Serão as cidades espaços privilegiados de oportunidade para todos? Um estudo do think tank Edulog, baseado nos municípios portugueses, veio contrariar esta representação ao revelar que, entre os alunos do estrato socioeconómico mais baixo, os piores resultados escolares estão em Lisboa e no Sul do país, contrastando com as regiões mais industrializadas a Norte.

A evolução em paralelo da urbanização e do aumento da desigualdade tem contribuído para argumentar que poderão estar relacionados – a superconcentração de capital e de bons empregos nos centros urbanos sublinhando as diferenças.

A concentração populacional e a densidade urbanas são também responsabilizadas pela maior desigualdade e até segregação. No caso do território nacional, as conclusões sobre desempenho escolar podem ser interpretadas à luz das suas dinâmicas populacionais recentes – segundo o INE, o Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa foram as únicas regiões onde se registou crescimento populacional entre 2011 e 2021, a última em cerca de 49 mil habitantes.

Especialistas em estudos urbanos como Ricky Burdett, da London School of Economics, têm mostrado que a desigualdade social é cada vez mais espacializada. Sob este prisma, Lisboa e a sua escala geram uma organização estratificada do espaço que potencia a discriminação socioeconómica por bairros e tem repercussão na escola. Ironicamente, podemos atribuí-lo ao progresso.

Só que o fenómeno tem características de círculo vicioso – quando a escola não é capaz de inverter a segregação em comunidades fechadas, a tendência é perpetuar as desigualdades por gerações e vizinhanças. Segundo os autores Edward Glaeser, Matt Resserger e Kristina Tobio, um terço da desigualdade nas cidades é assim um reflexo da desigualdade nas qualificações das suas populações.

Mas para que todos possam ser bem-sucedidos na escola, são necessárias políticas que consigam transformar o espaço urbano. É indispensável promover habitação acessível para permitir gerar bairros com populações com rendimentos diversificados e criar bons transportes públicos que liguem a cidade e garantam o acesso das suas populações aos centros de emprego e às escolas. Em suma, é preciso inverter a guetização da cidade.

Recentemente, em Paris, assistimos a cenas de enorme violência cujas razões menos imediatas radicam nas clivagens socioeconómicas que caracterizam esta cidade. Compete-nos fazer um esforço para que esta não se torne a canção de Lisboa.