anualmente um salário 73,3 vezes mais elevado do que a média das remunerações do grupo.
“As áreas geográficas de atuação de algumas das empresas analisadas ajudam a explicar estas diferenças, tendo em conta o contexto social e económico de alguns países pouco desenvolvidos em África ou na América Latina. Porém, a disparidade é bastante elevada”, explica a DECO Proteste numa nota enviada à imprensa.
De acordo com a organização de defesa do consumidor, entre as 14 de 15 empresas no índice PSI (não considerando a GreenVolt dado que entrou recentemente), e a Cofina, Impresa e Novabase, as diferenças são significativas, existindo um rácio superior a 20 em 11 das 17 empresas analisadas
“Para o conjunto das 17 empresas, o rácio passou, entre 2020 e 2021, de 29,6 para 32,2. Na base desta subida está, sobretudo, o aumento da remuneração variável dos CEO (+27,8%), nomeadamente na Mota-Engil, Navigator, BCP, Impresa, EDP, Sonae e Semapa, que pode ser parcialmente explicado pela melhoria dos resultados das empresas, mas não na sua totalidade. Em comparação, o vencimento médio dos restantes trabalhadores aumentou, no mesmo período, apenas 2,7 por cento”, explica a organização na mesma nota.
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