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Lockerbie, um caso para esquecer

A 5 de Abril de 1999, Kadafi entregou à Justiça europeia os dois responsáveis pelo atentado aéreo. Ilibou o IRA, que Margaret Thatcher anunciara ser o culpado e ganhou um lugar no Ocidente que não lhe serviu para nada.
5 Abril 2017, 07h45

O atentado de Lockerbie foi um ataque terrorista ao voo 103 da Pan Am, perpetrado em 21 de Dezembro de 1988, em que morreram 270 pessoas (11 das quais em terra, atingidas pelos destroços). Um Boeing 747 partiu do Aeroporto de Heathrow, em Londres, com destino a Nova Iorque, tendo explodido em pleno voo quando sobrevoava a cidade escocesa de Lockerbie. Foi muito rapidamente evidente que se tratava de um atentado, e o governo britânico chefiado por Margaret Thatcher chegou aos culpados ainda mais rapidamente: o Exército Republicano Irlandês (IRA).

No final das investigações, a polícia concluiu que o IRA não tinha tido nada a ver com o atentado, e que os seus responsáveis eram dois líbios, Al Megrahi e Lamin Jalifa Fhimah – o que queria dizer, acreditava o governo britânico, que o presidente líbio al Kadafi era o verdadeiro culpado. O governo líbio passou os anos seguintes a desmentir em primeiro lugar, e finalmente a não aceitar entregar os dois responsáveis à Justiça. Mas, o fim das sanções impostas ao país e a assunção da culpa fez com que Kadafi voltasse atrás e entregasse os suspeitos à Justiça europeia em 5 de Abril de 1999, 11 anos depois do atentado. Kadafi aceitou também pagar mais de 2,7 mil milhões de dólares de indemnizações aos familiares das vítimas, tendo em troca sido aceite como líder da Líbia pelo Ocidente.

Kadafi passou então a ser uma espécie de viajante exótico que, quando visitava os países ocidentais, se fazia acompanhar de tendas, mobiliário, gastronomia e demais parafernália – e o facto de estar ‘sentado’ em cima de um poço de petróleo tudo parecia desculpa. Até à Primavera Árabe: quando o Ocidente pareceu perceber que as movimentações iniciadas na Tunísia em 2010 iriam acabar por implantar regimes democráticos, Kadafi deixou rapidamente de ser um amigo para passar a ser um proscrito, até ser publicamente chacinado, em 20 de Outubro de 2011.

A triste história, construída sobre mais de duas centenas e meia de cadáveres, demonstra bem as precipitações, os avanços e recuos, as más decisões e a geral falta de estratégia que costuma acompanhar uma parte substancial dos políticos ocidentais.

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