Os frequentadores das redes sociais andaram entretidos nestes últimos dias a comentar o facto de Marcelo ter surgido a anunciar a decisão da Fitch sobre o rating de Portugal mesmo antes de esta se ter pronunciado. Nada de muito surpreendente. Quando o quadro parece ser positivo, o Presidente não deixa que a divulgação seja feita por outros. É o novo modelo de separação de poderes instituído entre Belém e São Bento.

A expressão “Soares é fixe” fez história na política portuguesa e pretendia ilustrar a forma descontraída e bem-disposta daquele que em 1986 se apresentava como candidato presidencial. Numa versão mais moderna, e que por isso tem de incluir anglicismos, poderemos agora dizer que “Marcelo é fitch” para ilustrar a forma como o Presidente da República está a marcar o início do seu mandato.

Não se pretende com isto ilustrar a postura comunicativa do Presidente, pois para isso já temos a imagem dos afetos. O que se pretende dizer com esta expressão é que Marcelo continua a ser, tal como no seu tempo de comunicador televisivo, um verdadeiro agente de notação política. Descreve, examina, avalia e atribui pontuação.

Tenho aqui escrito em artigos anteriores que este Presidente da República contribuirá para a estabilidade política e para conservar o atual modelo governativo, enquanto o povo português entender que essa é a melhor solução. Quando o vento mudar, se mudar claro está, teremos em Belém o principal agente da desestabilização do inovador quadro político português.

O ano de 2016 correu melhor do que era esperado. Todos o sabem e quase todos o confessam. Mas 2017 está aí cheio de perigos à espreita. A subida vertiginosa das taxas de juro desde que o BCE deixou de garantir a compra de toda a dívida emitida; a impossibilidade de lançar reformas internas profundas em razão da falta de suporte das esquerdas unidas; a persistente crise do sistema financeiro; a necessidade crescente de reforçar financeiramente os sistemas educativo, de saúde e de segurança social; a urgência de aumentar o investimento público quando não há recursos para tal, constituem alguns dos principais problemas que António Costa terá pela frente nos próximos meses.

Apesar da distração que umas eleições como as autárquicas sempre poderão trazer, não será possível esconder que 2017 será um ano em que pouco ou nada acontecerá. Isso é muito mau para a imagem externa de um país em que muita coisa deveria estar a acontecer. Pior será se porventura os indicadores económicos se deteriorarem. E com o que aí vem de mudanças na Europa e no Mundo não será de estranhar que o nosso problema de crescimento anémico e de dívida insuportável se possam agravar.

Lá para outubro, depois das autárquicas e no momento da apresentação do Orçamento do Estado para 2018, logo veremos se o agente de notação política “Marcelo fitch” não fará descer mais alguns degraus para além do nível “lixo” o rating da geringonça.