O optimismo regressou em força aos mercados após o primeiro passo, em mais de um ano, no sentido de um acordo comercial entre os EUA e a China. Apesar de ainda faltar um mês para a assinatura de um acordo, os investidores começam a mostrar-se optimistas quanto a um entendimento entre as duas potências, talvez porque Donald Trump referiu expressamente que queria que os mercados subissem.

Esta menção clara aos mercados valida o que muitos analistas já sabiam, que Trump olha diariamente para o mercado financeiro e para o impacto deste nos seus eleitores. Perante um abrandamento da economia, patente nos últimos indicadores da indústria que apontam para uma recessão, Trump tirou do baralho a carta de um acordo faseado, que até então tinha estado de parte.

Este mudar de ideias teve somente a ver com dinheiro. Concretamente com aquele é o que sustenta o consumo, responsável por dois terços da economia americana, ainda para mais quando cerca de 52% dos americanos estão expostos ao mercado financeiro, através de acções, fundos de investimento ou planos de pensões.

Mas, ao adiar durante um ano o acordo comercial com a China, Trump conseguiu que a Fed não só deixasse de subir as taxas de juro, como estava previsto em 2018, como iniciasse um período de redução de taxas e reintroduzisse um programa de cedência de liquidez que irá estender-se até ao segundo trimestre de 2020, colocando mais 540 mil milhões de dólares na economia.

Resumindo, há muita estratégia por detrás das decisões de Trump, que tanto obtém ganhos para o investidor – que com o efeito riqueza da valorização dos mercados poderá gastar mais numa época chave para os retalhistas, o Natal – como também para os devedores, uma vez que a redução de taxas deixa mais rendimento disponível para as famílias.

Do lado europeu também o BCE iniciou a compra mensal de 20 mil milhões de euros em obrigações, sem limite temporal, contribuindo assim para um aumento da liquidez nos mercados.

Perante taxas de juro negativas na Europa, uma Fed pressionada a baixar taxas, a cedência de liquidez no mercado e a perspectiva de um plano de estímulos na China, os mercados de acções parecem ser o único refúgio para os investidores.

Apesar da volatilidade gerada pelos tweets ou pela incerteza económica, os investidores têm tido segurança, pois ninguém quer os mercados a baixar, nem chineses nem americanos (muito menos estes). Esta “segurança”, aliada a uma perspectiva de investimento de longo prazo, é o que poderá ajudar os investidores a sobreviver num mercado financeiro agora dominando por máquinas que tentam diariamente manipular a mente dos investidores, e forçá-los a perder.

O que importa é não perder a cabeça, nem perder de vista os objectivos de investimento, já que no fim tudo acaba em bem, ou seja, em máximos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.