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Medina, um ministro com perfil político. Da Praça do Município para o Terreiro do Paço distam 600 metros

Economista, o futuro ministro é originário do Porto, um ferrenho benfiquista, desde cedo ligado à política e com experiência governativa nos executivos de José Sócrates. Perdida a câmara de Lisboa para Moedas, integra agora o novo Governo de Costa, o seu mentor.
23 Março 2022, 20h05

É em 2005, com o primeiro executivo de Sócrates, que Fernando Medina ganha protagonismo: depois de ser eleito deputado, é chamado para o cargo de secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional. Com Vieira da Silva o ministro titular da pasta do Trabalho, Medina tornou-se o seu braço-direito, com o jovem economista a surgir então como um dos novos valores socialistas quatro anos apos ter entrado no PS pela mão de Guterres, de quem foi assessor para a educação, ciência e tecnologia.

Com PS a renovar a vitória nas legislativas, em 2009, mas sem maioria absoluta, Medina mantém-se no executivo, então como secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento. Alargou as suas áreas governativas, sendo novamente o número dois de Vieira da Silva, que então assume a pasta da Economia.

Eleito deputado em 2011 nas listas do PS de Sócrates foi vice-presidente do grupo parlamentar do PS. Durante esse período integrou a Comissão de Acompanhamento da Troika, representando a oposição socialista junto do Ministro das Finanças Vítor Gaspar.

Em 6 de abril de 2015, com António Costa a abandonar o mandato como presidente da Câmara de Lisboa — na sequência da sua eleição para secretário-geral do PS — Medina assumiu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa – uma subida pré-anunciada à presidência da câmara da capital desde que, em 2013, foi apresentado como o número dois da lista de António Costa à autarquia, onde se manteve até setembro do ano passado quando, contra todas as sondagens, perdeu as eleições para Carlos Moedas.

Com Medina fora da autarquia de Lisboa, o então ministro das Infraestruturas e da Habitação apressou-se a reconhecer que a perda da maior câmara do país não determina o futuro político de Fernando Medina, tendo Pedro Nuno Santos salientado que “Fernando Medina é um dos melhores quadros políticos do país”. Já na reta final do ano passado surgiam as primeiras notícias que se o PS ganhasse as eleições de 30 de janeiros legislativas, António Costa queria ter nas Finanças um ministro com perfil político, sinalizando Medina como o preferido. Surgiam também os primeiros sinais de mais mudanças num futuro governo PS com Costa a defender, no início de dezembro, um futuro executivo dinâmico, “com uma equipa mais curta, renovada, ágil”.

As primeiras notícias davam, assim, conta de que o primeiro-ministro queria nas Finanças alguém com experiência governativa com Medina a aparecer no topo da lista. Um cenário corroborado por fontes socialistas que davam como certa a substituição de João Leão por Fernando Medina, por razões pessoais, mas também por um crescendo de tensão com os titulares de outras pastas.

Focado no equilíbrio das contas públicas e no controle da despesa pública, Leão tem sido foco de atritos com outros membros do Governo, nomeadamente com Alexandra Leitão que no último OE aprovado em Conselho de Ministros se insurgiu contra limitar os aumentos da Função Pública apenas para os ordenados mais baixos, atirando a atualização de todos os salários para 2023. Ou acontecimentos marcados por palavras recentes de Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, que deixou críticas ao colega das Finanças ao lançar farpas, em setembro, a Leão devido à CP: “Se dependesse de mim, estava resolvido” – a propósito

Em entrevista à RTP3, no início de fevereiro, Medina manifestou-se disponível para o partido – foi eleito deputado –, mas não esclareceu se iria fazer parte do Governo que terá agora em mãos a elaboração da proposta de Orçamento do Estado para 2022, e num curto espaço de tempo. Será o primeiro teste ao novo ministro das Finanças, e também aqui o perfil de Fernando Medina é um trunfo devido à sua experiência governativa para pôr a máquina das Finanças em particular, a trabalhar assim que tome posse. Na “Grande Entrevista”, na RTP3, sinalizou já que “a redução da dívida pública portuguesa “deve ser um dos focos do Governo”, reiterando o objetivo de alcançar o valor de 110% sobre o produto, e que as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “vão ter impacto no nosso crescimento e no emprego e vão ser visíveis logo no final do ano”.

Não é a primeira vez que a hipótese de assumir a pasta das Finanças é avançada para o ex-autarca de Lisboa ocupa o quinto lugar na lista de candidatos do PS pela capital. Também em 2019, quando Mário Centeno deixou a pasta, o nome de Medina surgiu como o sucessor, tendo na altura considerado essa possibilidade “bizarra”. Com Medina apontado agora como ministro, há socialistas que se apressam a concluir que Costa que aproveitar a próxima legislatura para criar alternativas dentro do PS à afirmação de Pedro Nuno Santos como seu sucessor.

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