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BCE pode anunciar redução de volume de compra de ativos do PEEP, acreditam especialistas

Numa altura em que os ‘falcões’ do BCE aumentam a pressão sobre o PEPP, especialistas acreditam que a autoridade de política monetária da zona euro poderá recalibrar o programa. Ainda assim, as grandes decisões sobre o fim do programa deverão ficar para a reta final do ano.
9 Setembro 2021, 08h00

Uma redução do volume de compra de ativos ao abrigo do Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), regressando ao ritmo anterior à decisão anunciada em março com o agravamento da pandemia, que levou a novos confinamentos na Europa, é a decisão mais aguardada pelos analistas da reunião desta quinta-feira do Banco Central Europeu (BCE), que acreditam que a instituição liderada por Christine Lagarde irá continuar a reiterar a confiança de que o aumento da inflação é “transitório”.

“Esperamos que o BCE anuncie uma redução no volume de compras de ativos no âmbito do PEPP e um regresso às compras ao ritmo anterior, prévio à aceleração anunciada em março”, assinala Franck Dixmier, global CIO fixed income da Allianz Global Investors, numa nota de research.

O analista argumenta que o atual contexto atual levanta dificuldades a Frankfurt para justificar a manutenção do ritmo mais elevado de compras de ativos, uma vez que as condições financeiras na zona euro se revelam atualmente mais favoráveis. Como exemplo, aponta as quedas dos juros de longo prazo na sequência das tensões observadas no segundo trimestre, enquanto as expetativas de subidas de juros se deslocaram para o horizonte de 2024.

“O crescimento surpreendeu positivamente, à medida que os programas de vacinação aceleraram fortemente nos últimos três meses, ainda que permaneçam as incertezas devido à variante Delta. Esperamos, portanto, o anúncio de um regresso ao plano inicial”, refere, salientando que tal está em linha com a declaração de Philip Lane de que, se o objetivo do PEPP, nomeadamente a manutenção de condições financeiras favoráveis, pudesse ser alcançado com um menor volume de compras de ativos, o banco central poderia recalibrar o seu programa.

Um sinal também esperado pelos economistas da Pictet Wealth Management, que numa nota de antevisão para esta semana, antecipam que o BCE “pode dar orientações sobre a redução das suas compras do PEPP no quarto trimestre de 2021”.

Ainda assim, os analistas acreditam que ainda é cedo para que o BCE avance com decisões sobre o fim do PEPP. Para Carsten Brzeski e Antoine Bouvet, analistas do ING, o BCE não deverá anunciar o tapering, no entanto, admitem que “a questão é se o BCE deseja comunicar um muito hipotético plano de saída nas entrelinhas. Isso é provavelmente o que o falcões têm pressionado com os seus comentários mais recentes”.

Um anúncio que os economistas do Goldman Sachs esperam que apenas se concretiza em novembro. “Embora esperemos que o Conselho do BCE tenha uma discussão inicial sobre as condições necessárias para terminar o PEPP, não esperamos notícias significativas sobre o cenário pós-PEPP nesta reunião. Em vez disso, as decisões sobre a transição do PEPP para o Quantitative Easing pós-pandémico irão começar na reunião de outubro com um anúncio a seguir em dezembro”, referem numa nota de research.

Para já Franck Dixmier acredita que uma redução do volume de compras “deve satisfazer os falcões”, dando como exemplo que Robert Holzmann, governador do Banco da Áustria, e Klaas Knot, governador do banco central dos Países Baixos, disseram ser a favor dessa redução depois da divulgação dos números da inflação na zona euro em agosto, que superou as estimativas com um aumento de 3% face aos 2,2% em julho, a mais alta em 10 anos.

“Este aumento de preços também se reflete no IPC subjacente, que, nos 1,6%, está no seu nível mais alto desde 2012. No entanto, espera-se que o BCE continue a enfatizar a natureza temporária do aumento da inflação, principalmente devido à escassez do lado da oferta e aos efeitos de base”, diz.

Carsten Brzeski e Antoine Bouvet recordam, neste sentido, que durante o verão, o BCE tornou-se claramente mais tolerante com a sua nova estratégia de política monetária. “A intenção clara é trazer as expectativas de inflação de forma sustentável para 2% e alterar o guidance para as taxas de juro. Essa nova dovishness adicional foi confirmada por comentários e entrevistas recentes de Philip Lane e Isabel Schnabel, que enfatizaram principalmente que uma inflação muito baixa ainda era um risco muito mais grave do que uma inflação muito alta”, explicam.

Certo é que as projeções económicas deverão ser melhoradas face às estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,6% em 2021, 4,7% em 2022 e 2,1% em 2023, tal como já havia sido sinalizado recentemente pelo vice-presidente do banco central, Luís de Guindos.

“Esperamos que o BCE permaneça construtivo quanto às perspetivas da atividade, apesar das renovadas incertezas sobre a Covid e esperamos uma melhoria notável para a projeção de crescimento para 2021, à luz de um segundo trimestre forte”, vincam os analistas do Goldman Sachs.

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