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Madeira vai liderar projeto de 3,4 milhões para reduzir colisões entre baleias e navios no Atlântico

O projeto liderado pelo MARE-Madeira/ARDITI conta com 15 parceiros de quatro países: Portugal, Irlanda, Espanha e França. Objetivo passa por testar tecnologias que reduzam a incidência de colisões entre baleias e navios, um problema que é generalizado no Atlântico.
7 Setembro 2023, 07h30

O Centro de Ciências do Mar e do Ambiente/Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação (Mare-Madeira/ARDITI), da Região Autónoma da Madeira vai liderar o projeto Atlantic Whale Deal que terá um financiamento de 3,4 milhões de euros, que conta com 15 parceiros de quatro países (Portugal, Espanha, França, Irlanda), e que tem como objetivo testar tecnologias que reduzam a incidência de colisões entre baleias e navios, um problema que é generalizado no Atlântico.

A liderar o projeto, que se deverá iniciar em dezembro, estarão Filipe Alves e Marc Fernandez, investigadores do MARE-Madeira/ARDITI, com Filipe Alves a ser o investigador principal deste projeto.

Este programa realiza-se no âmbito do programa Interreg Atlantic Area, e do financiamento global de 3,4 milhões de euros, o maior beneficiário será o MARE-Madeira/ARDITI para onde serão canalizados 679 mil euros.

Ao Jornal Económico, Marc Fernandez confirma que a colisão entre navios e baleias é um “problema generalizado” em muitas áreas. Nas ilhas Canárias, estes incidentes têm constituído “um grave problema” com 71 colisões documentadas entre 1991 até 2020, salienta o investigador. Já na Galiza, este investigador sublinha que foram reportadas dez colisões entre navios e baleias entre 1999 e 2018.

Marc Fernandez realça ainda que nos Açores existiu uma colisão em 2015. Para a Madeira, este investigador refere que não existe um registo concreto sobre o número de colisões; contudo sublinha que um artigo científico, publicado na International Whaling Commission, que pode ser consultado aqui, alerta para um “risco elevado” de colisões poderem acontecer na Madeira.

“Um estudo recente estima que para o Atlântico foram reportadas um total de 583 colisões desde 1820 até 2019. No entanto, é preciso ter em consideração que muitos destes incidentes podem ser subestimados devido à falta de estudos e porque esses eventos ocorrem em mar aberto”, diz Marc Fernandez.

O investigador do MARE-Madeira/ARDITI reforça que é preciso também levar em conta que uma baleia morta por uma embarcação nas Canárias pode ter passado alguns dias antes pela Madeira.

“As grandes baleias são seres que realizam grandes migrações, portanto, o que acontece em áreas específicas do Atlântico terá um efeito numa área muito maior. Por essa razão, este projeto foi concebido como um projeto Atlântico que procura testar soluções em áreas específicas para resolver um problema global”, explica o investigador.

Este projeto prevê testes pilotos no espaço atlântico europeu. Marc Fernandez confirma que estes pilotos da tecnologia (sensores visuais e acústicos) serão testados nas ilhas Canárias, Açores e Irlanda.

“Ao mesmo tempo, mapas de risco de colisão e modelos estatísticos serão usados para inferir a probabilidade de colisões de baleias com vários tipos de embarcações em todas as regiões atlânticas envolvidas no projeto”, acrescenta Marc Fernandez.

O projeto tem o propósito, através deste mapas de risco de colisão e modelos estatísticos, de fornecer dados de relevo quer a governos, quer à própria indústria, para a implementação de medidas que reduzam os riscos de colisões, entre baleias e navios, e também na altura de estabelecer rotas de navegação.

Através da redução das colisões, entre navios e baleias, pretende-se aumentar o sequestro de carbono, salienta o projeto, liderado pelo MARE-Madeira/ARDITI, que destaca a importância que as baleias têm no equilíbrio do ecossistema oceânico.

“De acordo com um estudo recente do Fundo Monetário Internacional, cada grande baleia sequestra uma média de 33 toneladas de Dióxido de Carbono (CO2), substancialmente mais do que as plantas, que recolhem 2,2 toneladas numa vida útil de 100 anos. As baleias contribuem assim para a regulação climática e mitigam os efeitos do aquecimento global”, salienta os investigadores que lideram do Atlantic Whale Deal.

Isto torna-se ainda mais relevante face à diminuição da população de baleias, devido à atividade baleeira industrializada, “resultando num declínio da biomassa das baleias de 85%”, diz o projeto.

O MARE-Madeira/ARDITI destaca que apesar de ter havido esforços no passado, “as tecnologias acústicas e baseadas na visão para detetar e localizar cetáceos na natureza permanecem em grande parte inexploradas e, em geral, ainda são ineficazes”, pelo que o Atlantic Whale Deal se propõe a investigar novos métodos para melhorar os sistemas existentes.

A isto junta-se a falta de conhecimento que ainda existe sobre a distribuição das baleias, que vai desde áreas de alimentação e reprodução, rotas de migração, etc.), sublinha o projeto.

Projeto reúne quatro países

Das 15 entidades envolvidas no projeto seis são de Portugal. O MARE-Madeira/ARDITI é a única entidade da Madeira. Da Área Metropolitana do Porto surge o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR).

O Algarve contribui com o Mar Ilimitado, Actividades na Natureza e no Mar, Lda.

Os Açores contribuem com três parceiros. Associação para o Desenvolvimento do Atlantic International Research Centre; Direção Regional de Políticas Marítimas; Atlânticoline SA.

Espanha conta com cinco entidades. Universidad de Las Palmas de Gran Canaria; Consorcio para el Diseno, Construccion, Equipamiento y Explotacion de la Plataforma Oceanica de Canarias; Asociación BDRI para el estudio y conservación de la biodiversidad marina; Universidad de La Laguna, e a Fred Olsen, S.A.

França tem dois parceiros associados ao projeto. La Rochelle Université (Observatoire PELAGIS); Centre National de la Recherche Scientifique – Délégation régionale Aquitaine (CNRS Délégation Aquitaine).

Da Irlanda chegam dois parceiros. University College Dublin (School of Biology and Environmental Science ) e o Irish Whale and Dolphin Group.

Está definido pelo Atlantic Whale Deal que os pilotos de tecnologias de deteção (WP1) serão liderados pela PLOCAN (Espanha), com a participação da ULPGC, ULL, ARDITI, CIIMAR, IWDG, AIR, DRPM e Parceiros Associados, e que os mapas de risco e a avaliação da contaminação acústica (WP2) serão liderados pelo CNRS (França).

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