[weglot_switcher]

Mais pessimista do que o Governo, Banco de Portugal estima recessão de 8,1% este ano

O Banco de Portugal explica que este cenário será reflexo de uma queda homóloga de 9,4% no primeiro semestre e de uma recuperação na segunda metade do ano, que se traduz numa variação homóloga de -6,8%. 
  • Cristina Bernardo
6 Outubro 2020, 11h53

O Banco de Portugal (BdP) está mais pessimista do que o Governo e prevê uma contração da economia de 8,1% este ano, ainda assim abaixo do tombo de 9,5% que previa em junho. No Boletim Económico de outubro, publicado esta terça-feira, o regulador  explica que este cenário resultará de uma queda homóloga de 9,4% no primeiro semestre e de uma recuperação na segunda metade do ano, que se traduz numa variação homóloga de -6,8%.

O Governo prevê uma recessão de 6,9% para este ano – cenário macroeconómico que pode ser actualizado no Orçamento do Estado para 2021. O BdP torna-se assim a única entre as principais instituições nacionais e internacionais a prever uma queda do PIB abaixo dos 9% (com excepção do FMI, cujas últimas projeções foram publicadas em abril e previa uma recessão de 8%). O Conselho das Finanças Públicas vê a economia a encolher 9,3%, a Comissão Europeia estima uma queda de 9,8% e a OCDE uma contração de 9,4%. Apenas o FMI, mas com projeções ainda de abril, prevê uma recessão de 8%.

“A projeção agora apresentada revê 1,4 pp em alta a previsão de junho, reflexo de um impacto mais reduzido do confinamento na economia portuguesa e de uma reação das empresas e famílias melhor do que a antecipada”, explica a instituição liderada por Mário Centeno, que esta terça-feira apresentou o relatório, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.

O regulador bancário assinala que se registou uma queda da atividade no segundo trimestre (-16,3%, em termos homólogos) “menos profunda do que o antecipado” e que o comportamento da economia portuguesa acompanhou a evolução do PIB da zona euro, “que de acordo com as projeções do Banco Central Europeu, diminuirá 8% em 2020, uma redução também inferior à anteriormente projetada”.

“A recuperação parcial do PIB português no segundo semestre resulta da manutenção de restrições à atividade em alguns setores, do clima de incerteza e dos impactos na capacidade produtiva. A heterogeneidade setorial manter-se-á na fase da recuperação, com o turismo e os serviços mais expostos a contatos pessoais a recuperarem menos”, refere.

No entanto, em sentido contrário, o setor da construção “tem registado uma evolução positiva, permanecendo relativamente insulado dos fortes impactos negativos da crise pandémica noutros setores”.

Em resultado das medidas de resposta à crise, antecipa-se um aumento de 1,2% do consumo público em 2020, sendo a única das principais componentes da despesa com um crescimento real no ano, explica o relatório do regulador, que assinala que na dimensão externa, se regista uma quebra das exportações de bens e serviços de 19,5% este ano, enquanto as importações de bens e serviços deverão diminuir 12,4%.

“A queda das exportações de turismo é a principal razão para que a balança de bens e serviços passe a deficitária, determinando a deterioração do saldo da balança corrente e de capital. Em 2020, a economia portuguesa registará necessidades líquidas de financiamento face ao exterior de 0,6% do PIB, o que acontece pela primeira vez desde a anterior crise”, refere, acrescentando que “quanto aos preços, prevê-se que a inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor, se situe em 0%”.

O BdP diz ainda que “as perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa continuam rodeadas de incerteza”, pelo que “a recuperação na segunda metade do ano constitui uma mais rápida e marcada inversão do ciclo do que a observada nos anteriores episódios recessivos”. Ainda assim, “não é de excluir que o prolongamento da crise pandémica cause uma retração na recuperação da despesa e da oferta”.

(Atualizado às 12h45)

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.