Jair Bolsonaro decidiu nomear um general na reserva para chefiar a Petrobras, o que provocou uma onda de vendas nas ações da petrolífera e na generalidade dos ativos brasileiros.

Compreensivelmente, o mercado não apreciou o sinal dado pela presidência de colocar Joaquim Silva e Luna, militar sem experiência no setor, à frente da segunda maior empresa do Brasil e castigou as ações da empresa com uma perda de 20% num só dia. Teme-se que a gestão possa ser cada vez mais influenciada por fatores políticos do que técnicos e que a tentação de nomear apenas com base na confiança política e pessoal possa alastrar a outras empresas públicas.

Esse seria um caminho contrário àquilo que se esperava de um percurso mais reformador e liberal. Paulo Guedes, o ministro da Economia, não terá apreciado esta decisão e o presidente já sentiu necessidade de o adular, elogiando-o em público dois dias depois. A decisão de cooptar um militar para a Petrobras coloca dúvidas acerca da capacidade e vontade de Bolsonaro modernizar a economia e as instituições brasileiras.

Em defesa de Bolsonaro, reconheça-se que Roberto Castello Branco, o anterior líder da Petrobras, foi também nomeado politicamente por Dilma Rousseff quando não tinha experiência relevante na indústria. E, por outro lado, o Planalto está com um problema difícil de gerir:  não só a situação económica – que era promissora no início de 2020 – complicou-se de forma significativa com a pandemia, como agora se depara com uma subida da inflação e muito em concreto do preço dos combustíveis, ligada à alta do petróleo.

Bolsonaro sentiu necessidade de defender a sua base eleitoral, recorrendo ao “truque” de tentar dar a aparência de colocar ordem na casa, mas se repetir a graça, o mercado não irá certamente perdoar.